a influencia da postura corporal na pratica violinistica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO VILLA-LOBOS LICENCIATURA PLENA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA HABILITAÇÃO EM MÚSICA A INFLUÊNCIA DA POSTURA CORPORAL NA PRÁTICA VIOLINÍSTICA JÔNATAS SOARES DA SILVA RIO DE JANEIRO, 2008

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  • 5/21/2018 A Influencia Da Postura Corporal Na Pratica Violinistica

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROINSTITUTO VILLA-LOBOS

    LICENCIATURA PLENA EM EDUCAO ARTSTICA

    HABILITAO EM MSICA

    A INFLUNCIA DA POSTURA CORPORAL NA PRTICA VIOLINSTICA

    JNATAS SOARES DA SILVA

    RIO DE JANEIRO, 2008

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    INTRODUO

    O interesse pelo assunto sobre como a postura corporal do aluno influencia

    diretamente a prtica violinstica, surgiu a partir da minha experincia como professor

    de violino. Ensino violino h cinco anos e tenho percebido a dificuldade que os alunos

    tm na execuo de exerccios especficos deste instrumento por causa da m postura.

    Muitos alunos j fizeram aulas de violino anteriormente, mas no deram a devida

    importncia postura adequada.

    O mau posicionamento do corpo poder futuramente ocasionar leses e dores

    musculares, influenciando todas as atividades dirias. Segundo F. M. Alexander

    impossvel separar o que mental do fsico em qualquer atividade humana (Alexander,

    1985, p.21)1. importante para qualquer msico ter conscincia de como funcionam os

    mecanismos posturais. Acredita-se que movimentos mal coordenados, vcios posturais e

    excessos de tenso podero ocasionar ou acentuar uma srie de problemas fsicos

    (Alexander, 1985). Os problemas musculares se manifestam lentamente ao longo da

    vida. Certos movimentos e posturas comeam a ser automatizados e passam a ser

    repetidos sem a nossa ateno. Alguns msculos comeam a ser ativados a todo o

    instante mesmo em situaes onde no h uma demanda para isso e os movimentos

    dirios vo se tornando cada vez mais rgidos. Faz-se necessrio ao msico, antes de

    tocar seu instrumento, restabelecer uma harmonia nos mecanismos posturais do corpo.

    Caso contrrio, os riscos de leses e dor aumentaro e a performance violinstica no

    ser boa.

    1It is impossible to separate mental and physical processes in any form of human activity.

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    Alexander tinha a concepo do ser humano como uma unidade psicofsica, ou

    seja, qualquer problema em uma determinada parte do corpo seria uma conseqncia de

    um desequilbrio de todo o organismo.

    importante lembrar que h um equilbrio no uso de todas as partes do organismo, epor essa razo o uso especfico de uma parte (ou partes) em qualquer atividade podeinfluenciar o uso das outras partes, e vice versa. (Alexander, 1985, p. 77) 2

    A partir dessa concepo de unidade, tenho me preocupado nas aulas de violino

    em traaruma proposta para os meus alunos.Estaproposta consiste na aplicabilidade

    da tcnica de Alexander que favorecer de imediato o alvio para o estresse, menor

    rigidez muscular, postura equilibrada, movimentos mais leves e bem coordenados,

    respirao livre, pensamento mais calmo, etc (Alexander, 1985). Tais mudanas so

    apenas conseqncias de um trabalho que tem como base um processo educacional mais

    amplo. Este processo influenciar em toda a extenso das atividades humanas, desde a

    filosfica, passando pela intelectual, a moral e a prtica. Uma educao que, por ensinar

    a crianas e adultos o uso correto de si mesmos, ir preserv-los da maioria das doenas

    e dos maus hbitos. (Alexander, 1985)

    Partindo desta perspectiva educativa, procuro estabelecer, dessa forma, o tipo de

    relao apropriada para o trabalho que venho desenvolvendo com os meus alunos. Meu

    enfoque na aprendizagem e no no resultado. Tenho utilizado a tcnica de Alexander

    em minhas aulas como processo de auto-conhecimento que se desenvolver em cadaaula, a cada minuto da vida do aluno. E a minha atuao ser de orientar o aluno para

    que aprenda a parar de repetir maus hbitos neuromusculares adquiridos, a deixar de

    interferir em mecanismos naturais de equilbrio e coordenao e a se tornar responsvel

    pelo seu processo de trabalho.

    2It is important to remember that there is a working balancein the use of all the parts of the organism, andthat for this reason the use of the specific part (or parts) in any activity can influence the use of the otherparts, and vice versa.

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    Tenho usado como mtodo de estudo de violino o autor Shinichi Suzuki,

    violinista e pedagogo, que procurava provar as potencialidades do ser humano para o

    aprendizado geral.

    Todas as crianas que so educadas com percia e compreenso atingem um alto graude conhecimento, mas essa educao deve comear no dia do nascimento. Aqui est, naminha opinio, a chave do desenvolvimento integral das potencialidades humanas(Suzuki, 1983, p12).

    Desta forma, Suzuki afirma que toda a pessoa, se estimulada desde a infncia,

    poder desenvolver adaptaes anatmicas que facilitaro a prtica na execuo do

    instrumento. Todo ser nasce com tendncias naturais (Suzuki, 1983, p. 9). O mtodo

    Suzuki traz sugestes de exerccios para a postura que visam buscar a posio mais

    natural e relaxada do aluno. Apesar da assimetria do violino em relao ao corpo do

    violinista, valido almejar um posicionamento corporal mais relaxado possvel para o

    xito da execuo musical.

