os upanishads - traduzido por swami prabhavananda (português)

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  • 8/14/2019 Os Upanishads - Traduzido por Swami Prabhavananda (Portugus)

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    SUMRIO

    PREFACIO 3INTRODUO 6OS UPANISHADS 8I. ISHA 10II. KENA 13III. KATHA 16IV. PRASNA 23V. MUNDAKA 28VI. MANDUKYA 33VII. TAITTIRIYA 35VIII. AITAREYA 40IX. CHANDOGYA 43X. BRIHADARANYAKA 52XI. SWETASVATARA 70

    XII. KAIVALYA 78

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    PREFACIO

    PARECEU-ME adequado que esta traduo dos Upanishads fosse acompanhada de algumaspalavras com relao ao seu autor principal, Swami Prabhavananda.

    O primeiro indcio de que o futuro Swami iria seguir a vida religiosa surgiu aos treze anos quandoele leu O Evangelho de Rmakrishna,1 um vasto volume no qual um discpulo do grande santo do sculo

    XIX relatou detalhada e fielmente a vida do dia-a-dia do Mestre e suas palestras. 0 fato de o garoto terficado fortemente impressionado pelo que leu ali sobre Swami Brahmananda foi proftico, em parte devidoa algo que o atraa at no nome monstico do Swami, e em parte em virtude da posio reconhecida deSwami Brahmananda como sendo, num sentido especial, o filho espiritual do santo.

    Pouco tempo depois dessa primeira leitura do Evangelho, Swami Prabhavananda conheceu umdiscpulo, e tambm a viva de Sri Rma-krishna, conhecida pelos devotos como Me Sagrada. Algunsanos depois, quando estava com dezoito anos, encontrou-se pela primeira vez com o prprio SwamiBrahmananda. "Eu me senti imediatamente atrado por ele", diz Swami Prabhavananda, "como se ele fosseum amigo muito prximo e querido que eu no via h muito tempo. Eu nunca havia sentido tal amor antesna minha vida; era o amor dos pais e o amor de um amigo, tudo num s". Nos trs meses seguintes a esseencontro, o chamado da religio tornou-se premente, e o jovem respondeu com a resoluo esperada doKshatriya que ele era. Somente uma coisa importava para ele:ir imediatamente ter com Swami Brahmananda, que na ocasio estava residindo num mosteiro no sop do

    Himalaia, no extremo norte da ndia. Haviam dito a ele que o santo homem no acolhia com prazervisitantes no esperados, mas ele no se importava com isso. Com o dinheiro originalmente destinado staxas da universidade e aos seus gastos, enquanto estudasse, realizou o longo percurso de Calcut at asmontanhas. Eram quatro horas da manh e ainda estava escuro quando penetrou nas terras do mosteiro e seencontrou no meio de inmeros bangals, num dos quais - mas em qual? poderia esperar encontrar oobjeto da sua jornada. Caminhou diretamente para uma varanda, a fim de esperar ao lado de uma porta,mas, antes que pudesse sentar-se, o prprio Swami Brahmananda saiu exatamente por essa porta, e seusecretrio por outra. Ao ver o garoto, Swami Brahmananda disse simplesmente: "Ol! Voc est aqui." E,virando-se para o seu secretrio: "Providencie um lugar para ele. Ele vai ficar."

    Swami Prabhavananda foi iniciado como discpulo de Swami Brahmananda. Ele queria juntar-seimediatamente ao mosteiro, porm isso no era permitido. Ao final de um ms, seu mestre espiritualenviou-o de volta universidade para que conclusse sua educao.

    Seguiu-se ento um perodo de dois anos, nos quais os interesses religiosos cederam lugar em suamente a pensamentos polticos. Pela primeira vez em Bengala, estava-se organizando uma revoluo contrao domnio britnico e, com ardor patritico e coragem caracterstica, Swami Prabhavananda forneceu oapoio que sua juventude e aparente ingenuidade mais o habilitavam a dar. Pareceu-lhe ento que o grandedever dos hindus era lutar pela liberdade e, conseqentemente, retirar-se do mundo para a vida monsticaera, pelo menos para ele, injustificvel. Aos vinte anos, graduou-se no City College of Calcutta e ingressouimediatamente num estudo posterior de seis meses no departamento de filosofia do Calcutta UniversityCollege.

    Foi durante umas curtas frias que sua sorte finalmente foi selada. Com o objetivo de estudarShankara com Swami Shuddhananda, um especialista em snscrito de grande reputao e discpulo domundialmente famoso Swami Vivekananda, ele foi morar em Belur Math, o grande mosteiro no Ganges,perto de Calcut. Nesse local, diariamente, Swami Shuddhananda discutia com ele a respeito da vidamonstica e insistia com ele para que se tornasse um monge. A vigorosa oposio de SwamiPrabhavananda continuou, mas no por muito tempo, pois uma outrainfluncia compulsiva estava em ao. Swami Brahmananda estava hospedado no mosteiro, na ocasio, e

    Swami Prabhavananda estava freqentemente com ele."Uma manh", conta o Swami, falando a respeito do momento decisivo, "quando fui prostrar- me

    como de costume perante Maharaj" como Swami Brahmananda era chamado "um circunstanteperguntou: 'Quando que este garoto vai se tornar um monge?'. Maharaj olhou-me de cima a baixo erespondeu, calmamente: 'Quando Deus quiser.' E, quando ele disse essas palavras e olhou para mim, comuma inesquecvel doura nos olhos, todas as minhas idias revolucionrias sofreram repentinamente umarevoluo, e ento desci e disse a Swami Shuddhananda: 'Acabo de entrar para o mosteiro'."

    1 Publicado pela Editora Pensamento, S. Paulo.

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    Falando a respeito de Swami Brahmananda, quando este ainda era jovem, Sri Rmakrishna disse,certa vez: "Rakhal tem a inteligncia penetrante de um rei. Se ele o desejasse, poderia governar um grandereino." Essa observao teve um resultado apropriado. No decorrer dos ltimos vinte anos da vida deSwami Brahmananda, ele serviu, com grande sucesso, como lder da Ordem de Rmakrishna. Suas aptidesde executivo estavam altura da sua excelncia espiritual. Na ocasio da partida de Swami Prabhavanandada ndia, quando foi escolhido por seus superiores como representante da religio hindu na Amrica, umdiscpulo de Sri Rmakrishna lhe disse, referindo-se a Swami Brahmananda: "Nunca se esquea de quevoc viu um Filho de Deus. Voc viu Deus."

    Esse, ento, foi o homem de quem Swami Prabhavananda foi discpulo, e sob cuja orientaopassou cerca de doze anos de sua vida. Durante quatro ou cinco meses desse perodo, mestre e discpuloviveram na maior intimidade; e ouvir o Swami falar a respeito dessa experincia perceber que, naformao de um monge, do modo como esse processo era concebido por Swami Brahmananda, entravatanto o amargo como o doce sendo o amargo, entretanto, apenas a ltima e mais segura prova da doura.Aquele a quem Deus ama, ele castiga. Em determinada ocasio, Swami Prabhavananda estava todeprimido com as censuras do seu mestre que decidiu desertar o mosteiro e se esconder para sempre. Comesse pensamento, foi prostrar-se perante Maharaj e, silenciosamente, despedir-se dele. Maharaj disse-lheque se sentasse e continuou durante algum tempo com suas srias advertncias, lembrando seu discpulo detodos os seus erros; ento, com uma sbita mudana no seu procedimento, perguntou: "Voc pensa quepode fugir de mim?" As suaves palavras que o Mestre falou dispersaram toda a mgoa do jovem. "Emnenhum momento antes disso", diz Swami Prabhavananda, "eu tinha estado to profundamente consciente

    do seu amor e da sua proteo. Todo pensamento de fugir foi esquecido. Suas palavras acalmaram o meucorao ardente. Ele disse ento: 'Nosso amor to profundo que no deixamos voc saber quanto oamamos'."

    A sntese do que estou tentando dizer o seguinte: que Swami Prabhavananda introduz na suainterpretao dos Upanishads no somente uma familiaridade erudita com os textos snscritos, mastambm o conhecimento intuitivo que pde ser extrado da sua ntima associao com algum quepersonificava em sua mente e esprito, no mais elevado grau, a grande tradio intelectual e espiritual dandia. Ele foi discpulo do discpulo de uma pessoa que veio a ser considerada na ndia como o ltimo dasua lista de autnticos avatares.

    Nossa meta nesta traduo no foi realizar uma interpretao literal e, sim, permitindo-nos tantaliberdade quanto julgamos desejvel, transpor para um ingls simples e claro o sentido e o esprito dooriginal. Com freqncia, por exemplo, quando tivemos de escolher entre seguir exatamente o texto eexplic-lo posteriormente atravs de uma nota, ou ento ampliar o texto para incluir as explicaes

    necessrias, adotamos a segunda alternativa. No comeo de determinados Upanishads, onde uma traduoliteral poderia ter resultado em aspereza desagradvel ou em pobreza, acrescentamos acreditamos quediscretamente algumas palavras. Alm disso, de modo geral, nos sentimos livres para recorrer parfrase, para alterar a ordem dos detalhes, para omitir eventualmente palavras ou frases, talvez atmesmo uma orao, desde que tivssemos certeza de estar preservando fielmente a substncia e a intenodo original. Em resumo, dirigimos esta traduo mais para o pblico em geral, que se aproxima dosUpanishads para obter alimento espiritual, do que para o especialista profissional em snscrito.

    Com poucas excees, os textos originais aqui traduzidos esto em verso. Com raras excees, natraduo usamos a prosa. Apesar do que possa ter sido uma tentao natural, no fizemos nenhum esforono sentido de utilizar a linguagem usada na King James Version of the Bible, mas exatamente o oposto,sentindo que agindo assim preservaramos melhor o carter especial da escritura hindu.

    O Atman, do snscrito, que significa o Deus interior, foi traduzido sempre por Eu, 2 embora oequivalente verbal desse termo no aparea em nenhum lugar na filosofia hindu. Achamos melhor nos

    beneficiarmos da associao cujo emprego j enriqueceu a palavra inglesa do que tentarmos naturalizaruma expresso estrangeira para os ocidentais, totalmente despida de conotao espiritual. A slaba OMsmbolo de Brahman, ou Deus , para o hindu, divina; e em seus rituais pronunciada com umaressonncia solene, indefinidamente prolongada. Nossa forma tipogrfica para essa saudao ou bnoque repetida vrias vezes

    OM ... Paz - Paz Paz

    2 Self, em ingls.

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    pretende sugerir o mais aproximadamente possvel o modo como entoada.Os desvios da prosa so leves. Nos cnticos que precedem os vrios Upanishads, e especialmente

    no hino com o qual o Swetasvatara concludo, utilizamos uma forma que no prosa, e talvez nemmesmo verso, a no ser por cortesia, mas que nos pareceu produzir um realce que no pode serimediatamente obtido na prosa habitual. Esse realce parece ser particularmente desejvel para um hino,pois nele tanto a substncia quanto a forma alcanam uma qualidade potica que os Upanishads noalcanam em nenhum outro lugar. Realmente, a forma que utilizamos foi mais o resultado de um acidentedo que de um projeto. Uma passagem como

    Vs sois o fogo,Vs sois o Sol,Vs sois o ar,Vs sois a Lua,Vs sois o firmamento estrelado,Vs sois o Brahman Supremo:Vs sois as guas vs,O Criador de tudo!

    essa passagem, colocada na maneira sbria da prosa, pareceria tolhida, confinada ela pedia asas, noimporta quo fracas fossem; e, uma vez que tnhamos optado pelo uso de letras maisculas e de linhascurtas rtmicas, achamos melhor completar o hino da melhor forma possvel no mesmo estilo.

