sutra do nirvana - tomo i

Upload: abel-bruder-dos-santos

Post on 06-Jul-2018

230 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    1/345

     

    Sutra Mahayana doMahaparinirvana

    TOMO I – A Cena do Mahaparinirvana 

    Tradução original para o Inglês de Kosho Yamamoto.Editado e revisado por Dr. Tony Page

    Tradução para português do Brasil porMarcos Ubirajara de Carvalho e Camargo 

    2010 

    Marcos Ubirajara de Carvalho e CamargoCristal Perfeito

    08/10/2010

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    2/345

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 2

    Copyright © 2009 por Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo

    Sutra Mahayana doMahaparinirvana

    TOMO I – A Cena do Mahaparinirvana 

    Tradução original para o Inglês de Kosho Yamamoto.Editado e revisado por Dr. Tony Page Tradução para português do Brasil por

    Marcos Ubirajara de Carvalho e Camargo 

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    3/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 3

    Capítulo Um: Introdução

    Assim eu ouvi.

    Naquele momento, o Buda encontrava-se em Kushinagar (Kushinaga-ra), na terra dos Mallas, próxima ao rio Ajitavati, onde ficava uma duplade árvores sala. Naquela ocasião, Grandes Monges, tão numerososquanto 80 centenas de milhares de bilhões deles, estavam com o Hon-rado pelo Mundo. Eles circundavam-no completamente. No décimoquinto dia do segundo mês (15 de Fevereiro), como o Buda estavaprestes a entrar no Nirvana, ele, com o seu poder transcendental, emi-tiu uma poderosa voz que preencheu o mundo e alcançou o mais ele-vado dos céus. E disse a todos os seres de tal forma que todos pudes-sem compreender: “Hoje, o Tathagata, Merecedor de Ofertas e Su-premamente Iluminado, sente piedade, protege e, com um pensamen-to único, vê a todos os seres como seu próprio filho Rahula. Assim, eleé o refúgio e o abrigo do mundo. O Supremamente Iluminado Honradopelo Mundo está prestes a entrar no Nirvana. Todos aqueles que tive-

    rem dúvidas podem agora indagar sobre elas.”

    Naquela ocasião, ao alvorecer, o Honrado pelo Mundo emitiu da suaboca raios de luz de variadas cores, a saber: azul, amarelo, vermelho,branco, cristal e ágata. Os raios de luz resplandeceram sobre os três milgrandes sistemas de mil mundos Búdicos. Também, as dez direçõesforam igualmente iluminadas. Todas as ofensas e aflições dos seres dosseis domínios, em razão de terem sido iluminados, foram expiadas. As

    pessoas viram e ouviram isto, ficando profundamente aflitas e preocu-padas. Todos choraram e lamentaram tristemente: “Oh, Pai amado!Oh, que dia! Oh, que tristeza!”. Eles levantaram suas mãos, entre suascabeças e peitos, e choraram copiosamente. Alguns tremiam, chora-vam e soluçavam. Naquela ocasião, a terra, suas montanhas e grandesmares tremeram. Então, todos disseram uns aos outros: “Vamos poragora esconder nossos sentimentos, não vamos enlouquecer de triste-za! Vamos rapidamente para Kushinagar, na chamada terra dos Mallas,

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    4/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 4

    tocar os pés do Tathagata, prestar-lhe homenagem e implorar: “OhTathagata! Por favor não entre no Parinirvana, mas fique aqui por maisum kalpa ou menos que isso.” Eles juntaram as palmas das suas mãos e

    disseram novamente: “O mundo está vazio! A fortuna nos abandonou;a maldade aumentará no mundo. Hei você! Apresse-se, vamos rapida-mente! Em breve, o Tathagata certamente entrará no Nirvana.” Elestambém diziam: “O mundo está vazio, vazio! Se nos apartarmos doHonrado pelo Mundo, e surgirem dúvidas, a quem iremos indagar?”.

    Naquela ocasião, lá estavam muitos dos discípulos do Buda, tais comoo Venerável Mahakatyayana, Vakkula, e Upananda. Todos esses gran-

    des Monges, quando viram a luz, ficaram muito agitados, a ponto denão conseguirem conter-se. Seus pensamentos tornaram-se confusos,e o caos reinou. Choravam em voz alta e demonstravam um variadograu de tristeza. Estavam presentes, naquela ocasião, oito milhões deMonges. Todos eram Arhats. Eles eram inabaláveis em seus pensamen-tos e, possuindo o autocontrole, poderiam agir como desejassem. Eleshaviam se apartado de todas as ilusões e todos os seus órgãos sensori-ais estavam subjugados. Como Grandes Reis Dragões (naga = é uma

    palavra do Sanskrito e do Pāli que designa uma deidade ou classe deentidades ou seres, que assumem a forma de uma enorme serpente,mas muitas vezes com os troncos e cabeças humanas, encontrada tan-to no Budismo como no Hinduísmo), eles eram perfeitos nas grandesvirtudes. Eles eram versados na sabedoria do vazio e perfeitos em suaautorealização. Eles eram como uma floresta de sândalo cercada porsândalos, ou como o rei leão cercado por leões. Eles eram completosem tais virtudes. Eram os verdadeiros filhos do Buda. Ao alvorecer, tãologo o sol nasceu, eles levantaram-se de suas camas no local onde vivi-am e estavam para escovar seus dentes quando viram a luz que ema-nava da pessoa do Buda. Então, disseram uns aos outros:

    “Apressem-se com o banho, a higiene bucal, e limpem-se.” Tão logoeles disseram, seus pelos arrepiaram por todo o corpo e seu sanguecorria tal que pareciam flores da palasa (também chamada Kanaka -

    Butea Frondosa - árvore que dá flores vermelhas que teriam muitas

    http://en.wikipedia.org/wiki/Sanskrithttp://en.wikipedia.org/wiki/Sanskrithttp://en.wikipedia.org/wiki/P%C4%81lihttp://en.wikipedia.org/wiki/P%C4%81lihttp://en.wikipedia.org/wiki/P%C4%81lihttp://en.wikipedia.org/wiki/P%C4%81lihttp://en.wikipedia.org/wiki/Sanskrit

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    5/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 5

    propriedades ocultas). Lágrimas encheram seus olhos, os quais expres-savam grande dor. Para trazer benefícios e paz aos seres viventes, paraestabelecer a Verdade Transcendente do Vazio do Mahayana, para

    revelar o que o Tathagata havia ensinado latentemente por conveniên-cia, tal que todos os seus sermões nunca se perdessem, e para subjugaros pensamentos de todos os seres, eles correram para onde o Budaestava. Eles caíram aos pés do Buda, tocaram-lhe com as suas cabeças,circundaram-no uma centena de milhares de vezes, juntaram as pal-mas das suas mãos, prestaram-lhe homenagem, recuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, lá estavam presentes mulheres tais como Kuddara eMonjas como Subhadra, Upananda, Sagaramati, e seis milhões deMonjas. Eram todas grandes Arhats. Todas já sem falhas, elas eramimperturbáveis em seus pensamentos e podiam agir como lhes aprou-vesse. Elas eram livres de todas as ilusões e todos os seus sentidosorgânicos (órgãos sensoriais) estavam subjugados. Como Grandes ReisDragões, elas eram perfeitas nas virtudes. Elas haviam alcançado aSabedoria do vazio. Também, ao alvorecer, tão logo o sol havia nasci-

    do, seus pelos arrepiaram por todo o corpo e seu sangue corria emsuas veias tal que pareciam flores palasa. Lágrimas encheram seusolhos, os quais aparentavam grande tristeza. Elas desejavam beneficiaros seres, trazer a paz e a felicidade, e estabelecer a Verdade Transcen-dente do Vazio do Mahayana. Elas pretendiam manifestar o que o Ta-thagata havia ensinado latentemente por conveniência, tal que todosos seus sermões não desaparecessem. No sentido de subjugar os pen-samentos de todos os seres, elas correram para onde o Buda estava,tocaram seus pés, circundaram-no uma centena de milhares de vezes,

     juntaram as palmas das suas mãos, prestaram-lhe homenagem, recua-ram e postaram-se a um lado.

    Dentre as Monjas, havia aquelas que eram nagas de Bodhisattvas ehumanos. Elas haviam atingido os dez estágios (do desenvolvimento doBodhisattva), e a condição de não retroação. Elas nasceram como fê-

    meas, de modo a ensinarem os seres. Elas sempre praticaram as qua-

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    6/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 6

    tro virtudes ilimitadas (da benevolência, compaixão, da intenção amá-vel (alegria simpática), e equanimidade), atingindo dessa forma umilimitado poder para a realização do trabalho do Buda.

    Naquela ocasião lá estavam também Bodhisattvas Mahasattvas tãonumerosos quanto às areias do rio Ganges, e que eram todos nagas dehumanos, que haviam atingido os dez estágios (do desenvolvimento doBodhisattva), e a condição de não retroação. Como um meio hábil, eleshaviam adquirido a vida como humanos e eram chamados Bodhisatt-vas Sagaraguna e Aksayamati. Tais Bodhisattvas Mahasattvas eram emnúmero como dito acima. Todos eles prezavam o Mahayana, residiam

    nele, compreendiam-no profundamente, amavam-no e protegiam-no,e respondiam bem às questões mundanas. Eles fizeram seus votos ecada um disse: “Aqueles que ainda não atingiram a Via, eu conduzirei àoutra margem. Através dos inumeráveis kalpas passados, tenho manti-do os puros preceitos, e agido em sua observância. Farei com que a-queles não libertos ainda ganhem a Via, tal que eles possam transpor-tar a semente dos Três Tesouros. E nos dias que virão, girarei a Roda daLei, e adornando-me grandiosamente, completarei todas as inumerá-

