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    GORAKSHA

    PADDHATIaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

    Texto Extrado do Livro:

    A Tradio do Yoga Histria, Literatura, Filosofia e Prtica.

    Traduo e Comentrios Por:

    Georg Feuerstein

    Estude mais em:http://yogaestudoscomplementares.blogspot.com/

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    GORAKSHA-PADDHATI

    A importncia do Goraksha-Paddhati ("Rastros de Goraksha") pode ser medida pelofato de que muitos dos seus versculos acham-se dispersos pelos textos posterioresde Hatha-Yoga. No provvel, porm, que tenha sido escrito pelo prprioGoraksha, pois seus conceitos e sua linguagem encaixam-se mais nos sculos XIIou XIII do que no sculo X. O texto agora traduzido na ntegra pela primeira vez,a partir da edio em snscrito de Khemarja Shrikrishnadsa (Bombaim).

    Georg Feuerstein

    PARTE I

    1.1: Prostrando-se perante o abenoado dintha - seu prprio mestre, Hari, sbioe yogin -, Mahidhara forcejou por apresentar um comentrio doutrina (shstra)de Goraksha, que proporciona o reto entendimento do Yoga.

    Comentrio: Este versculo de abertura deve ser uma interpolao, pois noterceiro versculo o autor identificado como Goraksha. O nome Mahdhara, que

    significa "Sustentador da Terra", pode referir-se ao famoso mestre de Yoga dosculo XVI que escreveu o Mantra-Mahodadhi junto com o comentrio a essemesmo texto, a Nauk. A literatura do Hatha-Yoga cheia de incongruncias emuitos textos contm fragmentos de outros escritos.

    1.2: Venero o mestre bendito, a bem-aventurana suprema (parama-nanda) que uma encarnao da bem-aventurana intrnseca (sva-nanda) e cuja simplesproximidade basta para que [meu] corpo fique feliz e consciente.

    Comentrio:A tradio afirma em unssono que o mestre de Goraksha foiMatsyendra. Neste versculo, ele equiparado bem-aventurana sem mistura daRealidade suprema, a menos que interpretemos parama-nanda como o nome

    prprio de um outro indivduo, que no Matsyendra.

    1.3: Saudando devotamente seu mestre como suma sabedoria, Goraksha expe oque se deve fazer para provocar a suprema bem-aventurana nos yogins.

    1.4: Desejoso de fazer o bem aos yogins, manifesta ele o Goraksha-Samhit. Quemo compreender chegar sem dvida ao Estado supremo.

    1.5: ele uma escada que leva libertao, um [meio de] enganar a morte, pelaqual a mente afastada dos prazeres (bhoga) e vinculada ao Si Mesmotranscendente (parama-tman).

    1.6: Os melhores dentre os melhores recorrem ao Yoga, que o fruto da rvore darevelao (shruti) que atende a todos os desejos, cujos ramos abrigam os nascidosduas vezes, que pacifica as tribulaes da existncia. (1.6)

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    Comentrio: Temos neste versculo um jogo com a palavra dvija, que significa"nascido duas vezes" e "pssaro". Os nascidos duas vezes so os que receberamdevidamente o cordo sagrado e tm o direito de estudar as Escrituras reveladas. semelhana de pssaros, eles repousam nos ramos do conhecimento vdico ealimentam-se do fruto delicioso da sabedoria perene.

    1.7: Afirmam eles que os seis membros do Yoga so a postura, a conteno darespirao (prna-samrodha), o recolhimento dos sentidos, a concentrao, ameditao e o xtase.

    1.8: Existem tantas posturas quantas so as espcies de seres. [S] Maheshvara[i.e., Shiva] conheece-lhes toda a variedade.1.9: Das 840.000, mencionou-se uma para cada [10.000]. Assim, criou Shivaoitenta e quatro assentos (ptha) [para os yogins].

    1.10: Dentre todas as posturas, duas so especiais. A primeira chamada apostura do heri (siddha-sana) e a segunda a postura do ltus (kamala-sana).

    1.11: [O yogin] deve pr firmemente um calcanhar [i.e., o esquerdo] junto aoperneo (yoni-sthna) e o outro sobre o pnis, encostando o queixo no peito(hridaya). Contendo os sentidos como um tronco de rvore, deve dirigir fixamenteo olhar para o [terceiro olho] entre as sobrancelhas. Esta chamada a postura doheri, que abre as portas da libertao.

    1.12: Colocando a perna direita sobre a [coxa] esquerda e a [perna] esquerdasobre a [coxa] direita, segurando com fora os dedes dos ps com as moscruzadas por trs das costas, juntando o queixo ao peito, deve ele fixar o olhar naponta do nariz. Esta chamada a postura do ltus [baddha ou "travada"]' queelimina doenas de vrias espcies.

    1.13: Como podem chegar a bom xito os yogins que no conhecem as seis rodas,os dezesseis apoios ou suportes, os 300.000 [canais] e os cinco teres/espaos noprprio corpo?

    Comentrio:As seis "rodas" ou centros psicoenergticos (shat-cakra) so osfamosos mldhra (na base da coluna), svadhishthna (nos rgos genitais),manipra (no umbigo), anhata (no corao), vishuddha (na garganta) e jn (nomeio da cabea). O Siddha-Siddhnta-Paddhati (2.10) menciona os seguintesdezesseis suportes (shodasha-dhra; escreve-se shodashdhra): os dois dedesdos ps, o perneo (mla), o nus, o pnis, o baixo abdmen (udyna), o umbigo, ocorao, a garganta, o "sino" (ghantik, que corresponde vula), o cu da boca, alngua, o ponto mdio entre as sobrancelhas, o nariz, a base do nariz e a testa. Os300.000 canais (nd) que tecem o corpo sutil so os dutos da fora vital. Dentreeles, os mais importantes so o canal central (sushumn), o canal lunar (id) e ocanal solar (pingal). Os cinco teres ou espaos (vyoman) so outras tantas

    percepes vogues do espao da conscincia.

    1.14: Como podem chegar ao sucesso os yogins que no sabem que seu corpo uma morada de um nico pilar como nove aberturas e cinco divindades(adhidaivata)?

    Comentrio:O pilar nico o tronco e as nove aberturas so os olhos, os ouvidos,as narinas, a boca, o nus e a uretra. As cinco divindades so os cinco sentidos.

    1.15: O "apoio" [i.e., o ltus muldhra na base da coluna] tem quatro ptalas. Osvdhishthana tem seis ptalas. No Umbigo h um ltus de dez ptalas e, no

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    corao, [um ltus que tem tantas] ptalas quantos so os [meses] solares, [i.e.,doze].

    1.16: Na garganta h um [ltus] de dezesseis ptalas e, entre as sobrancelhas, um[ltus] de duas ptalas. Na fissura de Brahma (brahma-randhra), no grandecaminho, [h um ltus] chamado "das mil ptalas".

    1.17: O "apoio" (dhra) o primeiro centro; svdhishthana o segundo. Entreeles fica o perneo, chamado kma-rupa.

    Comentrio: O nome kma-rupa significa literalmente "formado de desejo". tambm a denominao de uma certa regio geogrfica famosa pela intensidade da

    prtica e do estudo do Tantra, identificada como o Assam. No corpo humano, essenome tambm designa um lugar sagrado, um ponto de poder, que abriga em sitanto o potencial de libertao quanto o de auto-destruio.