    Os sumrios acrescentados aos ttulos no so realmente sumrios, pois no fornecem um eptomeproporcional das partes que precedem. Eles apenas indicam os temas dominantes.

    Resta falar a respeito da minha participao no livro. Ela secundria. Sendo o ingls a minhalngua nativa, fiz o que era possvel para ajudar Swami Prabhavananda em seu empreendimento. Elesozinho assume a responsabilidade por todas as idias e opinies, por todas as interpretaes e declaraes.

    FREDERICK MANCHESTER

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    INTRODUO

    AS MAIS ANTIGAS ESCRITURAS da ndia, e as mais importantes, so os Vedas. Todos oshindus ortodoxos reconhecem neles a origem da sua f e o seu textoescrito mais autorizado.

    Os Vedas so em nmero de quatro: o Rig, o Sama, o Yajur e o Atharva. Cada um deles estdividido em duas partes: Trabalho e Conhecimento. A primeira composta principalmente de hinos,instrues com relao aos rituais e s cerimnias, e regras de conduta. A segunda diz respeito aoconhecimento de Deus, o aspecto mais elevado da verdade religiosa, e denominadaUpanishads.

    O significado literal de Upanishad, "sentando perto devotadamente", traz mente, de modopitoresco, um discpulo dedicado aprendendo com seu mestre. A palavra tambm significa "ensinamentosecreto" secreto, sem dvida, porque um ensinamento s outorgado queles que esto espiritualmenteprontos para receb-lo. Outra interpretao ainda fornecida pelo grande comentarista do sculo XVII,Shankara: conhecimento de Deus "o conhecimento de Brahman, o conhecimento que destri os laos daignorncia e leva meta suprema da liberdade".

    No se sabe quantos Upanishads j existiram. Cento e oito foram preservados, que variam emextenso de algumas centenas a muitos milhares de palavras, alguns em prosa, outros em verso, e outrosainda parte em prosa e parte em verso. Variam enormemente no estilo e na forma, freqentemente dentrodo mesmo Upanishad, ora sendo simples e concreta-mente narrativos, ora sutil e abstratamente descritivos,assumindo muitas vezes, em ambos os casos, uma forma de dilogo. Seu tom tambm flutua, e a seriedade

    e elevao caractersticas encontram um alvio ocasional num humor primitivo. No se sabe quem osescreveu e nem, com qualquer preciso, quando foram compostos. Os Rishis,3 cujo conhecimento intuitivoeles personificam, permanecem totalmente nos bastidores, impessoais como a verdade que defenderam,estando suas vidas pessoais perdidas para sempre, inclusive os seus nomes:

    In the dark backward and abysm of time.[No escuro reverso e no abismo do tempo.]

    Dos cento e oito Upanishads que foram conservados, dezesseis foram reconhecidos por Shankaracomo autnticos e oficiais. Ele escreveu elaborados comentrios sobre dez deles, que incluam citaes dosoutros seis; e foram esses dez que vieram a ser encarados como os principais Upanishads. Seus nomes soos seguintes: Isha, Kena, Katha, Prasna, Mundaka, Mandukya, Taittiriya, Aitareya, Chandogya,

    Brihadaranyaka. Juntos, eles constituem, e provavelmente sempre constituiro, o principal objeto de

    ateno de todos os que conheam a religio hindu.Uma das caractersticas dos Upanishads a sua homogeneidade. Muitas concepes queaparentemente diferem so encontradas neles, mas estas so, grosseiramente falando, encontradas em todoseles, e no distribudas, uma num Upanishad, outra em outro. verdade que um Upanishad poderenfatizar certas idias, ou determinado ponto de vista, mais do que o resto, ou poder especializar-se numtpico especfico; porm, tais distines parecem com freqncia puramente acidentais, e nunca soimportantes. As divises entre os Upanishads podem, portanto, para todas as finalidades prticas, sercompletamente abolidas, com todos os cento e oito Upanishads reduzidos a apenas um.

    Uma caracterstica mais importante surge do fato de os Upanishads representarem o trabalho desantos e profetas. Seus autores estavam preocupados em relatar o conhecimento intuitivo que veio a eles empensamento ou viso, e no em tornar esse conhecimento superficialmente coerente. Eles no eramformadores de sistemas, e sim narradores de experincias. Temos de estar preparados, portanto, paraencontrar aparentes inconsistncias, para esquecer uma concepo pela absoro temporria em outra. Nodevemos esperar encontrar toda a verdade reunida de uma vez para sempre numa formulao fcil,triunfante e consciente.

    Outra caracterstica ainda dos Upanishads est relacionada com a sua forma. Em nenhum outrolugar - poderia suspeitar um comendador idias foram registradas com to pouca considerao quanto sua convenincia. Em nenhum lugar existe um comeo lgico, ou um final coerente. Alm disso, em todasas ocasies, a ateno no est focalizada nas partes, claramente reconhecidas como partes, e sim no todo

    talvez numa afirmao concisa, completa e no analisada, ou em elementos particulares que formem,quando reunidos, uma concepo do momento.

    3 Nome dado aos videntes e sbios na literatura vdica (N. T.).

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    Para realizar o estudo dos Vedas, de acordo com uma longa tradio, e mesmo de acordo com osprprios Vedas, temos de ter um mestre, ou Guru: "Aproximai-vos de um mestre", lemos no Rik, "comhumildade e com desejo de servir"; e nos Upanishads: "A muitos no concedido ouvir falar NAQUELE"- significando Deus - "que habita a eternidade. Muitos, embora ouam falar dele, no o entendem.Maravilhoso aquele que fala a respeito dele. Inteligente aquele que aprende a respeito dele. Abenoado aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, capaz de compreend-lo."

    A funo de um bom mestre, como o hindusmo o concebe, dupla. Ele naturalmente explica asescrituras, em forma e contedo; porm, o que ainda mais importante, ele ensina atravs da sua vida:atravs das suas aes dirias, das suas palavras mais casuais, algumas vezes at atravs do seu silncio. Osimples fato de estar perto dele, de servi-lo e de obedecer-lhe humilde e reverentemente significa acelerar oesprito; e a finalidade do estudo das escrituras no mera ou primariamente informar o intelecto, e simpurificar e enriquecer a alma:

    Como so agradveis o estudo e o ensinamento dos Vedas!Aquele que se ocupa com essas coisas alcana a concentraoE no mais um escravo de suas paixes;Piedoso, autocontrolado, disciplinado no esprito,Ergue-se para a celebridade e uma bno para a humanidade.

    Dissemos que o hindu ortodoxo encara os Vedas como o seu texto escrito mais autorizado.

    Qualquer escritura subseqente, para ser encarada por ele como vlida, tem de ser compatvel com osVedas: poder desenvolv-los, ampli-los, e ainda assim ser reconhecida; no poder, porm, contradiz-los. Os Vedas representam para o hindu, o mais aproximadamente que um documento humano poderepresentar, a expresso da verdade divina. Ao mesmo tempo, seria um engano supor que sua lealdade autoridade dos Vedas seja servil ou cega. Se ele os considera a palavra de Deus, porque acredita que suaverdade seja comprovvel, imediatamente, a qualquer momento, atravs da sua experincia pessoal. Se ohindu verificasse, aps o devido exame, que no eram to comprovveis, ele os rejeitaria. Se descobrisseque determinada parte deles no era to comprovvel, ele a rejeitaria. E nessa posio as escrituras, ele lhedir, o sustentam. O verdadeiro estudo, dizem os Upanishads, no um estudo deles mesmos, e sim umestudo daquilo "atravs do qual percebemos o imutvel". Em outras palavras, o verdadeiro estudo, nareligio, significa vivncia direta de Deus.

    Na verdade, o termo Vedas, como empregado pelos ortodoxos, no designa apenas um grandecorpo de textos transmitidos de gerao a gerao, porm, em outro sentido, simboliza nada menos do quea verdade inexprimvel da qual as escrituras so necessariamente um plido reflexo. Considerados sob essesegundo aspecto, os Vedas so infinitos e eternos. Eles representam esse conhecimento perfeito que Deus.Em resumo, eles so idnticos ao Verbo do cristo So Joo: "No incio era o Verbo, e o Verbo estava comDeus, e o Verbo era Deus."

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    OS UPANISHADSSopro Vital do Eterno

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    Assim como fumaa e fascas se erguem de um fogo acendido com lenha

    umedecida, Maitreyi aspirou do Eterno todo o conhecimento e toda a

    sabedoria. o que conhecemos como o Rig Veda, o Yajur Veda, e o resto.Eles so o flego do Eterno.

    - BRIHADARANYAKA

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    IISHA

    A Vida no mundo e a vida no esprito no so incompatveis. O trabalho, ou aao, no contrrio ao conhecimento de Deus, porm, na verdade, se

    realizado sem apego, um instrumento para ele. Por outro lado, a renncia

    significa renncia do ego, do egosmo - no da vida. A finalidade, tanto do

    trabalho como da renncia, conhecer o Eu interiormente e Brahman

    exteriormente, e perceber sua identidade. O Eu Brahman, e Brahman

    tudo.

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    ISHAPreenchidas totalmente com Brahman esto as coisasque vemos,

    Preenchidas totalmente com Brahman esto as coisasque no vemos.

    De Brahman flui tudo o que existe:

    De Brahman, tudo - todavia, ele ainda o mesmo.OM... Paz - paz - paz.

    NO CORAO de todas as coisas, de tudo o que existe no Universo, habita Deus. Somente ele realidade. Portanto, renunciando s vs aparncias, rejubilai-vos nele. No cobiceis a riqueza de ningum.

    Bem pode ficar satisfeito de viver cem anos aquele que age sem apego que realiza seu trabalhocom zelo, porm sem desejo, no ansiando por seus frutos ele, e somente ele.Existem mundos sem sis, cobertos pela escurido. Para esses mundos vo depois da morte os ignorantes,assassinos do Eu.

    O Eu um s. Sendo imvel, ele se move mais rpido do que o pensamento. Os sentidos no oalcanam, pois ele sempre vai primeiro. Permanecendo imvel, ultrapassa tudo o que corre. Sem o Eu, noh vida.

    Para o ignorante, o Eu parece mover-se embora ele no se mova. Ele est muito distante doignorante embora esteja prximo. Ele est dentro de tudo, e est fora de tudo.

    Aquele que v todos os seres no Eu, e o Eu em todos os seres, no odeia ningum.Para a alma iluminada, o Eu tudo. Para aquele que v harmonia em todos os lugares, como pode

    haver iluso ou pesar?O Eu est em todos os lugares. Ele brilhante, imaterial, sem mcula de imperfeio, sem osso,

    sem carne, puro, intocado pelo mal. Aquele que v, Aquele que pensa, Aquele que est acima de tudo, oAuto-Existente ele e' aquele que estabeleceu a ordem perfeita entre objetos e seres desde o tempo queno tem princpio.

    escurido esto destinados os que se dedicam apenas vida no mundo, e a uma escurido aindamaior os que se entregam apenas meditao.

    Viver somente no mundo leva a um resultado, meditar apenas leva a outro. Assim falaram ossbios.

    Aqueles que se dedicam tanto vida no mundo como meditao superam a morte atravs da vidano mundo e atingem a imortalidade atravs da meditao.

    escurido esto destinados os que cultuam somente o corpo, e a uma escurido ainda maior osque veneram apenas o esprito.

    Cultuar somente o corpo leva a um resultado, venerar apenas o esprito leva a outro. Assimfalaram os sbios.