    Proponho tambm nesta monografia analisar e exemplificar fatos corriqueiros da

    sala de aula. A metodologia usada foi o estudo de caso. Como o professor deve orientar

    seus alunos em relao s condies fsicas para a execuo do instrumento? Quais as

    informaes principais em relao s possveis leses musculares nas quais o

    instrumentista pode sofrer? Quais os benefcios que os alunos tero no resultado sonoro

    se tiverem conscincia do relaxamento muscular?

    No primeiro captulo, relatarei sobre a tcnica de Alexander e como a mesma

    vem favorecendo a prtica violinstica. No segundo captulo, abordarei um breve

    histrico sobre a metodologia do mtodo Suzuki, seus princpios e filosofia. E no

    terceiro captulo, descreverei algumas aulas de violino, e como a tcnica de Alexander

    influenciou o aprendizado atravs do mtodo Suzuki.

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    CAPTULO 1

    A TCNICA DE ALEXANDER COMO PROPOSTA DE POSTURA NA

    PRTICA VIOLINSTICA

    Porque tantos msicos instrumentistas tm problemas posturais? Independente

    do instrumento, de ser amador ou profissional, de ser erudito ou popular, uma grande

    parcela dos msicos teve ou tem problemas relacionados a posturas inadequadas. s

    perguntar a um msico se ele conhece algum com problemas fsicos para observar

    como isso est disseminado, como uma grande epidemia.

    Constatado tal fato, muitos msicos recorrem a uma srie de paliativos, tentando

    minimizar seu problema para que possa seguir realizando suas tarefas da prtica

    instrumental. Muitas pessoas procuram um fisioterapeuta quando esto com dores

    musculares. Em muitos casos, esse profissional essencial para essas dores cessarem.

    Porm, alm do trabalho do fisioterapeuta, ns tambm precisamos fazer a nossa parte.

    Alcantara fala sobre a tcnica de Alexander:

    Alexander descobriu que a causa de nossos problemas no est no que nos feito, masno que fazemos para ns mesmos. E disse que o problema no est no estmulo da vidamoderna, mas em nossas respostas para isto; no no estresse, mas no esforo.(Alcantara, 1997, p.5) 3

    1.1 A TCNICA ALEXANDER.

    A palavra tcnica4 poderia ser definida com uma maneira de funcionar.

    Geralmente, significa uma maneira de operar, no na arte de fazer msica, ou de pintar,

    ou de fazer arranjos florais ou mesmo no ato de pescar, mas em um outro sentido, um

    3Alexander found the cause o four troubles not in what is done to us, but in what we do to ourselves. He

    saw that the problem was not in the stimulations of modern life, but in our response to it; not in stress, butin the strainig.4Conjunto de Processos de uma arte. Maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo.

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    sentido muito mais fundamental do que todos esses: na arte de usar a ns mesmos. O

    movimento uma das maneiras com as quais usamos a ns mesmos como instrumentos,

    em toda e qualquer atividade que realizamos. Por exemplo: lendo esta monografia, suas

    mos tm virado as pginas e seus olhos tm se movimentado para que seja possvel que

    voc as leia. Movimento vida. Uma pessoa desenvolvendo a habilidade de tocar o

    violino est, na verdade, aprendendo a usar no somente um, mas dois instrumentos.

    claro que ela tem que aprender a estrutura do violino, como ele funciona, quo pesado

    ele , como segur-lo, como tirar sons dele. Porm, sua mo que o segurar, seu corpo

    que ter que apoiar o peso do instrumento, seu brao que ter que se mover para deslizar

    o arco sobre as cordas. E a maneira com a qual a pessoa usa a si prpria determinar, at

    que consideravelmente, a maneira com a qual ela toca o instrumento. Portanto,

    aprendendo a tcnica de Alexander, que bem simplesmente est relacionada com parar e

    pensar, ns no estamos aprendendo nada de novo. Estamos na verdade reaprendendo a

    habilidade de nos usarmos bem, mas conscientemente.

    No final do sculo XIX, o ator e declamador australiano chamado Frederick

    Matthias Alexander colocou uma luz sobre esta questo (Alcantara, 1997). Identificou

    que de uma maneira geral o ser humano vai adquirindo uma srie de maus hbitos

    posturais. Esses hbitos automatizados interferem na coordenao do corpo desde os

    movimentos mais simples do cotidiano, como andar, sentar, escrever, falar, e at nos

    mais complexos como cantar, danar ou tocar um instrumento. A repetio incessante

    de tais padres posturais leva a uma infinidade de conseqncias nocivas sade, to

    comuns nos dias de hoje. Alexander identificou que s um trabalho de reeducao

    psico-fsico poderia reverter estes problemas (Alexander, 1985).

    Esse trabalho iniciou quando Alexander tornou-se um renomado ator

    shakespereano na Austrlia e Nova Zelndia e seus recitais tornaram-se bastante

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    populares. Sua sade foi piorando em funo de suas constantes apresentaes,

    problemas respiratrios e rouquido tornaram-se uma constante. Isso acontecera antes

    do tempo do microfone e qualquer outro aparato tecnolgico. Naquele tempo, era

    extremamente necessrio ter uma voz forte para que fosse ouvida no fundo do teatro

    ou da sala. A primeira obrigao de um ator a de ser ouvido, e quem no pode ser

    ouvido, o melhor que tem a fazer se aposentar. Mas se ele desistisse, estaria jogando

    fora muitos anos de estudo e preparao, e alguns outros de sucesso. Portanto, esse

    problema era sua frustrao. Ele queria continuar atuando, fazendo o que mais queria,

    mas no conseguia ver uma maneira de tornar a sua voz mais confivel. Sem sucesso

    com os especialistas da poca, Alexander percebeu que seu problema de voz e

    respirao eram apenas conseqncias de desequilbrio total de seu corpo.