    1.18: O ltus de quatro ptalas chamado "apoio" fica no lugar do nus (guda-sthna). Afirma-se que no meio dele fica o "tero" (yoni) que os adeptos

    reverenciam sob o nome de desejo (kma).

    Comentrio: O termo tcnico yoni pode significar tanto o perneo quanto umaestrutura energtica esotrica associada kundalin. Neste ltimo caso, o "tero"que recebe o falo ou o smbolo (linga) de Shiva, como afirma o versculo seguinte.

    1.19: No meio do "tero" fica o grande falo ou smbolo [de Shiva], voltado paratrs. Aquele que conhece o disco que, na cabea deste [falo], como uma jia[brilhante], um conhecedor do Yoga.

    Comentrio: Yoni e linga representam respectivamente Shakti e Shiva. Osimbolismo sexual oculta uma majestosa realidade csmica: a eterna interao

    entre o poder feminino e a conscincia masculina, que esto sempre unidos nonvel transcendente mas parecem separados no nvel emprico. O disco ou espelholuminoso (bimba) mencionado neste versculo representado como atado "cabea" (mastaka) do falo simblico de Shiva. Provavelmente significa aluminosidade intrnseca do linga, que se reflete sobre ele mesmo - um sinal da

    perfeita autonomia de Shiva.

    1.20: Abaixo do pnis fica a triangular cidade do fogo, fulgurante como o raio esemelhante ao ouro derretido.

    1.21: Quando, [imerso] no grande Yoga, no xtase, [o yogin] vislumbra a Luzsuprema, infinita e onipresente, [j] no sofre do ir e vir [i.e., nascimentos emortes no mundo finito].

    1.22: A fora vital desperta com o som sva. O local de repouso dessa [fora vital] o svdhishthna [cakra]. Desse local o pnis, chamado svdhishthna, tira seunome.

    1.23: O local onde o "bulbo" (kanda) afixa-se sushumn [i.e., ao canal central]como uma prola num fio chamado manipuraka-cakra.

    1.24: Enquanto a psique (jva) vagar pela grande roda de doze raios [no corao],que livre do mrito (punya) e do demrito (ppa), no poder encontrar aRealidade.

    Comentrio:Afirma-se que a psique, a conscincia individuada, vaga inquietapelas ptalas do ltus do corao, movida pelo prprio karma e agrilhoada pela

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    1.39: Movida por prna e apna, a psique sobe e desce pelos canais da esquerda eda direita, [muito embora] no possa ser vista em virtude da sua mobilidade.

    1.40: Assim como o falco amarrado por um fio pode ser trazido de volta depois delevantar vo, assim tambm a psique, amarrada pelas qualidades (guna) [da

    Natureza], pode ser trazida de volta por meio [do controle] de prna e apna.

    1.41: Apna puxa o prna e o prna puxa apna. [Essas duas formas da fora vital]situam-se [respectivamente] acima e abaixo [do umbigo]. O conhecedor do Yogaune a ambas [para despertar o poder da serpente].

    1.42: [A psique] sai [do corpo] com o som ham e entra de novo nele com o somsa. A psique recita continuamente o mantra "hamsa hamsa".

    Comentrio: Essa recitao natural e espontnea causada pela sucesso dainspirao e da expirao, chamada ajapa-gyatri. Quando o yogin empreendeconscientemente essa recitao, hamsa hamsa hamsa converte-se no mantra

    "so'ham so'ham so'ham", que significa "Eu sou Ele; Eu sou Ele; Eu sou Ele".

    1.43: A psique recita continuamente esse manta 21.600 vezes a cada dia e noite.

    1.44: O gyatr [-mantra] chamado ajapa d a libertao aos yogins, e pelo simplesdesejo [de recit-lo] o homem liberto de todos os pecados.

    1.45: Um conhecimento como este, uma recitao (japa) como esta e umasabedoria como esta no existiram [antes] nem jamais existiro [novamente].

    1.46: o vivificante gyatr nasce da kundalin. Quem detm o conhecimento dafora vital, da grande de cincia, um conhecedor dos Vedas.

    Comentrio:A cincia vogue da respirao ou da fora vital apresentada aquicomo a quinta essncia da revelao vdica. Isso no est muito longe da verdade,

    pois o controle da respirao associado conteno da mente foram a mais antigaforma de Yoga, praticada j nos tempos vdicos. Eram elementos fundamentais dosritos vdicos, especialmente no que diz respeito disciplina de cantar os hinossagrados.

    1.47: O poder da kundalini, enrodilhada em oito anis, reside perpetuamente acimado "bulbo, fechando com a face a abertura do "portal de Brahma" (Brahma-dvra).

    Comentrio: Os oito anis do poder da serpente recebem, no Yoga-Vishaya, osseguintes nomes: pranav, guda-nl, nalin, sarpin, vanka-nl, kshay, shaur ekundal.

    1.48: por esse portal que se deve passar para chegar-se ao estado do Absolutoque est alm de todo o mal, [mas] Parameshvar est adormecida, cobrindo oportal com sua face.

    1.49: [Quando a kundalin] despertada por meio do buddhi-yoga associado mente e respirao (marut), sobe pela sushumn como uma agulha puxando umfio.

    Comentrio: O termo buddhi-yoga significa o exerccio disciplinado da mentesuperior (buddhi), pelo qual a mente inferior (manas) torna-se dcil o suficiente

    para que a ateno se vincule ao movimento da fora vital ou da respirao. Pela

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    ao combinada desses fatores, a kundal adormecida acaba por despertar e por serguindada aos poucos ao longo do eixo da coluna at chegar ao cakra coronrio.

    1.50: [Quando a kundalin] - que tem a forma de uma serpente adormecida e esplndida como a fibra do ltus - despertada pelo vahni-yoga, sobe pelasushumn.

    Comentrio:O composto vahni-yoga, ou "Yoga do fogo", refere-se combustocriada pela unio da mente (isto , da ateno) com a fora vital (isto , arespirao). o equivalente fisiolgico do buddhi-yoga.

    1.51: Assim como um homem, com fora, abre uma porta usando a chave, assimtambm o yogin deve escancarar as portas da libertao por meio da kundalin.

    Comentrio:Temos aqui um jogo com a palavra hatha ("fora"), que, no ablativohatht significa " fora" ou "com fora". O processo da kundalin quintessencialno Hatha-Yoga, que o Yoga da fora.

    1.52: Com as mos firmemente postas em concha, sentando-se na postura doltus, encostando com fora o queixo ao peito e [praticando] a meditao na mente(cetas), deve ele expelir repetidamente o ar apna para cima, depois de terpreenchido [com ele o peito]. [Assim], ao libertar a fora vital, ele adquire umconhecimento (bodha) inigualvel por meio do despertar do poder (shakti).

    1.53: Deve esfregar seus membros com o lquido [i.e., o suor] produzido peloesforo. Deve tomar leite e abster-se de [alimentos] amargos, azedos e salgados.

    1.54: Aquele que pratica [este tipo de] Yoga deve ser celibatrio (brahmacrin) edeve praticar a renncia (tygin), vivendo de uma alimentao simples (mita-hrin). Tornar-se- um adepto ao cabo de um ano. Quanto a isto no se deve ter

    a menor dvida.Comentrio: Enquanto se dedicam ao rduo processo da kundalin, os yogins

    precisam tomar muito cuidado com a alimentao. No se recomendam nem ojejum nem os excessos no comer.