    Os que veneram tanto o corpo como o esprito, pelo corpo vencem a morte, e pelo esprito atingema imortalidade;4

    A face da verdade est oculta por vosso obre dourado, Sol. Removei-o, para que Eu, que soudedicado verdade, possa contemplar a sua glria.5

    vs que alimentais, o nico que v, o que tudo controla Sol que ilumina, fonte de vida paratodas as criaturas retende a vossa luz, reuni os vossos raios. Possa Eu contemplar atravs da vossa graaa vossa forma mais abenoada. O Ser que a habita- mesmo esse Ser sou Eu.

    Permiti que minha vida agora se una vida que tudo permeia. As cinzas so o fim do meu corpo.OM... mente, lembrai-vos de Brahman. mente, lembrai-vos das vossas aes passadas. Lembrai-vos de

    Brahman. Lembrai-vos das vossas aes passadas.

    4 Em snscrito, este verso e os cinco precedentes so extremamente obscuros. Os comentaristas os explicam de diversasmaneiras, e no muito claramente.5 Neste verso, o Sol simboliza o Eu, ou Brahman, como comum nos Vedas. O orbe dourado, bem como os raios e aluz, do verso seguinte, Maya, o mundo da aparncia.

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    deus Agni, levai-nos felicidade. Vs conheceis nossas aes. Preservai-nos da ilusria atraodo pecado. A vs oferecemos nossas saudaes, uma e outra vez.6

    6 Este verso e o precedente constituem uma orao que pronunciada no momento da morte. Ainda hoje soempregados pelos hindus nos seus rituais fnebres. A mente aconselhada a se lembrar de suas aes passadas porqueso essas aes que acompanham a alma que parte e determinam a natureza da encarnao seguinte. Como a cremaoenvolve o fogo, natural que seja dirigida pelo deus do fogo, Agni. O deus invocado aqui na sua prpriapersonalidade e tambm como um smbolo de Brahman.

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    IIKENA

    O poder que est por trs de todas as atividades da Natureza e do homem o

    poder de Brahman. Perceber essa verdade tornar-se imortal.

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    KENAQue a quietude desa sobre os meus membros,Minha fala, meu flego, meus olhos, meus ouvidos;

    Que todos os meus sentidos se tornem claros e fortes.Que Brahman se mostre a mim.Que eu jamais negue Brahman, e nem Brahman a mim.

    Eu com ele e ele comigo -possamos morar sempre juntos.Que seja revelada a mim,

    Que sou dedicado a Brahman,A sagrada verdade dos Upanishads.OM... Paz -paz - paz.

    QUEM COMANDA a mente para que ela pense? Quem ordena que o corpo viva? Quem faz alngua falar? Quem o Ser radiante que conduz o olho forma e cor, e o ouvido ao som?

    O Eu o ouvido do ouvido, a mente da mente, a fala da fala. Ele tambm o alento do alento, oolho do olho. Ao abandonarem a falsa identificao do Eu com os sentidos e com a mente, e ao saberemque o Eu Brahman, os sbios, ao deixarem este mundo, tornam-se imortais.

    O olho no o v, nem a lngua o exprime, nem a mente o alcana. No o conhecemos e nempodemos ensin-lo. Ele diferente do conhecido, e diferente do desconhecido. Foi o que ouvimos dos

    sbios. Aquilo que no pode ser expresso em palavras mas pelo qual a lngua fala sabei que Brahman. Brahman no e' o ser que adorado pelos homens.

    Aquilo que no compreendido pela mente, mas pelo qual a mente compreende sabei que Brahman. Brahman no o ser que adorado pelos homens.

    Aquilo que no visto pelo olho, mas pelo qual o olho v sabei que Brahman. Brahman no o ser que adorado pelos homens.

    Aquilo que no ouvido pelo ouvido, mas pelo qual o ouvido ouve - sabei que Brahman.Brahman no o ser que adorado pelos homens.

    Aquilo que no trazido pelo sopro vital, mas pelo qual o sopro vital trazido, sabei que Brahman. Brahman no o ser que adorado pelos homens.

    Se pensais que conheceis bem a verdade de Brahman, sabei que conheceis pouco. 0 que pensaisser Brahman no vosso Eu, ou o que pensais ser Brahman nos deuses no Brahman. Deveis, portanto,aprender o que realmente a verdade de Brahman.

    No posso dizer que conheo Brahman totalmente. Nem posso dizer que no o conheo. Aqueledentre ns que melhor o conhece quem entende o esprito das palavras: "Eu nem sei que no o conheo".

    Aquele que verdadeiramente conhece Brahman quem sabe que ele est alm do conhecimento;aquele que pensa que sabe, no sabe. O ignorante pensa que Brahman conhecido, porm os sbios sabemque ele est alm do conhecimento.

    Aquele que percebe a existncia de Brahman por trs de todas as atividades do seu ser - sejasensao, percepo ou pensamento somente ele obtm a imortalidade. Atravs do conhecimento deBrahman, vem o poder. Atravs do conhecimento de Brahman, revela-se a vitria sobre a morte.

    Abenoado o homem que enquanto ainda vive percebe Brahman. O homem que no o percebesofre sua maior perda. Quando deixam esta vida, os sbios, que perceberam Brahman como o Eu em todosos seres, tornam-se imortais.

    Em determinada ocasio, os deuses obtiveram uma vitria sobre os demnios e, apesar de o teremfeito apenas atravs do poder de Brahman, ficaram extremamente vaidosos. Eles disseram a si prprios:"Fomos ns que derrotamos os nossos inimigos, e a glria nossa."

    Brahman percebeu a vaidade deles e apareceu diante deles. Porm eles no o reconheceram.Os outros deuses ento disseram ao deus do fogo: "Fogo, descobri para ns quem esse misterioso

    esprito.""Sim", disse o deus do fogo, e aproximou-se do esprito. O esprito lhe disse:"Quem sois vs?""Sou o deus do fogo. Alis, sou muito conhecido."

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    "E que poder exerceis?""Posso queimar qualquer coisa que exista sobre a Terra.""Queimai isto", disse o esprito, colocando palha sua frente.O deus do fogo caiu em cima da palha com toda a sua fora, mas no pde consumi-la. Ento

    voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse:"No posso descobrir quem esse misterioso esprito."Os outros deuses disseram ento ao deus do vento: "Vento, descobri para ns quem ele.""Sim", disse o deus do vento, e aproximou-se do esprito. O esprito lhe disse:"Quem sois vs?""Sou o deus do vento. Alis, sou muito conhecido. Vo velozmente atravs doscus.""E que poder exerceis?""Posso soprar para longe qualquer coisa que se encontre sobre a Terra.""Soprai isto para longe", disse o esprito, colocando palha diante dele.O deus do vento caiu em cima da palha com toda a sua fora, porm foi incapaz de mov- la.

    Ento, voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse:"No posso descobrir quem esse misterioso esprito."Os outros deuses disseram ento a Indra, o maior deles todos: " respeitvel, descobri para ns,

    ns vos suplicamos, quem ele.""Sim", disse Indra, e aproximou-se do esprito. Porm o esprito desapareceu, e em seu lugar

    surgiu Uma, a Deusa-Me, bem-adornada e de uma beleza extraordinria. Contemplando-a, Indra

    perguntou:"Quem era o esprito que apareceu para ns?""Aquele", respondeu Uma, "era Brahman. Foi atravs dele, e no de vs mesmos, que obtivestes a

    vitria e a glria."Desse modo, Indra, o deus do fogo e o deus do vento, reconheceram Brahman.O deus do fogo, o deus do vento e Indra - eles superaram os outros deuses, pois chegaram mais

    perto de Brahman, e foram os primeiros a reconhec-lo.Porm, dentre todos os deuses, Indra supremo, pois ele foi dos trs o que chegou mais perto de

    Brahman, e foi o primeiro deles a reconhec-lo.Essa a verdade de Brahman com relao Natureza: seja no claro do relmpago, ou no piscar

    dos olhos, o poder que aparece o poder de Brahman.Essa a verdade de Brahman com relao ao homem: nos movimentos da mente, o poder que

    aparece o poder de Brahman. Por esse motivo, um homem deveria meditar sobre Brahman de dia e de

    noite. Brahman o adorvel ser em todos os seres. Meditai sobre ele assim. Aquele que medita dessemodo sobre ele respeitado por todos os outros seres.

    Um DiscpuloSenhor, ensinai-me mais sobre o conhecimento de Brahman.

    O MestreJ vos revelei o conhecimento secreto. Austeridade, autocontrole, execuo das tarefas sem apego

    esse o corpo daquele conhecimento. Os Vedas so os seus membros. A verdade a sua verdadeiraalma.

    Aquele que alcana o conhecimento de Brahman, livrando-se de todo o mal, encontra o Eterno, oSupremo.

    OM ... Paz - paz - paz.

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    IIIKATHA

    O segredo da imortalidade encontrado na purificao do corao, na

    meditao, na realizao da identidade do Eu interiormente e de Brahman

    exteriormente. Pois a imortalidade simplesmente a unio com Deus.

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    KATHAOm...Que Brahman nos proteja,Que ele nos guie,Que nos d fora e entendimento correto.

    Que o amor e a harmonia estejam com todos ns.OM... Paz - paz - paz.

    EM DETERMINADA OCASIO, Vajasrabasa, esperando obter um favor divino, executou umritual que exigia que ele se desfizesse de todos os seus bens. Ele teve o cuidado, porm, de sacrificarsomente o seu gado e, dele, somente os animais inteis - os velhos, os estreis, os cegos e os aleijados. Aoobservar essa avareza, Nachiketa, seu filho mais novo, cujo corao havia recebido a verdade ensinada nasescrituras, disse para si mesmo: "Certamente, um devoto que ousa levar presentes to inteis est destinado total escurido!" Refletindo assim, dirigiu-se ao pai e falou:

    "Pai, eu tambm vos perteno: para quem me dareis?"Seu pai no respondeu; porm, quando Nachiketa repetiu a pergunta uma e outra vez, ele replicou

    impacientemente:"Eu vos darei Morte!"Nachiketa disse ento para si mesmo: "Sou de fato o melhor dentre os filhos e discpulos de meu

    pai, ou estou, pelo menos, na categoria intermediria, no na pior; porm, de que valor serei para o Rei daMorte?" Estando, porm, determinado a seguir a palavra do pai, disse:

    "Pai, no vos arrependais da vossa promessa! Considerai como tem acontecido com aqueles quepartiram antes, e como ser com aqueles que vivem agora. Como o milho, um homem amadurece e cai aosolo; como o milho, ele brota novamente na estao propcia."

    Aps falar assim, o rapaz viajou para a casa da Morte.Porm o deus no estava em casa, e Nachiketa esperou durante trs noites. Quando finalmente o

    Rei da Morte voltou, seus servos lhe disseram:"Um Brahmin, parecido com uma chama de fogo, chegou vossa casa como hspede, e vs no

    estveis aqui. Desse modo, uma oblao dever ser feita a ele. Rei, devereis receber vosso hspede comtodos os rituais costumeiros, pois se o chefe de uma casa no mostrar a devida hospitalidade a umBrahmin,perder o que mais preza os mritos das suas boas aes, sua integridade, seus filhos e seu gado."

    O Rei da Morte, ento, aproximou-se de Nachiketa e deu-lhe as boas-vindas com palavras polidas.

    " Brahmin", disse ele, "Eu vos sado. Vs sois de fato um hspede digno de todo respeito.Permiti, eu vos imploro, que nenhum mal caia sobre mim! Passastes trs noites em minha casa e norecebestes minha hospitalidade; pedi, portanto, trs ddivas - uma para cada noite."