    Se ele fosse msico que tocasse algum instrumento de cordas, seu problema

    seria a relutncia em dar concertos porque ele no estaria seguro de que seu brao, a

    parte de seu corpo que mais trabalharia para segurar o arco, funcionasse. Obviamente,

    a parte que mais trabalha, no caso de Alexander, a sua voz, ser aquela que reclamar

    mais se estiver sendo continuamente mal usada. A partir da, Alexander desenvolveu

    atravs de nove anos de pesquisa uma prtica revolucionria com base na unidade

    psico-fsica do Homem, hoje chamada de tcnica de Alexander (Alcantara, 1997).

    Bem, para deleite nosso, o trabalho de Alexander no parou nele. Ele

    desenvolveu uma nova maneira de ensinar outras pessoas para que seu trabalho

    perpetuasse at os dias de hoje. No comeo ele no tinha a inteno de ensinar ou

    qualquer razo para acreditar que algum, alm dele, usasse mal a si mesmo. No

    entanto, com o seu problema de voz resolvido, muitas pessoas passaram a pedir que

    ensinasse como fazia. Em 1904, ele veio de Sidney para Londres, onde ensinou

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    muitas pessoas, Aldous Huxley e George Bernard Shaw, entre outros, at sua morte

    em 1955.5

    Atualmente, mesmo sendo desconhecido do grande pblico, seu trabalho vem

    sendo aplicado em diferentes instituies de ensino ao redor do mundo. Est includa

    nos currculos de Universidades, Escolas e Conservatrios de Msica, Teatro e Dana

    como base para uma explorao criativa, aperfeioamento da sade, clareza mental,

    compreenso e expanso do potencial Humano.

    Hoje, o trabalho de Alexander est presente em diversas terapias, processos de

    autoconhecimento e tcnicas corporais existentes. Um dos pontos bsicos do seu

    trabalho est na identificao do equilbrio da cabea em relao coluna vertebral,

    ao qual chamou de Controle Primordial, como um fator fundamental para uma

    coordenao adequada do indivduo (Alexander, 1985). A cabea se mantm em

    equilbrio dinmico no alto da coluna vertebral, apoiada na primeira vrtebra cervical

    com o suporte de certos msculos do pescoo que regulam continuamente o ajuste da

    cabea sobre o pescoo. Esta coordenao, funcionando adequadamente, ativa a

    musculatura responsvel pelo suporte e alongamento do corpo, trazendo um melhor

    equilbrio de foras em relao gravidade. Desta forma os reflexos posturais 6 so

    ativados e os movimentos so livres e harmoniosos, sem sobrecarga em determinadas

    partes do corpo ou grupamentos musculares. Para praticar esse controle primordial,

    precisamos aprender como faz-lo. Geralmente, achamos que bastam instrues e

    5HOLLAND, Mary. Uma Maneira de Funcionar. Retirado do peridico "The Strad" Vol. 89, 1063Novembro de 1978. Disponvel em http://www.abtalexander.com.br/download/holland1.doc Acesso em:01 outubro 2008.

    6 Entendemos postura como sendo a posio do corpo que nos mantemos, consciente ouinconscientemente, por um longo tempo. Agora concordamos que o corpo e a mente so inseparveis:

    Generally we understand posture as a bodily position we hold, consciously or unconsciously, for somelength of time. Now that we agree that body and mind are inseparable. (Alcntara, 1997, p13)

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    explicaes ao alcance do nosso entendimento intelectual para sermos capazes de por

    uma teoria em prtica.

    A tcnica de Alexander nos faz entender como os hbitos corporais esto

    intrinsecamente relacionados aos hbitos de pensamento, e por repetir tais hbitos por

    toda a vida, a percepo do que realmente acontece quando uma ao est sendo

    executada fica imprecisa. No h como negar a forte influncia dos hbitos em nossas

    vidas, em nossos movimentos e no uso do nosso corpo. Ao longo dos anos, vamos

    memorizando determinadas maneiras de usar o corpo que comeam a se repetir

    automaticamente e, assim, somos regidos por hbitos em quase tudo o que fazemos.

    Se pegarmos, como exemplo, o hbito de dirigir um carro, percebemos que no

    incio do processo executamos os movimentos dos pedais com uma certa dificuldade.

    Precisamos pensar com muita ateno em como regular o uso dos ps e ao mesmo

    tempo manter a ateno ao que est acontecendo ao nosso redor. Com o tempo, esta

    experincia vai sendo armazenada na memria e passamos a no precisar mais pensar

    em todo este processo. Dizemos ento que a maneira gravada pelo crebro a nossa

    maneira de dirigir um carro. Se essa maneira habitual desenvolvida para dirigir um

    carro estiver criando algum tipo de problema, deteriorando nosso desempenho, no

    temos mais como agir, pois todo esse processo parece agora fora do nosso controle.

    Tendemos a achar que assim mesmo, no tem jeito. A mudana passa a ser algo

    que est alm da nossa responsabilidade. Isto tambm ocorre com o msico. Quando

    comea a tocar um instrumento, s vezes desenvolve certos vcios que criam algum

    tipo de problema posteriormente, dificultando a execuo e a qualidade musical.