    1.55: Aquele que consome alimentos doces e ricos em leo, saboreando-lhes ogosto e deixando uma quarta parte, chamado um homem que se alimentasimplesmente (mita-hrin).

    Comentrio: A recomendao tradicional que se encham duas partes doestmago com alimento e uma com gua, deixando vazia a quarta parte. Alis, umquarto da comida deve ser oferecido s divindades e aos antepassados antes darefeio.

    1.56: Aquele que conhece a kundalin-shakti [situada] acima do "bulbo", queconcede a esplndida libertao mas [ causa de maior] servido para os tolos, um conhecedor dos Vedas.

    Comentrio:O poder da serpente uma faca de dois gumes. Para os praticantessbios, d por fim o fruto da libertao; mas, para os outros, s faz com que seaprofunde o seu envolvimento ignorante com o doloroso ciclo da existncia(samsra).

    1.57: Participa da libertao o yogin que conhece o mah-mudr, o nabho-mudr,

    o uddyna[-bandha], o jlandhara [-bandha] e o mla-bandha.

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    1.58: Unindo o queixo ao peito, pressionando sempre o calcanhar esquerdo contrao perneo (yoni) e segurando com as mos o p direito estendido frente, [oyogin], depois de inalar o ar e cont-lo nos dois lados do peito, deve exal-lo aospoucos. Afirma-se que este grande selo [i.e., mah-mudr] elimina as doenas daspessoas.

    Comentrio:A expresso kakshi-yugalam, traduzida aqui por "nos dois lados dopeito", corresponde sensao de encher os pulmes ao mximo de modo que acaixa torcica se expanda.

    1.59: Depois de praticar [o mah-mudr] com a parte lunar [i.e., a narinaesquerda], deve ele pratic-lo com a parte solar [i.e., a narina direita]. Deve sairda posio deste selo depois de chegar a um nmero igual [de repeties].

    1.60: [Para o adepto que chegou a bom xito na prtica do mah-mudr] no hmais [alimentos] adequados e inadequados. Todos os sabores, com efeito, perdemo sabor. At mesmo um veneno virulento, quando ingerido, digerido como se

    fosse nctar (pysha).

    1.61: [Todas] as doenas so eliminadas para o praticante do mah-mudr,especialmente a tuberculose, a lepra, a constipao, o inchao do abdmen e adecrepitude.

    1.62: Este mah-mudr que descrevemos proporciona s pessoas grandesrealizaes. Deve ser conservado com o mximo zelo e no deve ser revelado aningum.

    Comentrio:A expresso mah-siddhi, traduzida aqui por "grandes realizaes",pode ser entendida tambm no singular como a Realizao por excelncia, a

    libertao. Pode, por outro lado, ser uma referncia aos oito grandes poderesparanormais tradicionalmente atribudos aos adeptos plenamente realizados.

    1.63: o khecr-mudr consiste em virar a lngua para trs e encaix-la no oco docrnio, fixando-se entrementes o olhar entre as sobrancelhas.

    1.64: o conhecedor do khecr-mudr no sofrer o sono, nem a fome, nem a sede,nem o desfalecimento, nem a morte por motivo de doena.

    1.65: o conhecedor do khecr-mudr no ser atormentado pela tristeza, nemmaculado pelas aes [ou pelo karma], nem agrilhoado por coisa alguma.

    1.66: Porque a lngua toma a forma do khecr, a mente (citta) no se move. Poristo, o khecr perfeito adorado por todos os adeptos.

    1.67: o smen (bindu) a raiz de [todos os] corpos dotados de veias [i.e., decanais da fora vital]. Elas constituem [todas] as veias [i.e., de canais da foravital]. Elas constituem [todos] os corpos, da cabea s solas dos ps.

    1.68: o smen no se perde para aquele que [penetra] a cavidade acima da vulapor meio do khecr-mudr, [mesmo que ele seja] abraado por uma mulher.

    Comentrio:Pelo domnio do khecr-mudr, o yogin pode dedicar-se atividadesexual sem correr o risco da ejaculao, que tradicionalmente evitada poracarretar o esgotamento da energia vital (ojas).

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    1.69: Enquanto o smen permanecer no corpo, quem ter medo da morte?Enquanto se conserva o nabho-mudr, o smen no desperta. (1.69)

    Comentrio: O nabho-mudr o mesmo que o khecr-mudr. A palavra nabhas sinnimo do kha de khecr; ambas significam "ter" ou "espao".

    1.70: Mesmo que o smen caia no [tero feminino] que "consome os sacrifcios"(huta-shana), ele recuperado e volta ao seu lugar de origem quando contidopelo poder do yoni-mudr.

    Comentrio: O yoni-mudr consiste numa determinada forma de contrair operneo.

    1.71: Alm disso, h duas espcies de smen: o branco e o vermelho. O branco chamado shukra, ao passo que o vermelho chamado mah-rajas.

    Comentrio: O shukra, o branco, o smen do homem, e o mah-rajas, overmelho, a secreo vaginal da mulher, s vezes confundida (erroneamente)

    com o sangue da menstruao.

    1.72: O rajas localiza-se na regio do umbigo e assemelha-se a um lquidovermelho. O bindu localiza-se na regio da lua [i.e., no cu da boca]. difcil uniros dois.

    Comentrio:Este versculo deixa claro que, do ponto de vista yogue, o bindu no somente o esperma produzido nos testculos, assim como o rajas no somentea secreo genital feminina. Ambos tm tambm os seus aspectos energticos.

    Assim, o rajas associado ao elemento solar situado no abdmen e o bindu, aoelemento lunar localizado na cabea.

    1.73: O bindu Shiva; o rajas Shakti. O bindu a lua; o rajas o sol. Somentepela unio dos dois chega [o yogin] ao Estado supremo.

    1.74: Quando o rajas ativado pelo estmulo do poder [da kundalin] atravs darespirao (vyu), alcana ele a unio com o bindu, e com isso o corpo se diviniza.

    Comentrio:A criao de um corpo divino (divya-deha), dotado de todos osgrandes poderes paranormais, o objetivo do Hatha-Yoga. Este versculo resume o

    processo esotrico pelo qual esse fim alcanado.

    1.75: O shukra est ligado lua; o rajas est ligado ao sol. Aquele que conhece aunidade intrnseca dos dois um conhecedor do Yoga.

    Comentrio: A expresso samarasa-ekatva (escreve-se samarasaikatva),traduzida aqui por "unidade intrnseca", refere-se fuso dos aspectos energticosdos dois tipos de smen - o masculino e o feminino. Samarasa um conceito muitoimportante no Tantrismo e no Hatha-Yoga. Significa a realizao da identidadefundamental de todas as coisas diferenciadas, ou seja, a no-dualidade nadualidade.

    1.76: purificao da rede (jla) de canais e ao despertar do sol e da lua, bemcomo ao esgotamennto dos lquidos [corpreos nocivos], chama-se maha-mudr.

    Comentrio:A transformao qual o hatha-yogin aspira exige uma reformulaototal da qumica do corpo. Os rasas ou lquidos mencionados neste versculo so,

    provavelmente, fluidos corpreos que padecem de um desequilbrio qumico.

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    1.77: Assim como um grande pssaro no se cansa ao levantar vo, assim tambmesta [prtica do] uddyna[-bandha] transforma-se num leo perante o elefante damorte.