    " Morte", replicou Nachiketa, "que assim seja. E como primeira dessas ddivas peo que meu paino fique ansioso a meu respeito, que sua ira se acalme, e que, quando me mandardes de volta, ele mereconhea e me d as boas-vindas."

    "Pela minha vontade", declarou a Morte, "vosso pai vos reconhecer e vos amar como antes; e, aover-vos vivo novamente, ficar com a mente tranqila, e dormir em paz."

    Nachiketa ento disse: "No cu no h medo de modo algum. Vs, Morte, no estais l, nemnaquele lugar onde o pensamento de ficar velho faz com que a pessoa estremea. L, livres da fome e dasede, e longe do alcance da dor, todos rejubilam e so felizes. Vs conheceis, Rei, o sacrifcio do fogoque leva ao cu. Ensinai-me esse sacrifcio, pois estou cheio de f. Esse o meu segundo desejo."

    Consentindo, ento, a Morte ensinou ao rapaz o sacrifcio do fogo, e todos os rituais e cerimnias

    que o acompanhavam. Nachiketa repetiu tudo o que havia aprendido, e a Morte, satisfeita com ele, disse:"Vou conceder-vos uma ddiva adicional. A partir de hoje esse sacrifcio ser denominadoSacrifcio Nachiketa, em vossa homenagem. Escolhei agora vossa terceira ddiva."

    Nachiketa, ento, pensou consigo mesmo, e disse:"Quando um homem morre, h esta dvida: Alguns dizem que ele existe; outros dizem que ele no

    existe. Se vs me ensinsseis, eu conheceria a verdade. Esse o meu terceiro desejo.""No", replicou a Morte, "mesmo os deuses certa vez ficaram intrigados com esse mistrio. A

    verdade com relao a isso realmente sutil, no fcil de ser compreendida. Escolhei alguma outraddiva, Nachiketa."

    Porm, Nachiketa no quis aceitar a recusa.

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    "Vs dizeis, Morte, que mesmo os deuses certa vez estiveram intrigados com esse mistrio, eque ele no fcil de ser compreendido. Certamente, no h melhor mestre para explic-lo do que vs - eno existe outra ddiva igual a essa."

    O deus replicou, mais uma vez tentando Nachiketa:"Pedi filhos e netos que vivero cem anos. Pedi gado, elefantes, cavalos, ouro. Escolhei para vs

    um poderoso reino. Ou, se no puderdes imaginar algo melhor, pedi isto: no apenas doces prazeres, mastambm o poder, alm de qualquer pensamento, para experimentar sua doura. Sim, verdadeiramente, fareide vs o supremo desfrutador de todas as coisas boas. Donzelas celestiais, de beleza excepcional, que noforam destinadas a mortais mesmo essas, com suas carruagens e seus instrumentos musicais, eu vosdarei, para vos servirem. No me peais, porm, Nachiketa, o mistrio da morte!"

    Nachiketa, contudo, manteve-se firme e disse: "Essas coisas duraro somente at o dia seguinte, Destruidor da Vida, e os prazeres que elas conferem desgastam os sentidos. Ficai, portanto, com os cavalose as carruagens, com a dana e a msica, para vs mesmo! Como poder desejar a riqueza, Morte, aqueleque uma vez j viu a vossa face? No, apenas a ddiva que escolhi somente isso eu peo. Tendodescoberto a companhia do imperecvel e do imortal, como quando vos conheci, como poderei eu, sujeito decadncia e morte, e conhecendo bem a vaidade da carne como poderei desejar vida longa?

    "Contai-me, Rei, o supremo segredo com relao ao qual os homens mantm dvidas. Nosolicitarei qualquer outra ddiva."

    Com o que, o Rei da Morte, bem satisfeito em seu corao, comeou a ensinar a Nachiketa osegredo da imortalidade.

    O Rei da MorteO bem uma coisa; o prazer outra. Esses dois, diferindo em seus propsitos, incitam ao.

    Abenoados so aqueles que escolhem o bem; aqueles que escolhem o prazer no atingem o objetivo.Tanto o bem como o prazer se apresentam ao homem. Os sbios, aps examinarem ambos, distinguem umdo outro. Os sbios preferem o bem ao prazer; os tolos, levados por desejos carnais, preferem o prazer aobem.

    Vs, Nachiketa, aps haverdes observado os desejos carnais, agradveis aos sentidos,renunciastes a todos eles. Vs vos desviastes do caminho lamacento no qual muitos homens se atolam.

    Distantes um do outro, e levando a diferentes desgnios, encontram-se a ignorncia e oconhecimento. Eu vos considero, Nachiketa, como algum que anseia pelo conhecimento, pois umainfinidade de objetos agradveis foram incapazes de tentar-vos.

    Vivendo no abismo da ignorncia, embora julgando-se sbios, tolos iludidos do voltas e voltas,

    cegos levados por cegos.Ao jovem irrefletido, enganado pela vaidade das posses terrenas, no mostrado o caminho que

    leva morada eterna. Somente este mundo real: no existe depois pensando assim, ele cai uma e outravez, nascimento aps nascimento, dentro das minhas mandbulas.

    A muitos no concedido ouvir sobre o Eu. Muitos, embora ouam a respeito dele, no ocompreendem. Maravilhoso aquele que fala a respeito do Eu. Inteligente aquele que aprende a respeitodo Eu. Abenoado aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, capaz de compreend-lo.

    A verdade do Eu no pode ser completamente compreendida quando ensinada por um homemignorante, pois as opinies a respeito dele, no fundamentadas no conhecimento, variam de um para outro.Mais sutil do que o mais sutil esse Eu, e alm de toda lgica. Ensinado por um mestre que saiba que o Eue Brahman so um s, um homem deixa para trs a v teoria e atinge a verdade.

    O despertar que conhecestes no vem do intelecto, e sim, totalmente, dos lbios dos sbios. Bem-amado Nachiketa, abenoado, abenoado sois vs, porque procurais o Eterno. Quisera eu ter mais

    discpulos como vs!Bem sei que os tesouros terrestres duram pouco. Pois no fiz eu mesmo, desejando ser o Deus daMorte, o sacrifcio com o fogo? O sacrifcio, porm, foi uma coisa efmera, realizada com objetos fugazes,e pequena minha recompensa, considerando que meu reino s durar por um momento.

    A finalidade do desejo mundano, os objetos fulgurantes que todos os homens almejam, os prazerescelestiais que esperam obter atravs de rituais religiosos tudo isso esteve ao vosso alcance. Porm, atudo isso renunciastes, com firme resoluo.

    O antigo, fulgurante ser, o Esprito que habita interiormente, sutil, profundamente oculto no ltusdo corao, difcil de ser conhecido. Porm, o homem sbio, que segue o caminho da meditao,conhece-o, e se torna liberto tanto do prazer como da dor.

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    O homem que aprendeu que o Eu est separado do corpo, dos sentidos e da mente, e que oconheceu por completo, a alma da verdade, o princpio sutil - tal homem verdadeiramente o alcana, e setorna extremamente satisfeito, pois encontrou a fonte e o local onde habita toda a felicidade.Verdadeiramente acredito, Nachiketa, que as portas da felicidade esto abertas para vs.

    Nachiketa

    Ensinai-me, Rei, eu vos suplico, o que sabeis estar alm do certo e do errado, alm da causa e doefeito, alm do passado, do presente e do futuro.

    O Rei da MorteDo objetivo que todos os Vedas proclamam, o qual est implcito em todas as penitncias, e em

    busca do qual homens levam vidas de continncia e de servio, dele falarei sucintamente.Ele - OM.Esta slaba Brahman. Esta slaba de fato suprema. Aquele que a conhece realiza o seu desejo.Ela o apoio mais forte. o smbolo mais elevado. Aquele que a conhece reverenciado como

    um conhecedor de Brahman.O Eu, cujo smbolo OM, Deus onisciente. Ele no nasce. Ele no morre. Ele no nem causa

    nem efeito. Esse Ser Antigo no nasceu, eterno, imperecvel; embora o corpo seja destrudo, ele no aniquilado.

    Se o assassino pensa que ele mata, se o assassinado cr que ele morto, nenhum dos dois conhecea verdade. O Eu no mata nem morto.Menor do que o menor, maior do que o maior, esse Eu habita para sempre dentro dos coraes de

    todos. Quando um homem est livre de desejos, com sua mente e seus sentidos purificados, ele contempla aglria do Eu e est sem sofrimento.

    Apesar de sentado, ele viaja para longe; embora descansando, ele move todas as coisas. Quem, ano ser o mais puro dos puros, pode perceber esse Ser Fulgurante, que a felicidade e que est alm dafelicidade?

    Ele no possui forma, embora habite a forma. No meio do transitrio, ele permanece perene. O Eu supremo e tudo permeia. O homem sbio, conhecendo-o em sua verdadeira natureza, transcende toda dor.

    O Eu no conhecido atravs do estudo das escrituras, nem atravs da sutileza do intelecto, nematravs de muito aprendizado. Mas conhecido por aquele que anseia por ele. 7 O Eu revelaverdadeiramente a ele o seu genuno ser.

    Um homem no poder conhec-lo atravs do aprendizado, se no desistir do mal, se no controlarseus sentidos, se no acalmar sua mente, e se no praticar a meditao.

    Para ele os Brahmins e os Kshatriyas so apenas alimento, e a morte em si um condimento.

    Tanto o eu individual como o Eu Universal penetraram na caverna do corao, o domiclio doMais Alto, porm os conhecedores de Brahman e os chefes de famlia que realizam os sacrifcios do fogoenxergam a diferena entre eles como entre a luz do Sol e a sombra.

    Possamos realizar o Sacrifcio Nachiketa, que transpe o mundo do sofrimento. Possamosconhecer o imperecvel Brahman, que nada teme, e que o objetivo e o refgio daqueles que procuram aliberao.

    Sabei que o Eu o cavaleiro, e que o corpo a carruagem; que o intelecto o cocheiro, e que amente so as rdeas.8

    Os sentidos, dizem os sbios, so os cavalos; as estradas por onde passam so os labirintos dodesejo. Os sbios consideram o Eu como aquele que se deleita quando est unido ao corpo, aos sentidose

    mente.Quando um homem no possui discernimento e sua mente est desgovernada, seus sentidos so

    incontrolveis, como os cavalos rebeldes de um cocheiro. Porm, quando um homem possui discernimentoe sua mente est controlada, seus sentidos, como os cavalos bem-domados de um cocheiro, obedecemalegremente s rdeas.

    7 Existe uma outra interpretao desta frase, que envolve o mistrio da graa: "Aquele que o Eu escolhe, por esse ele alcanado."8 Na psicologia hindu, a mente o rgo da percepo.

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    Aquele que no possui discernimento, cuja mente est instvel e cujo corao est impuro, nuncaalcana o objetivo, e nasce sempre de novo. Mas aquele que possui discernimento, cuja mente est firme ecujo corao puro, atinge a meta e, aps t-la alcanado, no nasce nunca mais.

    O homem que possui um entendimento slido como cocheiro, uma mente controlada como rdeas- ele que atinge o final da jornada, a morada suprema de Vishnu, o quetudo permeia.9

    Os sentidos originam-se dos objetos fsicos, os objetos fsicos, da mente; a mente, do intelecto; ointelecto, do ego; o ego, da semente no-manifestada; e a semente no-manifestada, de Brahman aCausa sem Causa.

    Brahman o fim da jornada. Brahman a meta suprema.Esse Brahman, esse Eu, profundamente oculto em todos os seres, no revelado a todos; mas queles quevem, puros de corao, de mente concentrada a eles revelado.