    De maneira geral, hbitos posturais e de movimentos so reprodues de

    experincias adquiridas desde criana. Vamos assimilando todo tipo de experincia,

    sejam elas boas ou ruins. Assimilamos a postura habitual dos pais, de comentrios de

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    professores, de uma imagem na televiso ou em uma revista. Estas experincias vo

    sendo trazidas pelo corpo atravs de posturas e movimentos, e se tornando

    automticas. Mas muitas destas posturas tendem a criar excesso de contrao

    muscular em determinadas partes do corpo, limitao de movimentos em certas

    articulaes e compresso na coluna vertebral trazendo conseqncias diretas: dores

    musculares, cansao constante, falta de vitalidade, dificuldades respiratrias, sensao

    de peso, entre outras (Alcantara, 1997). Assim, s um trabalho contnuo de

    reeducao, integrando os aspectos fsicos e a percepo que se tem do prprio corpo,

    leva o indivduo a identificar e a desfazer, quando necessrio, os padres de uso dos

    msculos, articulaes, gestos e posturas.

    As aulas regulares da tcnica de Alexander criam uma nova memria sobre o

    uso do corpo para que os antigos maus hbitos possam ser substitudos por um uso

    mais eficiente e menos propenso a desgastes e doenas. Alexander descobriu que era

    necessrio usar suas mos para mostrar s pessoas o que queria dizer. Com as mos,

    era capaz de, primeiramente, avaliar o estado de equilbrio ou desequilbrio de uma

    pessoa e a quantidade de tenso e de esforo muscular que estava sendo usado.

    Depois, era capaz de definir e reorganizar o equilbrio e reduzir o esforo,

    transmitindo uma sensao de leveza, liberdade e conforto (Alexander, 1985). Isso

    tambm estimula a recuperar a preciso das sensaes que temos sobre a postura e

    movimento, criando condies ao seu organismo de se adaptar da melhor maneira

    possvel a nova atividade.

    Com economia e preciso da atividade neuromuscular, o msico pode

    alcanar uma performance melhor. Assim, observamos o quanto esta tcnica tem

    ajudado os msicos, pois tocar um instrumento ou cantar envolve a habilidade de

    coordenar pensamento, movimento e expresso. Muitas vezes, na tentativa de se obter

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    um bom resultado, problemas posturais e de coordenao so subestimados,

    permitindo que padres de tenso muscular se estabeleam e tornem-se habituais.

    Invariavelmente, os msculos do pescoo se contraem excessivamente fazendo com

    que a cabea perca a sua posio natural no alto da coluna, acarretando enorme

    contrao de alguns grupos musculares de sustentao do corpo.

    Outro aspecto que costuma afetar os msicos a presso emocional e seus

    reflexos na tenso muscular. A ansiedade pelo bom desempenho faz a pessoa se

    esquecer da dor e de se submeter a nveis no imaginveis de esforo fsico e de

    agresso ao corpo. Sabemos que muitos msicos ensaiam e do aulas particulares

    durante o dia, apresentam-se noite e tm o fim de semana e os feriados ocupados

    por compromissos profissionais. Isso leva a uma sobrecarga fsica.

    Um aspecto que o trabalho com a tcnica introduz a responsabilidade de

    poder agir para solucionar problemas de vcio postural e de movimento .

    1.2 APLICABILIDADE DA TCNICA DE ALEXANDER NO CASO DOS

    MSICOS.

    O trabalho da tcnica de Alexander realizada com os msicos vem acontecendo

    desde 1996 na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, atravs

    de Cursos de Extenso Universitria oferecidos pelo Departamento de Msica. Estes

    cursos tm dado condies aos estudantes de desenvolver seu treinamento musical

    paralelamente ao estudo da tcnica de Alexander. Os alunos praticam, com seus

    instrumentos, passagens musicais que estejam trabalhando em seus ensaios ou onde

    observam dificuldades na execuo, como tenso demasiada em determinadas

    articulaes, dificuldade de movimento em alguma parte do corpo ou posturas

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    inadequadas, que levam a um incmodo geral. interessante observar que, quanto

    mais experincia os alunos tm com a de Alexander, maior a capacidade de

    observao sobre si mesmos e, conseqentemente, maior a capacidade de pesquisa

    com seus instrumentos. A cada semana os alunos trazem novas informaes sobre

    suas dificuldades e suas observaes de como preveni-las durante a execuo

    musical. Esse processo transforma radicalmente a maneira de se pensar sobre a

    prtica musical. Os alunos tornam-se conscientes de si como primeiro instrumento de

    trabalho e percebem que qualquer modificao da prtica s ser possvel atravs de

    uma modificao no seu prprio uso do corpo. Ao final do semestre, os alunos

    percebem que o curso foi apenas o ponto de partida de uma nova etapa de

    conhecimento. Cada um, atravs dos meios praticados em sala de aula, ir

    experimentar, em sua vida, romper com os limites impostos pelos hbitos e

    interferncias adquiridos ao longo dos anos. Os resultados so bastante positivos e os

    alunos consideram essa tcnica de grande valia no aprendizado e performance de seus

    instrumentos.

    A idia de ser responsvel pelo modo de usar o corpo um dos objetivos do

    trabalho, pois a tcnica de Alexander prope que qualquer mudana s comear com

    esta tomada de deciso. Temos condies de ativar o melhor potencial de organizao

    do corpo, independente do limite fsico e do ambiente ao nosso redor.