    Comentrio: Esta metfora pitoresca baseia-se na assonncia entre o uddna

    ("levantar vo) do pssaro e o uddyna ("pairar") do yogin, que consiste emcontrair fortemente o abdmen para dentro de modo a conduzir o ar ou a fora vital

    para cima e fazer jva voar como um pssaro. Afirma-se que esta tcnica vogue capaz de vencer a morte, do mesmo modo que o leo capaz de matar umelefante muito maior do que ele.

    1.78: Esta trava ascendente (uddyna-bandha) [feita] abaixo do umbigo e nametade posterior do abdmen. A se diz que a trava [ aplicada].

    1.79: A jlandhara-bandha [ou trava da garganta] bloqueia a rede de condutos(shiras) de modo que gua do cu [i.e., o nctar produzido pelo ncleo secreto dacabea] no caia [no abdmen]. Por isso, [essa prtica] elimina um sem-nmero de

    males da garganta.

    1.80: Quando se executa o jlandhara-bandha, caracterizada pela constrio[deliberada] da garganta, o nctar no cai no fogo e o ar no se agita.

    1.81: Pressionando o calcanhar esquerdo contra o perneo, [o yogin] deve contrairo nus enquanto puxa para cima a [fora] apna. [Assim] se deve executar a"trava da raiz" (mula-bandha).

    1.82: Com a unificao de prna e apna, reduz-se a quantidade de urina e defezes. Mesmo que seja velho, ele fica de novo jovem pela [prtica] constante datrava da raiz.

    1.83: Sentando-se na posio do ltus, mantendo eretos o corpo e a cabea efixando o olhar na ponta do nariz, deve ele recitar na solido (eknta) o imperecvelsom om.

    1.84: A Luz suprema om, em cujas mnimas unidades fonticas (mtr) residemas divindade da lua, do sol e do fogo, [bem como] os graus da manifestao[simbolizados pelas palavras] bhh, bhuvah e svah.

    Comentrio:A slaba sagrada om simboliza o Absoluto, mas os elementos que aconstituem (a, u e m) representam os chamados trs mundos (loka), representados

    pelas palavras bhh, bhuvah e svah, que so respectivamente a terra, a atmosferae o cu.

    1.85: A Luz suprema om, onde residem os trs tempos [i.e., o passado, opresente e o futuro], os trs Vedas [i.e., o Rig-Veda, o Yajur-Veda e o Sma-Veda],os trs mundos, as trs entoaes (svara) e as trs divindades [i.e., Shiva, Vishnue Brahma?].

    1.86: A Luz suprema om, onde reside o trplice poder (shakti) [que se manifestaem] ao, vontade e sabedoria, ou brhm, raudr e vaishnav.

    Comentrio: O aspecto feminino da Divindade, significado pelo termo shakti,compreenderia trs funes: a ao criadora (kriy), a vontade criadora (icch) e asabedoria criadora (jnna). Essas trs funes tambm so designadas pelas

    formas adjetivais dos nomes das trs grandes divindades: Brahma, Rudra (ou seja,Shiva) e Vishnu.

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    1.87: A Luz suprema om, onde residem as trs unidades fonticas, a saber, aslaba a, a slaba u e a slaba m, chamada de "ponto seminal" (bindu).

    1.88: A Luz suprema om. Deve ele recitar em palavras sua slaba-semente (bja),pratic-la com o corpo e record-la com a mente. (1.88)

    1.89: Aquele que recitar constantemente o pranava, quer seja puro ou impuro, noser maculado pelo pecado, assim como a folha de ltus [no tocada] pela gua.

    1.90: Quando o "vento" se move, move-se tambm o smen. Quando no semove, tampouco se move [o smen]. [Se] o yogin [quiser] desenvolver o poder daabsoluta imobilidade (sthnutva), dever conter o "vento" [i.e., a respirao/foravital].

    1.91: Enquanto o "vento" permanece no corpo, a psique no se liberta. A sada dele[provoca] a morte. Por isso, deve ele conter o "vento".

    1.92: Enquanto o ar fica contido no corpo, a mente permanece livre do mal.Enquanto o olhar [for habilmente fixado] entre as sobrancelhas, quem ter medoda morte?

    1.93: Portanto, por medo da morte, [at] Brahma dedica-se diligentemente aocontrole da respirao, como o fazem tambm os yogins e os sbios. Por isso,deve-se conter o "vento".

    1.94: Pelos caminhos da esquerda e da direita [i.e., as narinas], hamsa avana(prayna) [a uma distncia de] trinta e seis dedos para fora [do corpo], e por issose chama prna.

    1.95: Quando toda a rede de canais, cheios de impurezas, por fim purificada, oyogin torna-se capaz de controlar (samgrahana) a fora vital.

    1.96: o yogin [colocado] na postura travada do ltus deve preencher-se de foravital pela [narina] lunar e, depois de cont-la segundo a sua capacidade, deveexpeli-la de novo pela [narina] solar.

    1.97: Meditando no disco lunar, no nctar que se assemelha- coalhada, ao leitede vaca ou prata, o praticante do controle da respirao deve alegrar-se.

    Comentrio: O texto usa a palavra prnymin para designar o praticante doprnyma. O disco (bimba) lunar visualizado na cabea, no local de ondepromana o nctar da imortalidade, acima do cu da boca.

    1.98: Aspirando o ar (shvsa) pela [narina] direita, deve ele preencher aos poucoso abdmen. Depois de ret-la segundo as regras, deve expeli-la pela [narina] lunar.

    1.99: Meditando no disco solar, que um cogulo de chamas ardentes e brilhanteslocalizado no umbigo, o praticante do controle da respirao deve alegrar-se.

    1.100: Quando a respirao filtrada por id [i.e., pela narina esquerda], ele deveespeli-la de volta pela outra [narina]. Aspirando o ar pela pingal [i.e., pela narinadireita], deve ele, depois de ret-lo, expir-lo pela [narina] esquerda. Pelameditao nos dois discos o solar e o lunar -, sempre segundo as regras, toda amultido dos canais se purifica ao cabo de trs meses.

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    1.101: Pela purificao dos canais, [o yogin] obtm a sade, a manifestao dosom [sutil interior] (nada), [a capacidade de] conter o vento de modo apreencher totalmente os pulmes e a ignio do fogo [interior].

    Comentrio:O fogo interior (anala) [e o calor abdominal (udra-agni escreve-seudrgni), que essencial para o processo de despertar o poder da serpente.

    PARTE II

    2.1: Pela conteno da expirao (apna), o ar, a fora vital (prna) permanece nocorpo. Com uma nica respirao, [o yogin] deve abrir o caminho que leva ao

    "espao" (gagana) [no topo da cabea].

    Comentrio:A fora vital (prna) manifesta-se no corpo humano sob cincoaspectos funcionais, dos quais apna e prna so os que principalmente constituemo motor da nossa vida psicofsica. O primeiro est ligado expirao, o segundo inspirao. Ao imobilizar a fora vital exteriorizante, o yogin acumula a energia

    prnica no corpo; esta, quando adequadamente direcionada, pode escancarar aporta que se oculta no topo da cabea. ento que a fora vital individuada rene-se fora vital csmica.

    2.2: A exalao, a inalao e a reteno [yogues] tm a natureza do "murmrio"(pranava) [i.e., a sagrada slaba om]. O controle da respirao trplice e tem doze

    medidas (mtr).Comentrio:No Hatha-Yoga, o controle da respirao freqentemente se associa

    prtica da recitao de om, recitao essa que contada em "medidas". A mtr uma unidade de tempo, definida de vrias maneiras. Assim, o Brihad-Yogi-Yjnavalkya-Smriti (8.112) explica-a como o tempo necessrio para estalar osdedos trs vezes, passar a mo em roda sobre o joelho uma vez e bater palmastrs vezes. Neste texto, a mtr identificada durao do prprio som om - quedura alguns segundos.