    Os sentidos do homem sbio obedecem sua mente; sua mente obedece ao seu intelecto; seuintelecto obedece ao seu ego; e seu ego obedece ao Eu.

    Acordai! Acordai! Aproximai-vos dos ps do Mestre e conhecei AQUELE. O caminho como almina afiada de uma navalha, dizem os sbios. estreito e difcil de trilhar!

    Sem som, sem forma, intangvel, imperecvel, sem gosto, sem cheiro, eterno, sem comeo, semfim, imutvel, alm da Natureza, assim o Eu. Quem o conhece como tal est livre da morte.

    O NarradorO homem sbio, tendo escutado e aprendido a verdade eterna revelada a Nachiketa pelo Rei da

    Morte, glorificado no cu de Brahman.Aquele que canta com devoo esse segredo supremo na assemblia dos Brahmins

    recompensado com ddivas imensurveis!

    O Rei da MorteO Auto-existente fez com que os sentidos se voltassem para fora. Conseqentemente, o homem

    olha para o exterior, e no v o que est no interior. Raro aquele que, ansiando pela imortalidade, fecha osolhos para o exterior e contempla o Eu.

    Os tolos seguem os desejos da carne e caem na armadilha da morte que tudo abrange; porm ossbios, sabendo que o Eu eterno, no procuram as coisas transitrias.

    Aquele atravs de quem o homem v, saboreia, cheira, ouve, sente e tem prazer o Senhoronisciente.

    Ele , verdadeiramente, o Eu imortal. Quem o conhece, conhece todas as coisas.Aquele atravs de quem o homem vivncia os estados de sono ou de viglia o Eu que tudo

    permeia. Quem o conhece no sofre mais.Aquele que sabe que a alma individual, que aproveita os frutos da ao, o Eu que est sempre

    presente interiormente, senhor do tempo, do passado e do futuro expulsa de si todo o medo. Pois esse Eu o Eu imortal.

    Aquele que v o Que-Nasceu-Primeiro - nascido da mente de Brahman, nascido antes da criaodas guas e o v habitando o ltus do corao, vivendo entre elementos fsicos, efetivamente vBrahman. Pois esse Que-Nasceu-Primeiro o Eu imortal.10

    Aquele ser que o poder de todos os poderes, e que nasceu como tal, que se incorpora noselementos e existe nestes, e que penetrou no ltus do corao, o Eu imortal.Agni, o que tudo v, o que se esconde nos gravetos, como uma criana bem-protegida no tero, que venerado diariamente por almas despertas, e por aqueles que oferecem oblaes no fogo do sacrifcio ele o Eu imortal.11

    Aquele no qual o Sol se levanta e no qual se pe, aquele que a fonte do todos os poderes daNatureza e dos sentidos, aquele que no pode ser transcendido por nada esse o Eu imortal.

    9 Vishnu aqui eqivale a Brahman.10 Brahman, a existncia absoluta, impessoal, quando associado com o poder denominadoMaya - o poder de evoluircomo universo emprico - conhecido como Hiranyagarbha, o Que-Nasceu-Primeiro.11 A referncia diz respeito ao sacrifcio vdico. Agni, cujo nome significa fogo, considerado como podendo ver tudo,o fogo simbolizando Brahman, o Revelador; os dois gravetos, que quando esfregados produzem o fogo, representam ocorao e a mente do homem.

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    O que est dentro de ns tambm est fora de ns. O que est fora tambm est dentro. Aquele quev diferena entre o que est dentro e o que est fora segue eternamente de morte para morte.

    Brahman s pode ser alcanado pela mente purificada. Apenas Brahman - nada mais . Aqueleque v o universo mltiplo, e no a nica realidade, segueeternamente de morte para morte.

    Aquele ser, do tamanho de um polegar, habita profundamente dentro do corao.12 Ele o senhordo tempo, do passado e do futuro. Quem o alcana nada mais teme. Verdadeiramente, ele o Eu imortal.

    Aquele ser, do tamanho de um polegar, como uma chama sem fumaa. Ele o senhor do tempo,do passado e do futuro, o mesmo hoje e amanh. Verdadeiramente, ele o Eu imortal.

    Como a chuva que cai numa colina, com torrentes descendo pelo lado, assim corre aquele quedepois de muitos nascimentos v a multiplicidade do Eu.

    Como a gua pura derramada dentro da gua pura permanece pura, assim o Eu permanece puro, Nachiketa, ao se unir com Brahman.

    Ao No-Nascido, cuja luz da conscincia brilha para sempre, pertence cidade de onze portes. 13

    Aquele que medita sobre o governante dessa cidade no conhece mais sofrimento. Ele atinge a liberao, epara ele no pode mais haver nascimento ou morte. Pois o governante dessa cidade o Eu imortal.

    O Eu imortal o Sol que brilha no cu, a brisa que sopra no espao, o fogo que queima noaltar, o hspede que habita a casa; ele est em todos os homens, est nos deuses, est no ter, est ondequer que esteja a verdade; ele o peixe que nasce na gua, a planta que cresce no solo, o rio que jorra damontanha ele, a realidade imutvel, o ilimitvel!

    Ele, o adorvel, instalado no corao, o poder que d o sopro vital. Todos os sentidos ohomenageiam.

    O que pode permanecer quando o habitante desse corpo abandona a concha grande demais, j queele , verdadeiramente, o Eu imortal?

    O homem no vive apenas do sopro vital e, sim, daquele dentro do qual est o poder do soprovital.

    E agora, Nachiketa, eu lhe falarei a respeito do que no pode ser visto, o Brahman eterno, e doque acontece com o Eu depois da morte.

    Dentre aqueles que ignoram o Eu, alguns entram em seres que possuem ventre, outros entram emplantas de acordo com suas aes e com o crescimento de suas inteligncias.

    Aquele que est desperto em ns mesmo enquanto dormimos, moldando em sonho os objetos donosso desejo esse realmente puro, esse Brahman, e esse verdadeiramente chamado o Imortal.Todos os mundos tm seus seres nele, e ningum pode transcend-lo. Esse o Eu.

    Assim como o fogo, apesar de ser nico, toma a forma de todos os objetos que consome, tambmo Eu, embora nico, toma a forma de todos os objetos que habita.Assim como o Sol, que revela todos os objetos quele que v, no atingido pelo olho pecador,

    nem pelas impurezas dos objetos que fita, tambm o Eu nico, habitando em tudo, no tocado pelos malesdo mundo. Pois ele transcende tudo.

    Ele nico, o senhor e o mais profundo Eu de tudo; a partir de uma forma ele faz de si mesmomuitas formas. quele que v o Eu revelado em seu prprio corao pertence a eterna bem-aventurana - aningum mais, a ningum mais!

    Inteligncia do inteligente, eterno entre o que transitrio, ele, embora nico, torna possvel osdesejos de muitos. quele que v o Eu revelado em seu prprio corao pertence a paz eterna e aningum mais, a ningum mais!

    Nachiketa

    De que modo, Rei, encontrarei esse bem-aventurado Eu, supremo, inexprimvel, que alcanado pelos sbios? Ele brilha por si mesmo ou reflete a luz de outrem?

    12 Os sbios atribuem ao Eu um tamanho definido, pequeno, de modo a auxiliar o discpulo na meditao.13 O No-Nascido o Eu; a cidade de onze portes o corpo com suas aberturas: os olhos, os ouvidos, etc.

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    O Rei da MorteEle no iluminado pelo Sol, nem pela Lua, nem pelas estrelas, nem pelo relmpago nem,

    verdadeiramente, pelo fogo aceso na Terra. Ele a nica luz que fornece luz para tudo. Brilhando ele, tudobrilha.

    Este Universo uma rvore que existe eternamente, com suas razes voltadas para cima e seus

    galhos espalhados embaixo. A raiz pura da rvore Brahman, o imortal, em quem os trs mundos tm suaexistncia, a quem ningum pode transcender, que verdadeiramente o Eu.14

    Todo o Universo veio de Brahman e se move em Brahman. Poderoso e terrvel ele, semelhanteao trovo que explode nos cus. Para os que o alcanam a morte no contm terror.

    Com medo dele o fogo queima, o Sol brilha, a chuva cai, os ventos sopram, e a morte mata.Se um homem falha em alcanar Brahman antes de abandonar o corpo, ter novamente de colocar

    um corpo no mundo das coisas criadas.Na alma de uma pessoa, Brahman percebido claramente, como se fosse visto num espelho.

    Tambm no cu de Brahman, Brahman claramente percebido, do mesmo modo como uma pessoadistingue a luz da escurido. No mundo dos pais ele contemplado como num sonho. 15 No mundo dosanjos ele aparece como se estivesse refletido na gua.

    Os sentidos tm origens separadas nos seus diversos objetos. Eles podem estar ativos, como noestado de viglia, ou podem estar inativos, como no sono. Aquele que sabe que eles so distintos do Euimutvel no sofre mais.

    Acima dos sentidos est a mente. Acima da mente est o intelecto. Acima do intelecto est o ego.Acima do ego est a semente no-manifestada, a Causa Primordial.

    Verdadeiramente, alm da semente no-manifestada est Brahman, o esprito que tudo permeia, oincondicionado, e quem o conhece obtm a liberdade e alcana a imortalidade.

    Ningum o contempla com os olhos, pois ele no tem forma visvel. Porm, no corao, ele revelado pelo autocontrole e pela meditao. Os que o conhecem se tornam imortais.

    Quando todos os sentidos esto imveis, quando a mente est em repouso, quando o intelecto notreme esse, dizem os sbios, o estado mais elevado.

    Essa serenidade dos sentidos e da mente foi definida como ioga. Aquele que a obtm liberta-se dailuso.

    Naquele que no est livre da iluso essa serenidade incerta, irreal: ela vem e vai. As palavrasno podem revelar Brahman, a mente no pode alcan-lo, os olhos no podem v-lo. Como, ento, a noser atravs daqueles que o conhecem, pode ele ser conhecido?

    Existem dois eus, o Eu aparente e o Eu verdadeiro. Desses dois, o Eu verdadeiro, e somente ele,que deve ser sentido como realmente existindo. Ao homem que o sentiu como realmente existindo elerevela sua mais profunda natureza.

    O mortal em cujo corao o desejo est morto torna-se imortal. O mortal em cujo corao os nsda ignorncia so desatados torna-se imortal. Essas so as verdades mais elevadas ensinadas nas escrituras.

    Existem cento e um nervos que se irradiam do ltus do corao. Desses nervos ascende o ltus demil ptalas do crebro. Se, quando um homem morre, sua fora vital subir e passar atravs desse nervo, eleatinge a imortalidade; porm, se sua fora vital passar atravs de outro nervo, ele vai para outro plano deexistncia, e permanece sujeito ao nascimento e morte.

    A Pessoa Suprema, do tamanho de um polegar, o Eu mais profundo, habita para sempre oscoraes de todos os seres. Como extramos a seiva da cana, assim deve o aspirante verdade, com grandeperseverana, separar o Eu do corpo. Sabei que o Eu puro e imortal sim, puro e imortal!

    O NarradorTendo aprendido do deus esse conhecimento e todo o processo da ioga, Nachiketa foi libertado dasimpurezas e da morte, e se uniu a Brahman. Assim tambm ser com outro se ele conhecer o Eu maisprofundo.

    Om... Paz paz paz.

    14 Os "trs mundos" so o cu, a terra e o inferno.15 Os pais so os espritos dos mortos bem-intencionados que habitam em outro mundo, colhendo os frutos das suasboas aes, porm sujeitos ao renascimento.