    A mudana na maneira de pensar sobre o corpo e como este reage frente s

    situaes do cotidiano abre perspectivas novas. Entender o porqu de uma srie de

    problemas relacionados a posturas e movimentos inadequados um caminho para

    transform-los. Este processo de educao estimula um melhor desempenho das

    tarefas dirias atravs de um ajuste contnuo, identificando padres ineficientes e

    prejudiciais de uso do corpo. Tambm estimula a prtica de um novo padro mais

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    adequado de uso, prevenindo assim a deteriorizao da coordenao e equilbrio do

    corpo.

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    CAPTULO 2

    O MTODO SUZUKI: PRINCPIOS E FILOSOFIA NA PRTICA

    VIOLINSTICA

    Este mtodo foi criado pelo violinista Shinichi Suzuki, conhecido

    internacionalmente como pedagogo para violino (Suzuki, 1983). Suzuki nasceu no

    Japo. Era filho do fundador da maior fbrica mundial de violinos. Trabalhou

    primeiramente na fbrica de seu pai. Iniciou seus estudos de msica apenas aos

    dezessete anos de idade. Terminando seus estudos de msica em Tquio, foi a

    Berlim, onde durante oito anos, foi aluno de Karl Klinger e se relacionou com

    eminentes personalidades, entre elas Albert Einstein e Pablo Casals.7 Passou por

    muitas dificuldades para falar a lngua Alem. Por outro lado, observou ele, a

    facilidade que as crianas pequenas falavam sua lngua materna (Suzuki, 1983). Com

    esta observao, Suzuki comeou a ter suas primeiras idias sobre aquele que seria

    mais tarde o mais eficiente e revolucionrio mtodo de se aprender msica.

    Em 1928, voltou com sua esposa Waltraud, ao Japo. Fundou, com trs de seus

    irmos, o Suzuki-Quartet, como tambm passou a lecionar violino para crianas

    pequenas, onde observou a facilidade que tm as mesmas para aprender. Foi assim

    que fundou o Talent Education Institute (Instituto de Educao de Talentos), em

    Matsumoto, Japo e se tornou conhecido mundialmente. Ele explica como os

    princpios e a filosofia de seu mtodo de educao, pelo qual so desenvolvidas as

    capacidades naturais de cada criana. No gostando de teorias pedaggicas, Suzuki

    demonstra, em inmeros exemplos, o xito surpreendente de seu trabalho com

    crianas pequenas, na sua Escola de Msica no Japo (Suzuki, 1983).

    7disponinvel em http://www.melodia93.com.br/Sessao.aspx?cod=156&cat=8

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    O seu mtodo baseia-se na idia de que todas as crianas nascem com diversas

    potencialidades que so desenvolvidas atravs do contato com o meio. Como no

    aprendizado da lngua materna, que se desenvolve naturalmente atravs da repetio,

    o recm nascido ouve sua me e demais familiares falando. A criana escuta palavras

    como mame, papai e, de acordo com o incentivo, se motiva a aumentar o seu

    repertrio e formar pequenas frases. Mas tarde, ao ingressar na escola, a criana

    aprender a ler e escrever. Talento no hereditrio. Suzuki busca provar suas idias

    por meio da constatao do estudo dos rouxinis:

    O primeiro ms de vida de um rouxinol determina o seu destino. At aqui se admitiaque o incomparvel canto dessa ave fosse um instinto hereditrio. Mas no assim.Os rouxinis que queremos manter no cativeiro, em gaiolas, so retirados do ninhona primavera, antes de saberem voar. Assim que se adaptam e aceitam alimento,coloca-se, junto a eles, um pssaro-mestre que, todo o dia, emite seu maravilhosocanto. O pequeno rouxinol ouve o canto durante um ms e instrudo, dessa forma,pelo seu mestre. Esse mtodo usado h muito tempo no Japo. So dadas aospssaros as condies ambientais necessrias ao seu aprendizado (Suzuki, 1983,p.16)

    O mesmo processo utilizado na msica. O ambiente musical adequado,

    conduzido por mestre experiente, levar o aluno a dominar o instrumento e adquirir

    grande habilidade para a msica, com a mesma facilidade com que domina a lngua

    materna.

    Talento no um acaso do nascimento. Na sociedade de hoje, muitas pessoas,crendo-se nascidas sem talento, nada fazem para transformar sua realidade e seconformam com o que consideram seu destino. Em conseqncia, atravessam a vidasem viv-la integralmente, sem conhecer suas verdadeiras alegrias. Esta a maiortragdia dos seres humanos. (Suzuki, 1983, p.9)

    Na filosofia de Suzuki, o talento no um acaso de nascimento, mas fruto do

    ambiente em que o homem vive. Se Einstein, Goeth e Beethoven tivessem nascido na

    era da pedra lascada, eles no teriam recebido somente as capacidades culturais e a

    educao do homem da pedra lascada? (Suzuki, 1983). Se uma criana se desenvolve

    apenas lentamente em qualquer campo, no devemos atribuir a culpa a ela, mas,

    sobretudo, no sistema precrio de educao e num ambiente desfavorvel. Com isto,

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    Suzuki abre novos caminhos aos pais, aos professores e a todos que se preocupam

    com a felicidade e o bem estar das crianas. Segundo Suzuki, a maior alegria para um

    adulto consiste, assim, em desdobrar as possibilidades de uma criana de maneira que

    ela se torne capaz de exprimir toda a harmonia e sublimidade concedida ao ser

    humano (Suzuki, 1983).