    2.3: O sol e a lua [internos] esto ligados s doze medidas; no so presos redede defeitos (dosha). O yogin deve sempre conhecer [esses dois princpios].

    Comentrio: O corpo humano um espelho do conjunto da realidademacrocsmica. "O que est embaixo como o que est em cima." Portanto,tambm h um sol e uma lua dentro do corpo. Afirma-se que o primeiro localiza-sena regio do umbigo e a segunda, na cabea.

    2.4: Durante a inalao, deve ele executar doze medidas [da slaba om]. Durante areteno, deve executar dezesseis medidas e, durante a exalao, dez sons om. Aisso se chama de "controle da respirao" (prnyma).

    2.5: No [estgio] inicial [do controle da respirao devem-se executar] dozemedidas; no [estgio] intermedirio, duas vezes isso; e no [estgio] superior,prescreve-se trs vezes isso. Tal a qualificao do controle da respirao.

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    2.6: No [estgio] inferior, a "substncia" (dharma) [i.e., o suor] forada a sair;no [estgio] intermedirio, ocorrem tremores; no [estgio] superior, o yogin seeleva [do cho]. Por isso, deve ele conter [cuidadosamente] o ar (vyu).

    2.7: o yogin, [sentado na] postura travada do ltus, prestando homenagem aomestre e a Shiva, deve praticar o controle da respirao na solido (eknta),

    fixando o olhar no meio das sobrancelhas.

    Comentrio:A postura do ltus travada (baddha-padma-sana) consiste emsentar-se na postura do ltus comum, cruzar os braos por trs das costas esegurar com as mos os dedos dos ps.

    2.8: Trazendo para cima o ar apna, deve ele uni-lo ao prna. Quando apna conduzido para cima junto com o poder [da kundalin], libera-se o yogin de todosos pecados.

    2.9: Fechando os nove portais (dvra) [i.e., os orifcios do corpo], inalando o ar econtendo-o firmemente, conduzindo-o ao "espao interior" (ksha) [do corao?]

    junto com o apna e o fogo (vahni) [abdominal], despertando o poder [dakundalin] e colocando-o na cabea - seguindo esta regra, enquanto [o yogin] unido morada do Si Mesmo [no topo da cabea] assim permanecer, sercertissimamente louvado pela multido dos grandes seres.

    Comentrio:O processo de despertar da kundalin normalmente descrito comouma ao conjunta do prna, do apna e do fogo abdominal. Juntos, eles geramenergia em quantidade suficiente para acordar a kundalin que jaz adormecida nabase da coluna.

    2.10: Portanto, o controle da respirao um fogo [que se alimenta] docombustvel das transgresses (ptaka). Os yogins sempre chamam-no de "a

    grande ponte" [que cruza] o oceano da existncia [condicionada].Comentrio:Desde a poca dos Brhmanas, o controle da respirao foi exaltadocomo o meio por excelncia atravs do qual se podem consumir os depsitoskrmicos resultantes dos pensamentos e aes demeritrios.

    2.11: Atravs da postura, eliminam-se as doenas; atravs do controle darespirao, [expiam-se] as transgresses; atravs do recolhimento dos sentidos, oyogin se liberta de [todas as] modificaes (vikra) mentais.

    2.12: O amor pela concentrao [causa] a estabilidade (dhairya); atravs dameditao, [o yogin obtm um [estado de] conscincia maravilhoso. No [estado de]xtase (samdhi), lanando fora o karma propcio e nefasto, ele alcana alibertao.

    2.13: Diz-se que o recolhimento dos sentidos [ocorre] depois de duas vezes seiscontroles da respirao; afirma-se que a concentrao auspiciosa [ocorre] depoisde duas vezes seis recolhimento dos sentidos.

    2.14: Os especialistas em meditao asseveram que a meditao so dozeconcentraes. Afirma-se ainda que o xtase (samdhi) [ocorre] ao cabo de dozemeditaes.

    2.15: Quando se contempla nesse xtase a suprema Luz - infinita, irradiando-se emtodas as direes -, j no h atividade nem karma passado ou presente.

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    2.16: Tendo-se colocado na postura com o pnis [entre] os dois calcanhares,fechando com os dedos os orifcios dos olhos, dos ouvidos e das vias nasais,inalando o ar pela boca e contemplando [o prna] no peito junto com o fogo[abdominal] e o apna, deve ele cont-los todos estveis na cabea. Assim, osenhor dos yogins, cuja forma a daquela [Realidade], alcana a identificao(samat) com a Realidade (tattva) [i.e., Shiva].

    2.17: Quando o ar alcana o "espao" (gagana) [dentro do corao?], produz-seum som poderoso, [que se assemelha ao de] um instrumento musical como umsino. Ento, a perfeio (siddhi) est prxima.

    2.18: [O yogin] jungido pelo controle da respirao [garante] a eliminao de todasas [espcies de] doenas. [Aquele que] no est jungido pela prtica do Yoga [atraipara si] a manifestao de todas as [espcies de] doenas.

    2.19: Vrias doenas, [tais como] soluos, tosse, asma e males da cabea, dosouvidos e dos olhos, so causadas pelo descontrole (vyatikrama) do ar.

    2.20: Assim como o leo, o elefante e o tigre so domados muito aos poucos, paraque no venham a matar o domador assim tambm o ar [s deve ser]manipulado [com a mxima disciplina].

    2.21: Deve ele deixar o ar sair bem devagar, e deve tambm inal-lo bem devagar.Alm disso, deve conter [a respirao] bem devagar. Ento, a perfeio estprxima.

    2.22: Os olhos e os outros [sentidos] vagam entre os seus respectivos objetos.Quando retiram-se deles, a isto chama-se "recolhimento dos sentidos"(pratyhra).

    2.23: Assim como o sol deixa de brilhar quando atinge o terceiro [quartel do seu]ciclo, assim tambm o yogin que recorre ao terceiro membro [do Yoga] [deveapagar todas as] modificaes mentais (vikra).

    2.24: Assim como a tartaruga recolhe os membros para dentro do casco, assimdeve o yogin recolher os sentidos dentro de si.

    2.25: Reconhecendo que o quanto ouve com os ouvidos, seja agradvel, sejadesagradvel, sempre o Si Mesmo - o conhecedor do Yoga recolhe [a audio].

    2.26: Reconhecendo que o que quer que cheire com o nariz, seja perfumado, sejamalcheiroso, sempre o Si Mesmo - o conhecedor do Yoga recolhe [o olfato].

    2.27: Reconhecendo que o quanto v com os olhos, seja puro, seja impuro, sempre o Si Mesmo o conhecedor do Yoga recolhe [a viso].

    2.28: Reconhecendo que o quanto sente com a pele, quer tangvel, quer intangvel, sempre o Si Mesmo - o conhecedor do Yoga recolhe [o tato].

    2.29: Reconhecendo que o quanto saboreia com a lngua, quer salgado, querinsosso, sempre o Si Mesmo - o conhecedor do Yoga recolhe [o paladar].

    2.30: O sol recolhe a chuva feita de nctar (amrita) lunar. Ao recolhimento dessa[chuva] chama-se "recolhimento dos sentidos".