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    IVPRASNA

    O Homem composto de elementos como o sopro vital, aes, pensamento, e

    os sentidos - obtendo todos sua existncia do Eu. Eles surgiram do Eu, e no

    Eu finalmente desaparecero como as guas de um rio desaparecem no

    mar.

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    PRASNAOM . . .Com nossos ouvidos, ouamos o que bom.

    Com nossos olhos, contemplemos vossa integridade.Tranqilos no corpo, possamos ns, que vos veneramos,encontrar descanso.OM . . . Paz - paz - paz.OM. . . Salve o Eu supremo!

    SUKESHA, Satyakama, Gargya, Kousalya, Bhargava e Kabandhi, devotos e buscadores daverdade do supremo Brahman, aproximaram-se com f e humildade do sbio Pippalada.

    Disse o sbio: praticai a austeridade, a continncia e a f por um ano; fazei ento as perguntas quedesejardes. Se eu puder, responderei.

    Aps um ano, Kabandhi aproximou-se do mestre e perguntou:"Senhor, como foi que as criaturas comearam a existir?""O Senhor dos seres", replicou o sbio, "meditou e produziu Prana, a energia primordial, e Rayi, a

    doadora da forma, desejando que eles, macho e fmea, produzissem de inmeras maneiras criaturas para

    ele. "Prana, a energia primordial, o Sol; e Rayi, a substncia que d a forma, a Lua."Seja conhecido que todo este Universo, aquilo que grosseiro e aquilo que sutil, uma coisa s

    com Rayi. Conseqentemente, Rayi onipresente."Do mesmo modo, o Universo uma coisa s com Prana. O Sol que se levanta impregna o Leste,

    e enche com energia todos os seres que ali habitam; e, do mesmo modo, quando seus raios caem no Sul, noOeste, no Norte, no znite, no nadir e nas regies intermedirias, ele d vida a todos os seres que alihabitam.

    "O Prana a alma do Universo, e assume todas as formas; ele a luz que anima e ilumina tudocomo est escrito:

    "O sbio conhece aquele que assume todas as formas, que radiante, que tudo sabe, que a

    nica luz que d luz a tudo. Ele se levanta como o Sol de mil raios, e permanece em lugares infinitos.""Prana e Rayi, unindo-se, dividem o ano. Dois so os caminhos do Sol dois so os caminhos

    que os homens percorrem depois da morte. Eles so os caminhos do Sul e do Norte."Aqueles que desejam descendentes e se dedicam a dar esmolas e realizar rituais, e consideram

    essas as mais elevadas realizaes, alcanam o mundo da Lua e renascem diversas vezes sobre a Terra. Elespercorrem o caminho do Sul, que o caminho dos pais, e na verdade Rayi, a criadora das formas.

    "Porm, aqueles que so dedicados venerao do Eu, atravs da austeridade, da continncia, daf e do conhecimento, percorrem o caminho do Norte e atingem o mundo do Sol. O Sol, a luz , naverdade, a fonte de toda energia. Ele imortal, est alm do medo; a meta suprema. Para aquele que vaipara o Sol no existe mais nascimento ou morte. O Sol acaba com o nascimento e a morte.

    "Prana e Rayi, unindo-se, formam o ms. A quinzena escura Rayi, a clara Prana. Os sbiosexecutam seus rituais devocionais luz, com conhecimento; os tolos, na escurido, na ignorncia.

    "O alimento Prana e Rayi. Do alimento produzida a semente, e da semente, por sua vez,nascem todas as criaturas.

    "Aqueles que veneram o mundo da criao produzem crianas; mas somente aqueles que sofirmes na continncia, na meditao e na verdade atingem o mundo de Brahman.

    "O mundo puro de Brahman s pode ser atingido por aqueles que no so mentirosos, perversos oufalsos."

    Bhargava, ento, aproximou-se do mestre e perguntou:"Sagrado senhor, quantos poderes contm este corpo ? Quais os que

    mais se manifestam nele? E qual o maior?""Os poderes", replicou o sbio, "so o ter, o ar, a gua e a terra-

    que so os cinco elementos que compem o corpo; e, alm desses, a fala, a mente, o olho, o ouvido e orestante dos rgos sensoriais. Uma vez esses poderes fizeram a orgulhosa declarao: 'Ns mantemos o

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    corpo unido e o sustentamos.' Prana, a energia primordial, suprema sobre todos eles, lhes disse: 'No vosenganeis. Sou eu sozinho que, ao me dividir cinco vezes, mantenho o corpo unido e o sustento.' Mas elesno acreditaram nisso.

    "Prana, para se justificar, fingiu que ia abandonar o corpo.. Porm, quando se levantou e pareceuestar indo embora, todos os outros perceberam que, se ele fosse embora eles tambm teriam que partir; equando Prana se sentou novamente, os outros acharam seus respectivos lugares. Como as abelhas saemquando sua rainha sai e voltam quando ela volta, assim foi com a fala, a mente, a viso, a audio, e orestante. Convencidos do seu erro, os poderes ento louvaram Prana, dizendo:

    " 'Como fogo, Prana queima; como o Sol, ele brilha; como nuvem, ele chove; como Indra, governaos deuses; como vento, ele sopra; como a Lua, nutre a todos. Ele aquilo que visvel, e tambm aquiloque invisvel. Ele a vida imortal.

    " 'Como os raios do cubo de uma roda, tudo firmado em Prana ORig, O Yajur, O Sama, todosos sacrifcios, os Kshatriyas e os Brahmins.

    " ' Prana, senhor da criao, vs vos moveis dentro do tero, e nasceis novamente. Para vs que,como o sopro vital, habitais o corpo, todas as criaturas trazem oferendas.

    " 'Vs, como fogo, levais oblaes aos deuses; e atravs de vs os pais recebem suas oferen das.Dais a cada rgo dos sentidos sua funo.

    " 'Prana, vs sois o criador; sois o destruidor, pela vossa bravura; e sois o protetor. Vs vos moveisno cu como o Sol, e sois o senhor das luzes.

    " 'Prana, quando derramais a chuva, vossas criaturas rejubilam, esperando encontrar alimento tanto

    quanto desejarem." 'Vs sois a prpria pureza, sois o amo de tudo que existe, sois o fogo, o devorador das oferendas,

    Ns, os rgos dos sentidos, oferecemos a vs o vosso alimento a vs, o pai de todos." 'Vosso poder, que habita na palavra, no ouvido e no olho, e que permeia o corao fazei com

    que ele seja propcio, e no nos abandoneis." 'Tudo o que existe no Universo depende de vs, Prana. Prote gei-nos como uma me protege

    seus filhos. Concedei-nos prosperidade e sabedoria.'"Quando chegou a vez de Kousalya, ele fez a seguinte pergunta:"Mestre, de que nasce o Prana; como ele entra no corpo; e como ele vive ali depois de se dividir;

    como ele sai; como ele vivncia o que est no exterior; e como mantm unidos o corpo, os sentidos e amente?"

    O sbio replicou assim:"Kousalya, fazeis perguntas muito difceis; porm, como sois um buscador sincero da verdade de

    Brahman, devo responder."Prana nasce do Eu. Como um homem e sua sombra, o Eu e Prana so inseparveis. Prana penetrano corpo por ocasio do nascimento, para que os desejos da mente, que vm de vidas passadas, possam serpreenchidos.

    "Do mesmo modo como um rei emprega oficiais para governar diferentes partes do seu reino,assim Prana associa a si mesmo quatro outros Pranas, cada um sendo uma parte dele mesmo, e sendoatribuda a cada um uma funo diferente.

    "O prprio Prana habita o olho, o ouvido, a boca e o nariz; Apana, o segundo Prana, governa osrgos de excreo e os rgos reprodutores; Samana, o terceiro Prana, habita o umbigo, e governa adigesto e a assimilao.

    "O Eu habita o ltus do corao, de onde so irradiados cento e um nervos. De cada um desses seoriginam cem outros, menores, e de cada um desses, mais uma vez, setenta e dois mil outros, que so aindamenores. Em todos esses se move Vyana, o quarto Prana.

    "Ento, no momento da morte, atravs do nervo localizado no centro da espinha, Udana, que oquinto Prana, leva o homem virtuoso para um nascimento mais elevado, o homem pecador para umnascimento inferior, e o homem que ao mesmo tempo virtuoso e pecador ao renascimento no mundo doshomens.

    "O Sol o Prana do Universo. Ele se levanta para auxiliar o Prana que est no olho do homem aver. O poder da Terra mantm o Apana no homem. O ter entre o Sol e a Terra o Samana, e o ar que tudopermeia Vyana. Udana o fogo e, portanto, aquele cujo calor corporal se apagou morre, e posteriormenteseus sentidos so absorvidos pela mente, e ele torna a nascer.

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    "Qualquer que seja o pensamento que um homem tenha no momento da morte, este que o unecom Prana, que, por sua vez, ao se unir com Udana e com o Eu, leva o homem a renascer no mundo dosmritos.

    "A prognie daquele que conhece Prana como eu vos revelei nunca interrompida; e ele prpriose torna imortal.

    "Diz um ditado antigo: Aquele que conhece o Prana - onde ele tem sua origem, como entra nocorpo, como vive ali depois de se dividir cinco vezes, quais so seus trabalhos interiores - atinge aimortalidade, sim, at a imortalidade."

    Gargya ento perguntou:"Mestre, quando o corpo de um homem dorme, quem que dorme interiormente, quem est

    acordado, e quem est sonhando? Quem ento experimenta a felicidade, e com quem esto unidos osrgos sensoriais?"

    "Do mesmo modo como os raios do Sol, Gargya, quando ele se pe", replicou o sbio, "serenem em seu disco de luz, para sarem novamente quando ele se levanta, assim os sentidos se renem namente, o mais elevado deles. Desse modo, quando um homem no ouve, no v, no cheira, no saboreia,no toca, no fala, no agarra ou no tem prazer, dizemos que ele dorme.

    "Ento, somente os Pranas esto acordados no corpo, e a mente levada para mais perto do Eu."Enquanto sonha, a mente revive suas impresses passadas. Seja o que for que tenha visto, v

    novamente; seja o que for que tenha desfrutado nos vrios pases e nos diversos cantos da Terra, desfruta de

    novo. O que foi visto e no foi visto, ouvido e no ouvido, aproveitado e no aproveitado, tanto o real comoo irreal, ela v; sim, ela v tudo.

    "Quando a mente est dominada por sono profundo, ela no sonha mais. Ela descansa alegrementeno corpo.

    . "Como os pssaros, meu amigo, voam para as rvores para descansar, todas essas coisas voampara o Eu: a terra e sua essncia particular, agua e sua essncia particular, o fogo e sua essncia particular,o ar e sua essncia particular, o ter e sua essncia particular, o olho e o que ele v, o ouvido e o que eleouve, o nariz e o que ele cheira, a lngua e o que ela saboreia, a pele e o que ela toca, a voz e o que ela fala,as mos e o que elas seguram, os ps e aquilo sobre o que caminham, a mente e o que ela percebe, ointelecto e o que ele compreende, o ego aquilo de que ele se apropria, o corao e o que ele ama, a luz e oque ela ilumina, a energia e o que ela mantm unido.

    "Pois, na verdade, o Eu que v, ouve, cheira, saboreia, pensa, sabe, age. Ele Brahman, cujaessncia o conhecimento. Ele o Eu imutvel, o Supremo.

    "Aquele que conhece o imutvel, o puro, o sem sombra,o incorpreo, o sem cor, atinge Brahman, meu amigo. Tal pessoa se torna conhecedora de tudo, e habita em todos os seres. A respeito dela estescrito:

    "Aquele que conhece o Eu imutvel, no qual vivem a mente, os sentidos, os Pranas, os elementos-tal pessoa verdadeiramente conhece todas as coisas, e percebe o Eu em tudo."