    Pablo Casals, um dos maiores msicos do nosso sculo, vivenciou em Tquio um

    dos concertos com crianas da Escola de Msica de Suzuki. Ele ficou to comovido

    com a apresentao, que foi espontaneamente ao palco abraar as crianas. (Suzuki,

    1983). No ano de 1964, Suzuki foi convidado com suas crianas pela Associao

    Americana dos Pedagogos de Instrumentos de Corda para dar alguns concertos nos

    Estados Unidos. O Prof. Clifford Cook que introduziu o Mtodo Suzuki no Oberlin-

    College em Ohio, Estados Unidos, disse que o que Suzuki fez pelas crianas

    pequenas lhe deu um lugar entre os benfeitores da humanidade (Suzuki, 1983). O

    Prof. Jurgen Ulrich diz que quem ler Suzuki atentamente compreender que, para ele,

    a educao musical o caminho para o auto-conhecimento do homem e para sua

    auto-realizao (Suzuki, 1983).

    Muito mais que um mtodo, Suzuki constituiu exemplos prticos de uma

    maneira excepcional de se educar crianas e despertar sua sensibilidade para aprender

    msica. evidente que precisamos desejar tambm aprender a pensar, escolher

    palavras, raciocinar de forma lgico-matemtica, compreender a plenitude das

    relaes de seu entorno com conceitos de espao e tempo, administrar as emoes,

    apreciar a beleza, descobrir a carcia, e aprimorar as potencialidades tteis, sonoras e

    auditivas. Tudo isto representa, sem dvida, estratgia interessante e funcional para se

    disciplinar.

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    As idias citadas pelo professor Suzuki sobre Amala e Kamala, crianas lobos,

    nos faz concluir o quanto crucial e importante guiar, em todos os sentidos, todas as

    inteligncias e todas as competncias possveis de qualquer ser humano em sua

    infncia.

    Na caverna do lobo, as crianas moviam-se sobre mos e ps e seus olhosenxergavam bem no escuro. O olfato era extremamente sensvel. Corriam rpido, dequatro, e as pessoas no conseguiam alcan-las. Seus ombros eram largos, suaspernas potentes e as ancas eram dobradas. No conseguiam se endireitar. Pegavam ascoisas com a boca, no com as mos. Comiam e bebiam maneira dos ces: Kamalaera a que mais se assemelhava com a maneira dos lobos. Gostava de carne,especialmente se podre. Era imune s mudanas de temperatura e no transpirava.Quando fazia calor, esticava a lngua para fora e arquejava como um co. Sua peleera lisa e vtrea e no se sujava. As palmas das mos eram calejadas. Sua cabea eraextraordinariamente grande, com cabelos longos e eriados. Ao menor barulho, suasorelhas ficavam de p e seus msculos tornavam-se tensos. Se ficava zangada, suasnarinas vibravam e rosnava como um co. Se quisessem interferir, enquanto estavacomendo, mostrava os dentes e rosnava. Dormia de dia, mas comeava a ficarativa assim que o sol descia. noite, exatamente como fazia quando entre lobos,uivava trs vezes em tempos determinados: s dez, uma e s trs horas. Esse hbitohavia-se tornado uma segunda natureza devido aos anos em que uivara regularmentecom os lobos, em coro. No parou de uivar ao longo dos nove anos que esteve entreseres humanos, at que morreu aos dezesseis anos. A voz de Kamala no tinhacaractersticas humanas ou animais. Era som indeterminvel. (Suzuki, 1983, p.17).

    Ainda que atribuindo algum valor carga hereditria, o ambiente estimulador

    em que as crianas crescem e no qual se relacionam com as coisas e as pessoas, as

    circunstncias e o mundo, a educao e o treino de todas as suas inteligncias,

    extremamente crucial para fazer delas o que na vida adulta sero. O professor Suzuki

    quando procurado por mes para matricular seus filhos, comeava por marcar,

    primeiro, aulas para elas. Aps levar as mes a dominar os rudimentos do mtodo,

    aconselhava-as tocar com ternura para as crianas, at que estas pedissem para imit-

    las. Comeava assim a acordar a genialidade. No mais, seu fenomenal segredo, era

    treino nada mais. Suzuki afirma que Todas as crianas adaptam as suas foras vitais

    e orgnicas aos seus respectivos ambientes (Suzuki, 1983, p.20).

    Suzuki incentiva a iniciao dos estudos a partir de uma idade muito jovem,

    entre os trs e cinco anos de idade. (Suzuki, 1983). Seu mtodo foi inicialmente

    pensado para o aprendiz de violino, porm ele foi adaptado para outros instrumentos

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    como piano, violo, flauta doce, flauta transversa, canto, viola, contrabaixo e alguns

    outros. O uso de gravaes tambm muito importante no aprendizado da msica,

    nessa filosofia o Professor Suzuki pensava ,como j foi dito, que a criana ouvia

    primeiro a sua lngua depois falava e aps isso ela aprenderia a ler e a escrever. Esse

    processo deveria se repetir na msica.

    Quando a raa humana criou os bens culturais da palavra e da escrita, originou aindaa cultura, a da Msica. uma lngua para alm das palavras e dos algarismos, umaarte viva, quase mstica. Sua ao se manifesta no reino do sentimento. Bach,Mozart, Beethoven, sem exceo, vivem clara e seguramente em sua msica. Falamconosco enfaticamente. Sutilizam-nos e acordam alegrias e emoo em ns (Suzuki,1983, p.77).

    Shinichi Suzuki, evidentemente, encantou o mundo muito antes de se conhecer

    o interior da mente humana e a maneira como esta opera o conhecimento e, por sua

    vida, sua prpria transformao. Sem o saber, antecipou o que hoje as cincias

    cognitivas revelam que com ternura, pacincia e, sobretudo, persistncia, podemos

    fazer de qualquer criana um ser completo. Basta querer.