    2.31: A mulher nica, que vem da regio lunar, desfrutada por dois, ao passo queo terceiro, [alm] dos dois, o que sofre a velhice e a morte.

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    Comentrio:O sentido deste versculo obscuro.

    2.32: Na regio do umbigo reside o sol nico, cuja essncia o fogo. E a lua, cujaessncia o nctar, situa-se sempre na raiz do palato.

    2.33: A lua, voltada para baixo, faz chover [nctar]; o sol, voltado para cima,devora [esse nctar lunar]. Para isto deve-se conhecer a postura [invertida](karan) para que a ambrosia seja obtida.

    2.34: [Quando] o umbigo est em cima e o cu da boca est embaixo, [ou seja,quando] o sol est em cima e a lua est embaixo, a isto se chama de posturainvertida. Deve ela ser aprendida pelo ensinamento de um mestre.

    Comentrio:A postura invertida (viparta-karan) pode ser a parada de ombros oua parada de mos.

    2.35: L onde o touro trs vezes agrilhoado solta um mugido poderosssimo, devem

    os yogins saber que est [situado] o cakra do "[som] no-tocado" (anhata), nocorao.

    Comentrio:O "touro trs vezes agrilhoado" (tridh baddho vrishah) a psiqueJva), presa pelas trs qualidades (guna) da Natureza - sattva, rajas e tamas.

    2.36: Quando a fora vital alcana o grande ltus [do topo da cabea], depois deter-se aproximado do manipurka e ter passado para o anhata, o yogin alcana aimortalidade (amrita).

    2.37: Deve [o yogin] contemplar o supremo Poder (shakti) inserindo a lngua nacavidade [brhmica] superior, segundo as prescries. [O nctar] que goteja do

    ltus de dezesseis ptalas situado acima obtido pela elevao forada [da lngua,at que encoste no fundo do cu da boca]. Esse yogin impecvel, que bebe damorada (kula) da lngua a [especial] dcima sexta parte da gua limpidssima daonda de kal, [que escorre] daquele [ltus], vive por muito tempo to jovem eflexvel quanto um talo de ltus.

    2.38: Deve ele beber do fresco vagalho [de ar] [fazendo] com a boca um bicocomo de um corvo. Ordenando o prna e o apna, o yogin no envelhece.

    2.39: Aquele que bebe o ar do prna com a lngua [colada na] raiz do palato yertodas as suas doenas desaparecer dentro de seis meses.

    2.40: Depois de contemplar todo o nctar no quinto cakra, [chamado] "o puro"(vishuddha), ele parte pelo caminho ascendente, passando ileso pelas mandbulasdo sol [interior localizado no umbigo].

    2.41: O som vi significa o "cisne" (hamsa) [i.e., a respirao espontnea]; shuddhi[oupureza] chama-se imaculado. Por isso, os conhecedores dos cakras sabemque o cakra da garganta chamado vishuddha.

    2.42: [A fora vital], depois de escapar s mandbulas do sol [interior], sobe por simesma at a cavidade na base do nariz, [desde que o yogin] tenha preenchido denctar essa cavidade.

    2.43: Coletando a gua limpidssima da kal da lua, [que cai em forma de chuva]

    de cima da regio da garganta, deve ele conduzi-la para a cavidade na base donariz e depois para toda parte, por meio do "espao" [situado no topo da cabea].

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    2.44: O conhecedor do Yoga que bebe o nctar (soma) por mover com firmeza alngua para cima [encostando-a no cu da boca], conquista indubitavelmente aimortalidade ao abo de meio ms.

    2.45: Aquele que controla o orifcio da raiz supera [todos os] obstculos e alcana

    [o estado que se situa] alm da velhice e da morte, como o Hara de cinco faces[i.e., Shiva].

    2.46: Pressionando a ponta da lngua contra a grande cavidade do "dente real"(rja-danta) [i.e. a vula ou "campainha"] e contemplando a Deusa ambrosaca,torna-se ele um sbio poeta ao cabo de seis meses.

    Comentrio:Essa tcnica tambm chamada de lambik-yoga. A palavra lambiksignifica penduricalho" e refere-se vula, que estimulada pela lngua paraaumentar a produo de saliva, cujo correspondente sutil o lmpido nctar daimortalidade.

    2.47: o grande fluxo vindo de cima [da vula] bloqueia todos os [outros] fluxos [docorpo]. Todo o que no produz o nctar [deve praticar antes] os caminhos dascinco concentraes.

    2.48: Se a lngua beijar constantemente a extremidade do "penduricalho" [i.e., avula], provocando o fluxo de um lquido (rasa) [de sabor] salgado, picante ouazedo, ou que se assemelha ao leite, ao mel e manteiga lquida, as doenas, avelhice e a morte desaparecero; as doutrinas (shstra) e seus membros auxiliaressero celebradas, e ele alcanar a imortalidade e os oito poderes [paranormais] eatrair para si as consortes (anga) dos adeptos (siddha).

    2.49: Ao cabo de dois ou trs anos, o yogin cujo corpo est cheio de nctar v o

    seu smen (retas) subir e [assiste ao] surgimento de poderes [paranormais], comoo de miniaturizao (animan).

    Comentrio:A subida do aspecto sutil do fluido reprodutivo masculino oequivalente yogue do que, em linguagem psicolgica, se chama "sublimao". Arigor, trata-se de uma forma de "sobreliminao", pois o processo consiste numaultrapassagem dos limites (latim: limen) da condio psicofsica ordinria. Esteestado, raro, chamado de rdhva-retas.

    2.50: Assim como o fogo existe [enquanto existe o] combustvel; assim como a luzexiste [enquanto existem] o leo e o pavio - assim tambm a [psique] encarnadano deixa o corpo enquanto ele est repleto da parte (kal) lunar.

    2.51: Para o yogin, cujo corpo cotidianamente preenchido com a parte lunar, osvenenos no se espalham, mesmo que ele seja picado pelo prprio Takshaka [o reidas serpentes].

    2.52: [Quando o yogin estiver] experimentado na postura, firmemente unido aocontrole da respirao e dotado do recolhimento dos sentidos, deve praticar aconcentrao.

    2.53: A concentrao definida como a estabilidade da mente e a concentraonos cinco elementos, um a um, no corao.

    2.54: O [elemento] terra, sediado no corao, um quadrado amarelo ou

    amarelado resplandecente, com a slabalae o [deus Brahma] sentado na posiodo ltus. Dissolvendo l [i.e., no corao] as energias vitais junto com a mente,

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    deve ele concentrar-se por cinco ghatiks [i.e., duas horas]. Deve sempre praticara concentrao terrestre, de efeito estabilizante, para dominar a terra.

    2.55: o elemento gua (ambu-tattva), semelhante meia-lua ou ao jasmimbranco, localiza-se na garganta, dotado da slaba-semente do nctar (pysha),

    va, e sempre associado a Vishnu. Dissolvendo l [i.e., no corao] as energias

    vitais junto com a mente, deve ele concentrar-se por cinco ghatiks [i.e., duashoras]. Deve praticar sempre a concentrao aqutica, que consome o sofrimentopara sempre.

    2.56: O elemento fogo, triangular, localizado no cu da boca e semelhante cochonilha [vermelha] luminoso e associado a repha [Le., slaba ra], brilhante como o coral e vive na boa companhia de Rudra. Dissolvendo l [i.e., nocorao] a fora vital junto com a mente, deve ele concentrar-se por cinco ghatiks[i.e., duas horas]. Deve dedicar-se sempre concentrao gnea a fim de dominaro fogo.