    Satyakama, ento, aproximando-se do Mestre, disse:"Venervel senhor, se um homem meditar sobre a slaba OM durante toda a vida, qual ser a sua

    recompensa depois da morte?"O mestre respondeu-lhe assim:"Satyakama, OM Brahman - tanto o condicionado como. o incondicionado, tanto o pessoal e

    como o impessoal. Ao meditar sobre ele, o homem sbio pode atingir tanto um como o outro."Se ele meditar sobre OM com pouco conhecimento do seu significado, mas mesmo assim for

    iluminado, quando morrer renascer imediatamente sobre a Terra e, durante essa nova vida, se dedicar austeridade, continncia e f, e alcanar a grandeza espiritual."Se ele meditar sobre OM com maior conhecimento do seu significado, quando morrer ascender

    ao cu lunar e, aps haver partilhado de seus prazeres, voltar novamente Terra."Porm, se ele meditar sobre OM com total conscincia de que OM uma coisa s com Deus, ao

    morrer ele se unir luz que est no Sol, libertar-se- de todo mal, do mesmo modo como a cobra se libertado lamaal, e ascender ao lugar onde Deus habita. Ali ele perceber Brahman, que permanece para sempreno corao de todos os seres o Supremo Brahman!

    "A respeito da slaba sagrada OM est escrito o que se segue:

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    "A slaba OM, quando no totalmente compreendida, no leva alm da mortalidade. Quando

    totalmente compreendida e a meditao , por conseqncia, corretamente dirigida, o homem se liberta domedo, esteja ele acordado, sonhando ou dormindo o sono sem sonhos, e alcana Brahman.

    "Em virtude de um pequeno entendimento de OM, um homem retorna Terra depois da morte.Em virtude de um maior entendimento, ele atinge a esfera celestial. Em virtude de um completoentendimento, ele aprende o que conhecido apenas por aqueles que vem. O sbio, com a ajuda de OM,alcana Brahman, o que no tem medo, o que no decai, o imortal!"

    Por ltimo, Sukesa aproximou-se do sbio e disse:"Sagrado senhor, Hiranyanabha, prncipe de Kosala, fez-me certa vez esta pergunta: 'Sukesa,

    conheces o Eu e suas dezesseis partes?' Eu repliquei: 'No conheo. Certamente, se as conhecesse, eu asteria ensinado a vs. No mentirei, pois aquele que mente perece por completo.' O prncipe entrousilenciosamente em sua carruagem e foi embora. Assim, agora eu vos pergunto, onde est o Eu?"

    O sbio replicou:"Minha criana, dentro desse corpo habita o Eu, de quem jorraram as dezesseis partes do

    Universo;e desse modo elas surgiram:"Se, ao criar, penetro na minha criao", refletiu o Eu, "o que existe l para me vincular a ela; o

    que existe l para eu deixar quando for embora, e para permanecer dentro quando eu fico?" Ponderandodessa maneira, e em resposta ao seu pensamento, ele criou o Prana; e do Prana criou o desejo; e do desejocriou o ter, o ar, o fogo, a gua, a terra, os sentidos, a mente e o alimento; e do alimento criou o vigor, a

    penitncia, os Vedas, os rituais de sacrifcio, e todos os mundos. Depois, ento, nos mundos, ele criounomes. E o nmero de elementos que assim criou foi dezesseis.

    "Do mesmo modo como os rios que correm, cujo destino o mar e que, quando o atingem,desaparecem nele, perdendo seus nomes e suas formas, falando os homens apenas do mar, assim essasdezesseis partes criadas pelo Eu, o Eterno Vidente, a partir do seu prprio ser, aps retornarem a ele, dequem vieram, desaparecem nele, seu destino,perdendo seus nomes e formas, e as pessoas falam somente doEu. Para o homem, ento, as dezesseis partes no existem mais, e ele atinge a imortalidade.

    "Diz um ditado antigo:"As dezesseis partes so raios que se projetam do Eu, que o cubo da roda. O Eu a meta do

    conhecimento. Conhecei-o e ide alm da morte."O sbio concluiu, dizendo:"O que vos contei tudo o que pode ser dito a respeito do Eu, o Supremo Brahman. Alm disso,

    no h nada."

    Os discpulos veneraram o sbio e disseram:"Vs sois de fato o nosso pai. Vs nos haveis levado alm do mar da ignorncia."Ns nos inclinamos diante de todos aqueles que vem!"Reverncia aos grandes que vem!"

    OM ... Paz paz paz.

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    VMUNDAKA

    Como os inmeros objetos dos sentidos so meras emanaes de

    Brahman, conhec-los em si prprios no suficiente. Como todas as aes

    dos homens representam apenas fases do processo universal da criao, a

    ao sozinha no suficiente.O sbio deve distinguir entre conhecimento e sabedoria. O conhecimento

    est ligado a coisas, aes e relaes. Porm a sabedoria est ligada apenas

    a Brahman; e alm de todas as coisas, aes e relaes, ele permanece para

    sempre. Tomar-se uma coisa s com ele representa a nica sabedoria.

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    MUNDAKAOM . . .Com nossos ouvidos, ouamos o que bom.Com nossos olhos, contemplemos vossa integridade.Tranqilos no corpo, possamos ns, que vos veneramos,

    encontrar descanso.OM . . . Paz - paz - paz.

    DO INFINITO OCEANO da existncia surgiu Brahman, primognito e o primeiro entre os deuses.Dele jorrou o Universo, e ele se tornou seu protetor. 0 conhecimento de Brahman, alicerce de todoconhecimento, ele revelou a seu filho primognito, Atharva.

    Atharva, por sua vez, ensinou esse mesmo conhecimento de Brahman a Angi. Angi ensinou-o aSatyabaha, que o revelou a Angiras.

    Certa vez, Sounaka, o famoso chefe de famlia, dirigiu-se a Angiras e perguntou- lherespeitosamente:

    "Sagrado senhor, o que aquilo atravs do qual todo o resto conhecido?""Aqueles que conhecem Brahman", replicou Angiras, "dizem que existem dois tipos de

    conhecimento, o superior e o inferior."O inferior o conhecimento dos Vedas (O Rig, O Sama, O Yajur e o Atharva), e tambm o

    conhecimento da fontica, dos cerimoniais, da gramtica, da etimologia, da mtrica e da astronomia."O mais elevado o conhecimento daquilo atravs do qual se conhece a realidade imutvel.

    Atravs disso, totalmente revelado aos sbios aquilo que transcende os sentidos, que no tem causa, que indefinvel, que no tem olhos nem ouvidos, nem mos nem ps, que tudo permeia, que mais sutil do queo mais sutil - o que dura eternamente, a origem de tudo.

    "Como a teia vem da aranha, como as plantas crescem do solo e o cabelo do corpo do homem,assim jorra o Universo do eterno Brahman.

    "Brahman quis que fosse assim, e extraiu de si mesmo a causa material do Universo; disso veio aenergia primordial; e da energia primordial a mente; da mente os elementos sutis; dos elementos sutis osdiversos mundos; e de aes realizadas por seres nos diversos mundos a cadeia de causa e efeito arecompensa e punio das aes.

    "Brahman tudo v, tudo sabe; ele o prprio conhecimento. Dele nascem a inteligncia csmica, onome, a forma, e a causa material de todos os seres criados e das coisas."

    Finitos e transitrios so os frutos dos rituais de sacrifcio. Os iludidos, que os encaram como osmais elevados bens, permanecem sujeitos ao nascimento e morte.

    Vivendo no abismo da ignorncia, porm sbios em seu prprio conceito, os iludidos do voltas evoltas, como cegos levados por cegos.

    Vivendo no abismo da ignorncia, embora sbios em seu prprio conceito, os iludidos se cremabenoados. Apegados a palavras, no conhecem Deus. As aes levam-nos apenas ao cu, onde, para suatristeza, suas recompensas rapidamente se esgotam, e so lanados de volta Terra.

    Ao considerarem a religio como sendo a execuo de rituais e a prtica de aes de caridade, osiludidos permanecem ignorantes do bem mais elevado. Aps aproveitar no cu a recompensa das suas boasaes, eles penetram novamente no mundo dos mortais.

    Porm as almas sbias e tranqilas e que possuem autocontrole -que esto satisfeitas em esprito, eque praticam a austeridade e a meditao na solido e no silncio so libertadas de toda impureza, e

    atingem, atravs do caminho da liberao para o imortal, o que verdadeiramente existe, o imutvel Eu.Que o homem dedicado vida espiritual examine cuidadosamente a natureza efmera de talprazer, seja aqui ou no alm, como pode ser obtido atravs de boas aes, e perceba assim que no pelasaes que se ganha o Eterno.

    Que no d ateno s coisas transitrias, e sim que, absorto na meditao, renuncie ao mundo.Para conhecer o Eterno, que se aproxime humildemente de um Guru dedicado a Brahman e que conheabem as escrituras.

    A um discpulo que se aproxima reverentemente, que tranqilo e possui autocontrole, o mestresbio, sinceramente e sem restrio, fornece esse conhecimento atravs do qual conhecido o queverdadeiramente existe, o Eu imutvel.

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    O Imperecvel o Real. Assim como inmeras fagulhas sobem de um fogo flamejante, dasprofundezas do Imperecvel surgem todas as coisas. Para as profundezas do Imperecvel elas tornam adescer.

    Dotado de luz prpria esse Ser, e no possui forma. Ele habita dentro de tudo e fora de tudo. Elenunca nasceu, puro, maior do que o maior, no possui alento, no possui mente.

    Dele nascem o sopro vital, a mente, os rgos dos sentidos, o ter, o ar, o fogo, a gua e a terra, eele mantm tudo isso unido.

    O cu a sua cabea, o Sol e a Lua os seus olhos, as quatro fases os seus ouvidos, as escriturasreveladas a sua voz, o ar o seu flego, o Universo o seu corao. Dos seus ps veio a Terra. Ele o maisprofundo Eu de todos.

    Dele surge o cu iluminado pelo Sol, do cu a chuva, da chuva o aumento, e do alimento asemente que o homem d mulher.

    Assim, todas as criaturas descendem dele.Dele saem os hinos, os cantos devocionais, as escrituras, os rituais, os sacrifcios, as oblaes, as

    divises do tempo, o que age e a ao, e todos os mundos iluminados pelo Sol e purificados pela Lua.Dele nascem deuses de diversas descendncias. Dele nascem anjos, homens, feras, pssaros; dele

    nascem a vitalidade e o alimento para sustent-la; dele vm a austeridade e a meditao, a f, a verdade, acontinncia e a lei.

    Dele jorram os rgos dos sentidos, suas atividades, e seus objetos, junto coma conscincia desses

    objetos. Todas essas coisas, partes da natureza do homem, saem dele.Nele os mares e as montanhas tm sua origem; dele jorram os rios, e dele nascem as ervas e outros

    elementos que sustentam a vida, com a ajuda dos quais o corpo sutil do homem subsiste no corpo fsico.Assim, Brahman tudo em tudo. Ele ao, conhecimento, bondade suprema. Conhec-lo, oculto

    no ltus do corao, desatar o n da ignorncia.Dotado de luz prpria Brahman, sempre presente nos coraes de todos. Ele o refgio de todos,

    a meta suprema. Nele existe tudo o que se move e respira. Nele existe tudo o que . Ele ao mesmotempo aquilo que grosseiro e tudo aquilo que sutil. Ele adorvel. Ele est alm do alcance dossentidos. Ele supremo. Atingi-o!