    2.1. RELAO ENTRE ALEXANDER E SUZUKI

    O que percebo entre Alexander e Suzuki, que ambos entendem e acreditam que

    comear o estudo do instrumento, na infncia, sendo o aluno bem instrudo ,

    favorecer o processo da aprendizagem. Como prope Alexander, mesmo o adulto

    pode criar novos hbitos ao tocar buscando repensar os movimentos do corpo e

    eliminar os vcios. Suzuki tinha esse pensamento. Quando diz em seu livro que, j

    adulto, buscava desenhar letras bonitas cada vez que escrevia e pode perceber o

    resultado dessa constante vigilncia. A criana tem facilidade por estar fisicamente

    em formao.

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    CAPTULO 3

    AULAS DE VIOLINO: COMO TUDO ACONTECE

    1 EXEMPLO

    Uma das alunas que dou aula tem nove anos. Esta, nunca fez aula de violino

    anteriormente. Foi incentivada pelos seus pais a fazer aula de msica. Seu primeiro

    contato com o instrumento foi na primeira aula. Ainda no possua o instrumento, por

    isso, apresentei o meu violino e expliquei as particularidades e as funes que ele

    exerce. Por ser a aluna criana, meu instrumento no foi o apropriado devido ao

    tamanho. Como a proposta da primeira aula era ensinar a postura do instrumentista e

    como segurar o instrumento, no foi possvel que isso acontecesse de forma

    satisfatria. O instrumento era muito grande, gerando assim, um desconforto para a

    sustentao. Isso causou algumas tenses musculares. Depois desta primeira aula,

    orientei aos pais qual seria o melhor instrumento e tamanho para a aluna iniciar suas

    aulas.

    Apresentei aos pais pontos importantes sobre a filosofia do mtodo Suzuki. Esses

    pontos so (Suzuki, 1983)

    Participao dos pais no aprendizado

    Ambiente musical favorvel

    Postura positiva dos pais e professores no aprendizado do aluno

    No utilizao de censura na correo inoportuna

    Qualidade nos estudos

    Respeito individualidade de cada aluno

    Repetio com constante avaliao

    Prtica diria em sees curtas

    Repertrio comum para facilitar a socializao

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    Carter primeiro, habilidade depois

    A partir da, expliquei para os pais a importncia da participao dos mesmos nos

    estudos da filha. Comentei que a filosofia do Suzuki estimula que os pais tambm

    toquem violino para incentivar os filhos.

    Com o instrumento novo, a aluna respondeu s expectativas. Ao segurar o

    instrumento, se sentiu um pouco incomodada por ser um instrumento assimtrico.

    Porm, o instrumento do tamanho ideal proporcionou o alcance dos estudos

    propostos. Desta forma, a aluna comeou a praticar e a se interessar. Nesta (segunda)

    aula, comeamos a praticar exerccios de arco. Mariana Salles afirma que:

    O dtach , sem dvida nenhuma, o golpe de arco bsico mais importante datcnica violinstica. Bsico por ser tratado de movimento primrio: Uma criana,por exemplo, ao tomar posse de violino e arco, realiza intuitivamente o movimentomotriz que origina o dtach,ou seja, o movimento de vai-e-vem do arco. (Salles,1998, p.61)

    Este golpe importante, pois o movimento de vai-e-vem, que caracterstico

    deste golpe, se estende a outros tipos de golpe. Normalmente, as crianas costumam,

    ao pegar no arco, tocar em todas as cordas, gostam de explor-las. Isto vlido, pois

    o aluno se familiariza com o som de todas as cordas. Essa postura dos alunos, s

    vezes, continua em outras aulas.

    Quando os pais assistem aula, os alunos se comportam de forma diferente.

    Os alunos fazem de imediato todos os exerccios que proponho, visando mostrar para

    os pais suas habilidades. Consequentemente, as aulas so mais produtivas e h um

    melhor desempenho.

    As primeiras msicas do mtodo Suzuki esto no mbito da primeira e

    segunda corda. O dtach o golpe utilizado nestas msicas iniciais. A primeira

    msica aprendida foi Variation A, popularmente chamada de Laranjada Doce. Este

    nome popular usado, pois a msica contm no primeiro compasso a clula rtmica

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    de quatro semicolcheias e duas colcheias. Esta clula rtmica foi diretamente

    associada s duas palavras. As quatro semicolcheias correspondem palavra

    Laranjada, que possui quatro slabas. As duas colcheias foram associadas palavra

    Doce, que possui duas slabas (Suzuki, 1978).

    2 EXEMPLO

    Dei aula tambm para um outro aluno, de quinze anos de idade, que nunca tinha

    feito aula de violino anteriormente. J havia pesquisado sobre o instrumento, mas no

    tinha adquirido. Seu primeiro contato foi na aula. Na primeira aula, expliquei sobre o

    instrumento e emprestei o meu violino para o aluno. Como este aluno tinha quinze

    anos, teve mais facilidade de se adaptar ao meu violino, pois sua altura correspondia

    ao tamanho do instrumento. Fizemos exerccio para a mo direita com o intuito de se

    familiarizar com o arco, e tambm estimular independncia dos movimentos das

    mos. Nas primeiras aulas, o aluno no possua espaleira (assesrio usado para apoiar

    o violino no ombro). Aps dois meses, o aluno a adquiriu. Este fato facilitou a

    execuo dos exerccios. Porm, este aluno teve que se adaptar novamente melhor

    posio do corpo. Este fato requer uma conscientizao da diferenas dos

    movimentos e do toque que era feito anteriormente para os movimentos que seriam

    feitos a partir do uso da espaleira. Tendo o aluno iniciado o processo de adaptao,

    pudemos continuar os exerccios citados, ou seja, mecanismos como aquecimento,

    escala e arpejos em uma oitava e golpes de arco e repertrio do Suzuki.