    Comentrio:Em geral, afirma-se que o elemento fogo se localiza no umbigo.

    2.57: O elemento areo, localizado entre as sobrancelhas, assemelha-se ao colrionegro e est associado letra ya e a lshvara como divindade [regente].Dissolvendo l [i.e., no corao] a fora vital junto com a mente, deve eleconcentrar-se por cinco ghatiks [i.e., duas horas]. O yamin deve praticar aconcentrao area para poder cruzar os cus.

    Comentrio:O domnio sobre o elemento ar d ao yamin, ou yogin, a capacidadedo vo mgico (khecara), que um tema ao qual no s a literatura yogue, mastambm as tradies xamnicas do mundo inteiro se referem com freqncia.

    2.58: O elemento ter ou espao, localizado na "fissura de Brahma" (brahma-

    randhra) [no topo da cabea] e semelhante gua muito lmpida, est ligado aSad-Shiva, ao som [interior] e slaba h. Dissolvendo l [i.e., no corao] afora vital junto com a mente, deve ele concentrar-se por cinco ghatiks [i.e., duashoras]. Diz-se que a concentrao etrea abre de par em par as portas dalibertao.

    2.59: As cinco concentraes nos elementos [tm, respectivamente, os poderes de]bloquear, inundar, abrasar, desestabilizar e dessecar.

    2.60: As cinco concentraes so difceis de realizar por meio da mente, da fala eda ao. O yogin conhecedor [do uso dessas tcnicas] liberto de todos ossofrimentos.

    2.61: A memria (smriti,) alcana o elemento nico (dhtu) de todos ospensamentos. A meditao definida como a ideao (cint) pura na mente.

    2.62: A meditao de duas espcies: composta (sakala) e sem partes (nishkala). composta em virtude das diferenas de execuo; j a [meditao] sem partesest acima de todas as qualificaes (nirguna).

    2.63: Sentando-se numa postura confortvel (sukha-sana), com a menteinteriorizada e o olhar (cakshus) exteriorizado voltado para baixo, contemplandoconcentrado a serpente (kundalin), ele fica livre da culpa (kilbisha).

    2.64: O primeiro cakra, [chamado] "apoio" (dhra), tem quatro ptalas e

    assemelha-se ao ouro. Contemplando concentrado a serpente (kundalin) [nesselugar do corpo], ele fica livre da culpa (kilbisha).

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    Comentrio:O "apoio" tambm chamado de muldhra-cakra e localiza-se nabase da coluna, o caldeiro alqumico do corpo humano.

    2.65: Contemplando o Si Mesmo na "base prpria" (svdhishthna) de seis ptalas,[o cakra localizado na altura dos rgos genitais], que se assemelha a uma jia

    genuna, o yogin, fixando o olhar na ponta do nariz, fica [perfeitamente] feliz.

    2.66: Contemplando o Si Mesmo no cakra da cidade das jias, luminoso como o solnascente, [o yogin], fixando o olhar na ponta do nariz, abala o mundo.

    Comentrio: Faz-se referncia aqui ao centro psicoenergtico do umbigo,chamado manipra-cakra ou manipraka-cakra porque, para a viso yogue, eleassemelha-se a uma cidade feita de pedras preciosas.

    2.67: Contemplando Shambhu, sediado no espao ntimo (ksha) do corao eluminoso como o sol indomvel, e fixando o olhar na ponta do nariz, ele assume aforma do Absoluto (brahman).

    Comentrio:Shambhu ("O Benigno") no outro seno Shiva, que reside no ltusdo corao, o hridaya-cakra ou anhata-cakra.

    2.68: Contemplando o Si Mesmo no ltus do corao fulgurante como o relmpago,enquanto [executa] vrias [formas de] controle da respirao e fixa o olhar naponta do nariz, ele assume a forma do Absoluto.

    2.69: Contemplando constantemente o Si Mesmo no meio do "sino" (ghantik), no[cakra] puro (vishuddha) que brilha como uma lmpada, ele assume a forma dabem-aventurana espiritual (nanda).

    Comentrio: O termo ghantik significa "sininho" e pode referir-se aqui glndulatireide ou cartilagem tireoidal, ou talvez epiglote. Como o versculo 2.75distingue entre a ghantik e a lambik, a primeira no pode ser a vula.

    2.70: Contemplando o Si Mesmo, o Deus localizado entre as sobrancelhas esemelhante a um diadema genuno, fixando o olhar na ponta do nariz, ele assume aforma da bem-aventurana espiritual.

    2.71: O yogin que dominou a fora vital e que contempla perenemente o Si Mesmo,o Senhor supremo de aspecto azul no ponto entre as sobrancelhas, fixando o olharna ponta do nariz, alcana a [meta suprema do] Yoga.

    Comentrio:O texto refere-se aqui ao jn-cakra, que em algumas tradies associado ao ponto seminal azul (nla-bindu) ou "prola azul", como o chamou nosculo XX o grande siddha Swami Muktananda.

    2.72: Contemplando o [Ser supremo] no-qualificado, tranqilo, benvolo (shiva),onisciente, no espao [do centro psicoenergtico do topo da cabea], fixando oolhar na ponta do nariz, ele assume a forma do Absoluto.

    Comentrio:O espao (gagana) mencionado aqui o espao infinito ao qual osyogins podem ter acesso depois de cruzar o portal do topo da cabea, que chamado de "fissura de Brahma brahma-randhra) ou "roda de mil raios(sahasrra-cakra).

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    2.73: L onde o som [interior se faz ouvir] no ter/espao, o que se chama de"cakra do comando(jn-cakra). Contemplando l o Si Mesmo benigno (shiva), oyogin alcana a libertao.

    2.74: Contemplando o Si Mesmo onipresente, que puro, semelhante ao ter eesplendoroso um lquido faiscante, o yogin alcana a libertao.

    2.75: O nus, o pnis, o umbigo, o ltus do corao, o que est acima deste [i.e., agarganta], o sino, a regio do "penduricalho" [i.e., da vula], o ponto entre assobrancelhas e a cavidade espacial [no topo da cabea] ...

    Comentrio:So nove pontos do corpo (sthna ou desha) bem conhecidos quepodem servir como suporte para a concentrao da mente.

    2.76: ... dizem os yogins que esses nove pontos (sthna) de meditao libertam oser da realidade limitada e provocam o surgimento dos oito poderes [paranormais).

    2.77: Contemplando e conhecendo a luz insupervel do esplndido Shiva, que

    idntico ao Absoluto, ele se liberta. Assim falou Goraksha.

    Comentrio:Neste contexto, "conhecer" significa "realizar", ou seja, identificar-seou unir-se com a luminosidade todo-abrangente de Shiva, que a Realidade queest por trs de todos os seres e coisas.

    2.78: Controlando a circulao do ar no umbigo e contraindo fora a raiz deapna, que fica abaixo, assemelha-se ao veculo dos sacrifcios [i.e., o fogo) e cujaforma sutil como a de um fio; e, alm disso, contraindo o ltus do corao epenetrando o dalanaka, o cu da boca e a fissura brhmica - eles alcanam o Vazioonde o deus Mahesha (i.e., Shiva] ingressa no ter/espao (gagana).