    Ele, o dotado de luz prpria, mais sutil do que o mais sutil, em quem existem todos os mundos etodos os que neles habitam esse o imperecvel Brahman. Ele o princpio da vida. Ele a palavra, eele a mente. Ele real. Ele imortal. Atingi-o, meu amigo, a nica meta a ser atingida!

    Juntai-vos ao Upanishad, o arco incomparvel, a flecha afiada do culto devocional; ento, com a

    mente absorta e o corao fundido no amor, arremessai a flecha e acertai o alvo- o imperecvel Brahman.OM o arco, a flecha o ser individual, e Brahman o alvo. Mirai com o corao tranqilo.Perdei-vos dentro dele, do mesmo modo como a flecha se perde no alvo.

    Nele esto reunidos o cu e a Terra, junto com a mente e todos os sentidos. Conhecei-o, apenas oEu. Desisti de conversas fteis. Ele a ponte da imortalidade.

    Dentro do ltus do corao ele habita, onde, como os raios de uma roda, os nervos se encontram.Meditai nele como OM. Facilmente podereis atravessar o mar da escurido.

    Esse Eu, que tudo compreende, que tudo sabe, e cuja glria est manifesta no Universo, moradentro do ltus do corao, o trono brilhante de Brahman.

    Ele conhecido pelos puros de corao. O Eu existe no homem, dentro do ltus do corao, e omestre da sua vida e do seu corpo. Com a mente iluminada pelo poder da meditao, os sbios o conhecem,o abenoado, o imortal.

    O n do corao, que a ignorncia, se afrouxa, todas as dvidas se dissolvem, todos os efeitos

    malignos das aes so destrudos, quando ele, que ao mesmo tempo pessoal e impessoal, percebido.No fulgurante ltus do corao habita Brahman, que no possui paixes e indivisvel. Ele puro,ele a luz das luzes. Ele alcanado pelos conhecedores do Eu.

    O Sol no o ilumina, nem a Lua, nem as estrelas, nem o relmpago - nem, na verdade, fogosacesos sobre a Terra. Ele a luz que d luz a tudo. Quando ele brilha, tudo brilha.

    Esse Brahman imortal est na frente, esse Brahman imortal est atrs, esse Brahman imortal seestende para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. Verdadeiramente, tudo . Brahman eBrahman supremo.

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    Como dois pssaros de plumagem dourada, inseparveis companheiros, assim o Eu individual e oEu imortal se empoleiram nos galhos da mesma rvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas darvore; o ltimo, nada experimentando, observa calmamente.

    O Eu individual, iludido pelo esquecimento da sua identidade com o Eu divino, confundido peloseu ego, sofre e fica triste. Porm, quando reconhece o Venervel Senhor como seu verdadeiro Eu econtempla sua glria, no sofre mais.

    Quando o que v contempla o Fulgurante, o Senhor, o Ser Supremo, ento, transcendendo tanto obem como o mal, e libertando-se das impurezas, une-se a ele.

    O Senhor a nica vida que brilha em cada criatura. Ao v-lo presente em tudo, o homem sbio humilde, no se coloca frente de nada. Seu deleite est no Eu, sua alegria est no Eu, ele serve ao Senhorem tudo. Como ele, de fato, so os verdadeiros conhecedores de Brahman.

    Esse Eu fulgurante deve ser percebido dentro do ltus do corao atravs da continncia, dafirmeza na verdade e na meditao e pela viso superconsciente. Com suas impurezas extintas, os que vemo percebem.

    S a verdade tem sucesso, e no a falsidade. O caminho da verdade aberto atravs da verdade, ocaminho que seguido pelos sbios, libertos dos desejos, e que os leva morada eterna da verdade.

    Brahman supremo ;ele autoluminoso, est alm de todo pensamento. Ele mais sutil, do que omais sutil, mais veloz do que o mais veloz, mais prximo do que o mais prximo. Ele habita o ltus docorao de todos os seres.

    Os olhos no o vem, a palavra no pode pronunci-lo, os sentidos no podem alcan-lo. Ele no

    alcanado nem por austeridades nem por rituais de sacrifcio. Quando o corao se torna puro atravs dadiscriminao, ento, na meditao, o Eu Impessoal revelado.

    O Eu sutil dentro do corpo que vive e respira percebido naquele estado de conscincia puro ondeno existe dualidade aquele estado de conscincia atravs do qual o corao bate e os sentidos executamsuas funes.

    Seja do cu, ou dos prazeres celestes, seja dos desejos, ou dos objetos do desejo, qualquerpensamento que surja no corao do sbio satisfeito. Assim, que aquele que procura seu prprio bemvenere e adore o sbio.

    O sbio conhece Brahman, o alicerce de tudo, o puro ser fulgurante em quem est contido oUniverso. Os que veneram o sbio, e o fazem sem pensar em si, cruzam a fronteira do nascimento e damorte.

    Aquele que, meditando a respeito de objetos dos sentidos, vem a ansiar por eles, nasce aqui- e ali,vezes e vezes sem fim, levado pelo desejo. Porm aquele que percebeu o Eu, e dessa forma satisfez toda

    fome, alcana a liberao at mesmo nesta vida.O Eu no conhecido atravs do estudo das escrituras, nem atravs das sutilezas do intelecto, nematravs de muito aprendizado. Porm conhecido por aquele que anseia por ele. A esse verdadeiramente, oEu revela seu verdadeiro ser.

    O Eu no conhecido pelos fracos, nem pelos descuidados, nem pelos que no meditamcorretamente. Mas pelos que meditam corretamente, pelos srios e pelos fortes, ele completamenteconhecido.

    Aps conhecerem o Eu, os sbios se enchem de felicidade. Tornam-se abenoados, tranqilos namente e livres de paixes. Percebendo em todos os lugares o Brahman que tudo permeia, profundamenteabsortos na contemplao do seu ser, penetram nele, o Eu de todos.

    Aps terem verificado e percebido completamente a verdade do Vedanta., aps terem-seestabelecido na pureza de conduta por seguirem a ioga da renncia, esses grandes atingem a imortalidadenesta mesma vida; e, quando seus corpos os abandonam na hora da morte, atingem a liberao.

    Quando a morte surpreende o corpo, a energia vital penetra na fora csmica, os sentidos sedissolvem na sua causa e os armas e a alma individual se perdem em Brahman, o puro, o imutvel, oinfinito.

    Do mesmo modo como os rios correm para o mar e, ao fazerem isso, perdem o nome e a forma,assim o homem sbio, liberto do nome e da forma, alcana o Ser Supremo, o Autoluminoso, o Infinito.

    Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman. Ningum que ignore Brahman nasce jamais nasua famlia. Ele passa alm de todo sofrimento. Ele supera o mal. Liberto dos grilhes da ignorncia, torna-se imortal.

    Que a verdade de Brahman seja ensinada somente queles que obedecem sua lei, que sodedicados a ele, e que so puros de corao. Que ela jamais seja ensinada aos impuros.

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    Salve os sbios! Salve as almas iluminadas!Essa verdade sobre Brahman foi ensinada em tempos remotos a Shounaka por Angira. Salve os

    sbios! Salve as almas iluminadas!

    OM ... Paz - paz - paz.

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    VIMANDUKYA

    A vida do homem dividida entre o estado de viglia, o sonho e o sono sem

    sonhos. Porm, transcendendo esses trs estados, encontra-se a viso

    superconsciente - denominada simplesmente O Quarto.

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    MANDUKYAOM . . .Com nossos ouvidos, ouamos o que bom. Com nossos olhos, contemplemos vossaintegridade. Tranqilos no corpo, possamos ns, que vos veneramos,encontrar descanso. OM . . . Paz - paz - paz.

    A SLABA OM, que o imperecvel Brahman, o Universo. Seja o que for que j tenha existido,seja o que for que exista, seja o que for que v existir daqui para diante, OM. E seja o que for quetranscenda o passado, o presente e o futuro, tambm OM.

    Tudo o que vemos exteriormente Brahman. Esse Eu que est no interior Brahman.Esse Eu, que uma coisa s com OM, possui trs aspectos, e, alm desses trs, diferente deles e

    indefinvel - O Quarto.O primeiro aspecto do Eu a pessoa universal, o smbolo coletivo dos seres criados, na sua

    natureza fsica - Vaiswanara. Ele est desperto, e est consciente apenas dos objetos exteriores. Ele possuisete membros. Os cus so a sua cabea, o Sol, os seus olhos, o ar, o seu alento, o fogo, o seu corao, agua, o seu ventre, a terra, os seus ps, e o espao, o seu corpo. Ele possui dezenove instrumentos deconhecimento: cinco rgos do sentido, cinco rgos de ao, cinco funes de respirao, junto com amente, o intelecto, o corao e o ego. Ele o que desfruta os prazeres dos sentidos.

    O segundo aspecto do Eu a pessoa universal na sua natureza mental Taijasa. Ele tem setemembros e dezenove instrumentos de conhecimento. Sonha, e est consciente somente dos seus sonhos.Nesse estado, ele o que desfruta das impresses sutis, na mente, das aes que realizou no passado.

    O terceiro aspecto do Eu a pessoa universal no sono sem sonhos Prajna. Ele no sonha. Ele sem desejo. Como a escurido da noite cobre o dia, e o mundo visvel parece desaparecer, assim, no sonosem sonhos, o vu da inconscincia envolve seu pensamento e conhecimento, e aparentemente asimpresses sutis desaparecem da sua mente. Como ele no experimenta discrdia nem ansiedade, considerado abenoado, o que experimenta a bem-aventurana.

    Prajna o senhor de tudo. Ele conhece todas as coisas. Ele aquele que habita o corao de todos.Ele a origem de tudo. Ele o fim de tudo.16

    O Quarto, dizem os sbios, no uma experincia subjetiva, nem uma experincia objetiva, nemuma experincia intermediria entre essas duas, nem uma condio negativa que no nem conscincia enem inconscincia. No o conhecimento dos sentidos, nem o conhecimento relativo, e nem oconhecimento inferido. Alm dos sentidos, alm da compreenso, alm de toda expresso, est O Quarto.

    Ele pura conscincia unitria, onde a percepo do mundo e da multiplicidade completamenteeliminada. Ele a paz indefinvel. Ele o bem supremo. Ele o Um sem segundo. Ele o Eu. Conheceiapenas a ele!

    Esse Eu, alm de todas as palavras, a slaba OM. Essa slaba, embora indivisvel, consiste emtrs letras: A-U-M.

    Vaiswanara, o Eu como a pessoa universal no seu ser fsico, corresponde primeira letra - A.Quem quer que conhea Vaiswanara obtm aquilo que deseja, e se torna o primeiro entre os homens.

    Taijasa, o Eu como a pessoa universal no seu ser mental, corresponde segunda letra - U. Taijasae a letra U se situam no sonho, entre o acordar e o dormir. Quem quer que conhea Taijasa cresce emsabedoria, e altamente honrado.

    Prajna, o Eu como a pessoa universal no sono sem sonhos, corresponde terceira letra- M. Ele aorigem e o fim de tudo. Quem quer que conhea Prajna conhece todas as coisas.

    O Quarto, o Eu, OM, a slaba indivisvel. Esta slaba impronuncivel, e est alm da mente.

    Nela, o Universo mltiplo desaparece. Ela o bem supremo - Um sem segundo. Quem quer que conheaOM, o Eu, torna-se o Eu.

    16 O Prajna conhecido como Iswara, ou Deus em seu aspecto pessoal. Sono sem sonhos ignorncia. Dentro dessaignorncia existem todos os trs estados de conscincia: o estado de viglia, o estado de sonho e o estado de sono semsonhos. Iswara, tecnicamente, Brahman associado com Maya, ou