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    CONSIDERAES FINAIS

    A partir das aulas de violino, podemos constatar a importncia do papel do

    professor como mediador e facilitador do processo ensino-aprendizagem. necessrio o

    embasamento terico, digo, conhecimento prvio, e objetivo claro na aplicabilidade de

    qualquer mtodo a ser desenvolvido com o aluno.

    Em minhas aulas, procuro colocar em prtica, e passar para os alunos, na medida

    do possvel, exerccios que aprendi com a tcnica de Alexander. Os princpios da

    tcnica de Alexander so de suma importncia para diversos fatores. No estudo

    violinstico, a postura corporal e o relaxamento so itens que contribuem para o melhor

    desempenho do instrumentista. Essa pesquisa me ajudou a aprimorar os conhecimentos

    que tinha em relao tcnica de Alexander, como tambm, adaptar o mtodo Suzuki

    nossa realidade, pois ao lecionar, tenho observado em meus alunos, atravs do contexto

    em que vivem, que mudanas precisam ser feitas, principalmente com os alunos que

    ainda esto na infncia. Esses alunos so fortemente influenciados pelos pais, que

    depositam uma expectativa prodigiosa nos filhos sem nenhum comprometimento na

    participao direta e necessria neste aprendizado.

    Talvez seja possvel concluir que a Filosofia de Alexander (meios para um

    fim) fator fundamental para a boa avaliao e medio do conhecimento da parte do

    professor, pois este, para ter uma resposta satisfatria do aluno deve ter seu foco voltadopara as caractersticas anatmicas, respeitando-as e analisando os caminhos do aluno

    para a boa execuo, deixar claro para o estudante que esses caminhos so bem vindos e

    importantes para a tcnica.

    fundamental o professor, enquanto mediador do conhecimento, estar atento s

    demandas apresentadas pelos diversos grupos de alunos, mobilizar-se e

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    instrumentalizar-se para melhor exercer seu papel. A educao musical um caminho

    para o auto-conhecimento do homem para a sua auto-realizao.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALCANTARA, Pedro de.Indirect Procedures: A Musicians Guide to the Alexander

    Technique.New York. Oxford University Press Inc., 1997.

    ALEXANDER, F. M. The Use of Your Self. London: Orion Books Ltd, 1985

    Elizabeth A. H. Green, second edition. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall,

    GALAMIAN, Ivan. Principles of Violin Playing and Teaching, with a postscript by

    Elizabet A. H. Green, second edition. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1985.

    SALLES, Mariana Isdebski.Arcadas e golpesde arco: A questo da tcnica Violinstica

    no Brasil: proposta de definio de arcadas e golpes de arco. Braslia: Thesaurus, 1998.

    SUZUKI, Shinichi. Suzuki Violin School Volume 1.Miami, Florida, 1978.

    SUZUKI, Shinichi.Educao Amor. Trad.de Anne Corinna Gottberg.Santa Maria,

    Universidade Federal de santa Maria, 1983.

    http://www.tecnicadealexander.com/artigos.htm

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    A INFLUNCIA DA POSTURA CORPORAL NA PRTICA VIOLINSTICA

    por

    JNATAS SOARES DA SILVA

    Monografia apresentada para o curso deLicenciatura Plena - Habilitao emMsica do Instituto Villa-Lobos, Centrode Letras e Artes da UNIRIO, sob aorientao da Professora Mariana Salles.

    Rio de Janeiro, 2008

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    SILVA, Jnatas Soares da.A Influncia da Postura Corporal na Prtica Violinstica. 2008.(Licenciatura Plena em Educao Artstica Habilitao: Msica) Instituto Villa-Lobos,Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

    RESUMO

    Esta monografia tem o objetivo de constatar a influncia que a postura corporalexerce na prtica violinstica. Para isso, realizei um estudo de caso das aulas de violino queleciono para alunos de diferentes idades. Descrevi alguns pontos que tenho percebido noestudo do violino durante a minha experincia como professor. O mtodo do instrumentoutilizado nas aulas foi de Shinichi Suzuki. Atravs da proposta deste mtodo, apliquei atcnica proposta por Frederick Matthias Alexander, que estimula a conscientizao daimportncia da boa postura.

    ii

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    Palavras-chave: Violino, Mtodo Suzuki, tcnica de Alexander

    Educao Amor

    Shinichi Suzuki1983

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    AGRADECIMENTOS

    Deus

    minha famlia

    minha orientadora, Mariana Salles, que tanto me

    incentivou no ensino e no estudo do violino

    todos os meus professores

    todos os meus amigos e msicos.

    iv

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    SUMRIO

    INTRODUO......................................................................................................................1

    CAPTULO I - A TCNICA DE ALEXANDER COMO PROPOSTA DE POSTURA NAPRTICA VIOLINSTICA...............................................................................................5CAPTULO II - O MTODO SUZUKI: PRINCPIOS E FILOSOFIA NA PRTICAVIOLINSTICA....................................................................................................................14

    CAPTULO III - AULAS DE VIOLINO: COMO TUDO ACONTECE.............................19

    CONSIDERAES FINAIS................................................................................................22

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................24

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