    Comentrio:Este versculo um tanto obscuro fala do processo da kundalin, queenvolve o controle da fora vital no corpo atravs das conhecidssimas travasmusculares (bandha). O dalanaka ("triturador") parece ser uma das estruturas

    psicoenergticas que tm de ser penetradas e ultrapassadas pelo poder da serpenteem sua ascenso, para que possa chegar ao ltus das mil ptalas no topo dacabea. Talvez trate-se de um nome esotrico do centro psicoenergtico dagarganta.

    2.79: Acima do resplandecente ltus do umbigo fica o puro crculo (mandala) do solquente (candarashmi). Venero o selo da sabedoria (jnna-mudr) das yogins, queelimina o medo da morte, feito de sabedoria, tem a mesma forma que o mundo(samsra) e a me do triplo universo, a concessora do dharma para os sereshumanos, Chinnamast, digna de louvores, no trplice fluxo sutil que percorre ocentro do trplice caminho.

    Comentrio:A yogin-jnna-mudr, ou "selo da sabedoria das yogins", no outra coisa seno a prpria kundalin, o poder divino manifesto no corpo humano.Ele corre pelo canal central localizado entre os nds id e pingal; os trs, juntos,formam o chamado "trplice caminho". Esse poder, alm disso, corta o fluxo deenergia vital (prna) nos trs condutos e firma a conscincia do yogin no espaoinfinito que fica alm do corpo e da mente. Esse poder de transformao (shakti)recebe aqui o nome da deusa Chinnamast, que representada com a cabeacortada e uma fonte de sangue jorrando do pescoo - um maravilhoso smboloyogue. Ela a maior das yogins, a grande administradora do poder do Yoga.

    2.80: Mil sacrifcios de cavalos ou cem libaes gloriosas (vjapeya) no equivalema um dezesseis avos de uma nica meditao yogue.

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    Comentrio:Os dois tipos de sacrifcio mencionados neste versculo so processosextensos e elaboradssimos que s podiam ser promovidos por grandes reis e que,segundo a tradio, trazem grandes mritos aos seus patrocinadores e executores.

    2.81: Explica-se que a realidade dual [devida ] sobreposio (updhi). A

    sobreposio considerada um invlucro (varna), e a Realidade (tattva) chamadade o Si Mesmo.

    Comentrio:O termo varna ("invlucro") tambm pode significar "letra" e "cor", oque d a entender que a Realidade distorcida ou matizada pelas nossascategorias verbais.

    2.82: Por meio da constante aplicao atenta (abhysa), o conhecedor dasobreposio sabe que a condio da Realidade [revelada pela sabedoria] diferente do [mundo das aparncias que surge como que por encanto por obra da]sobreposio.

    2.83: Enquanto o potencial (tanmtra) do som, etc., se apresenta aos ouvidos eaos outros [rgos dos sentidos], o que existe a recordao (smriti), [que oestado de] meditao. Depois haver o xtase.

    2.84: A concentrao [se estabelece] ao cabo de cinco ndis [i.e., duas horas]; ameditao [se estabelece] ao cabo de sessenta ndis [i.e., vinte e quatro horas].Se a fora vital for controlada por doze dias, haver o xtase.

    Comentrio: O Yoga-Tattva,Upanishad (104b) chega a afirmar que dois diasinteiros so necessrios para que se possa dizer que a meditao se estabeleceucom firmeza. Isso mostra o grau de experincia que se exige dos yogins para que

    possam alcanar o estado de xtase.

    2.85: O xtase (samdhi) definido como o desaparecimento de toda e qualquerideao (samkalpa) e a [realizao da] identidade (aikya) entre todos os pares deopostos (dvandva) e entre o eu individual e o supremo Si Mesmo.

    2.86: O xtase definido como a [realizao da] identidade entre a mente e o SiMesmo, como a gua se toma idntica ao oceano quando se une a ele.

    2.87: O xtase definido como o equilbrio das essncias (samarasatva), [estadono qual] a fora vital se dissolve e a mente absorvida.

    2.88: O yogin jungido (yukta) pelo xtase no [percebe] a si mesmo nem aosoutros, nem [percebe] os aromas, os sabores, as formas, as texturas e os sons.

    2.89: O yogin jungido pelo xtase no pode ser afetado por mantras e yantras eno pode ser penetrado por nenhuma arma nem ferido por nenhum ser.

    Comentrio:Este versculo um sinal de o quanto difundido na ndia o costumede usar os mantras e yantras como meios mgicos para influenciar os outros,muitas vezes de forma negativa. O yogin consumado no xtase completamenteimune a todas essas influncias.

    2.90: O yogin jungido pelo xtase no limitado pelo tempo, nem maculado pelaao, nem vencido por qualquer ser.

    2.91: O Yoga elimina sofrimento daquele que jungido (yukta) [i.e., disciplinado]no alimentar-se e no jejuar, jungido no agir e jungido no dormir e no acordar.

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    2.92: O conhecedor do Yoga conhece a Realidade que no tem comeo nem fim,que no se apia sobre nada, que livre do mal, que no se ergue sobrefundaes, que no manifesta (nishprapanca) e no tem forma.

    Comentrio:Aqui, a Realidade suprema contraposta ao universo manifesto

    (prapanca), que tem comeo e tem fim, cheio de formas e de sofrimento e apia-se sobre a Singularidade (eka), o Absoluto, o qual por sua vez no se apia sobrecoisa alguma.

    2.93: Os conhecedores do Absoluto conhecem o grande Absoluto que espao,conscincia e bem-aventurana, imaculado, inabalvel, eterno, inativo e no-qualificado (nirguna).

    Comentrio: A metafsica vedntica afirma, tipicamente, que o Absoluto(brahman) - na medida em que algo se pode dizer a Seu respeito - o puro ser(sat), a pura conscincia (cit), a pura bem-aventurana (nanda). Neste caso, o

    puro ser substitudo pelo espao infinito (vyoman).

    2.94: Os conhecedores da Realidade conhecem a Realidade (tattva) que espao,conscincia e bem-aventurana; que est alm da inferncia lgica (hetu) e daevidncia (drishtnta); que transcende a mente (manas) e a intuio (buddhi).

    Comentrio: Manas representa a atividade mental que decorre dos sentidos, aopasso que buddhi a razo superior, ou a intuio, que no depende dasinformaes sensoriais, mas capta diretamente os "inteligveis".

    2.95: Por meio dos mtodos do Yoga, o yogin absorvido no supremo Absoluto,que livre do medo, no tem suporte, no tem apoio e est alm de todo o mal.

    2.96: Assim como a manteiga lquida que se derrama na manteiga lquida ainda somente manteiga lquida, ou como o leite que se derrama no leite [ainda sleite], assim tambm o yogin no outra coisa seno a Realidade [nica].

    2.97: O yogin absorto no Estado supremo assume essa forma, assim como o leiteoferecido ao leite, a manteiga manteiga ou o fogo ao fogo.

    2.98: o segredo (guhya) revelado por Goraksha, maior do que qualquer outrosegredo, chamado pelas pessoas uma escada de libertao que elimina o medoda existncia [condicionada].

    2.99: Os homens devem estudar este Compndio de Goraksha, que foi criado pormeios vogues (yooga-bhtam). Livres de todos os pecados, alcanam eles aperfeio no Yoga. (2.99)

    2.100: Este texto, que saiu da boca de ltus do prprio dintha [i.e., Shiva], deveser estudado diariamente. De que serve o excesso de outros textos?