    veis virtudes, e verei os seres como meus próprios filhos”. Eles, domesmo modo, no alvorecer, encontraram a luz do Buda. Todos os seuspelos arrepiaram por todo o corpo e seu sangue corria tal que pareci-am flores da palasa. Lágrimas encheram seus olhos, os quais expressa-vam grande dor. Também, para trazer benefícios e paz aos seres viven-tes, para manifestar o que o Tathagata havia ensinado latentementepor conveniência, para evitar que os seus sermões se perdessem, epara subjugar todos os seres, eles correram para onde o Buda estava,circundaram-no uma centena de milhares de vezes, juntaram as pal-mas das suas mãos, prestaram-lhe homenagem, recuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, lá estavam presentes leigos (seguidores da lei doBuda) tão numerosos quanto às areias de dois Rios Ganges. Eles man-tinham em observância os cinco preceitos e a sua conduta era perfeita.

    Lá estavam leigos tais como Rei da Virtude Imaculada, Supremamente

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    7/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 7

    Virtuoso e outros, em número como dito acima. Eles cultivavam pro-fundamente o pensamento de combater os opostos tais como: tristezaversus alegria, eterno versus não-eterno, puro versus impuro, eu ver-

    sus não-eu, real versus irreal, refugiar-se versus não-refugiar-se, seresversus não-seres, sempre versus nunca, paz versus não-paz, criadoversus não-criado, rompimento versus não-rompimento, Nirvana ver-sus não-Nirvana, argumentação versus não-argumentação; e, assim,sempre pensando em combater tais opostos dos elementos do Dhar-ma como estabelecido acima.

    Eles também sempre louvavam a audição do insuperável Mahayana,

    agiam em concordância com o que ouviam e prezavam ensinar os ou-tros. Eles mantinham em observância os preceitos da moral imaculadae prezavam o Mahayana. Uma vez que eram auto-realizados, eles fazi-am com que outros que prezavam o Mahayana assim se sentissem.Eles absorveram a Sabedoria Insuperável muito bem, amavam e prote-giam o Mahayana. Eles conheciam bem os caminhos do mundo, con-duziam aqueles que ainda não haviam alcançado a Via para a outramargem da vida, emancipavam aqueles ainda não emancipados, e

    protegiam a semente dos Três Tesouros de tal forma que ela não mor-resse, e tal que, nos dias futuros, eles pudessem girar a Roda da Lei,adornar-se grandiosamente, apreciar profundamente os puros precei-tos morais, obter a realização de todas essas virtudes, tendo um senti-mento de grande compaixão para com todos os seres, sendo imparciaise não-dúbios, e vendo todos os seres como seus próprios filhos.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    8/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 8

    A Cena do Parinirvana do Buda

    Também, logo cedo quando o sol acabara de nascer, no sentido de

    prover a cremação do corpo do Tathagata, as pessoas carregaram emsuas mãos dezenas de milhares de fardos de madeiras fragrantes taiscomo sândalo, aloés, sândalo do goirsa e madeiras celestiais que, comseus cernes e anéis anuais, fulgurassem nos maravilhosos matizes dossete tesouros. Na queima, os vários matizes pareciam cores pintadas,verdadeiras maravilhas emanadas do poder do Buda, e que eram azul,amarelo, vermelho e branco. Eram agradáveis aos olhos de todos osseres. Toda a madeira foi cuidadosamente impregnada com vários

    tipos de incenso como açafrão, aloés, sarjarasa, e outros. Flores taiscomo utpala (lótus azul), kumuda (noturna, que floresce ao luar), pad-ma (lótus vermelho) e pundarika (lótus branco) foram espalhadas co-mo adornos. Acima de todas as madeiras fragrantes estavam pendura-dos estandartes das cinco cores. Eles eram leves e delicados, comovéus celestiais tecidos em kauseya, ksuma e seda.

    As madeiras fragrantes eram carregadas em carruagens decoradas, asquais fulguravam em cores tais como azul, amarelo, vermelho e bran-co. Seus varais e raios eram todos incrustados com os sete tesouros.Cada uma dessas carruagens era puxada por uma junta quádrupla decavalos que corriam como o vento. Na frente de cada carruagem esta-vam 57 estandartes de plantas ornamentais, sobre os quais estavamespalhados finos véus de ouro verdadeiro. Cada carruagem tinha 50maravilhosos dosséis finamente decorados com grinaldas de utpala,

    kumuda, padma e pundarika. As pétalas dessas flores eram de puroouro, e seus cálices feitos de diamante. Havia nas flores muitas abelhasnegras, que se juntavam ali, brincavam e se divertiam, emitindo umamúsica maravilhosa. Aquela música falava da impermanência, da tris-teza, da vacuidade e do não-Eu. Aquela música também falava sobre oque o Bodhisattva originalmente faz (o trânsito do Buda neste mundo).Danças, cânticos, e dança de máscaras se sucediam, tocadas por ins-trumentos musicais tais como o “cheng”, flauta, harpa, “hsiao” e o

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    9/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 9

    “shã”. Da música, emergia uma voz que dizia: “Oh, que dia aflito, dia deaflição! O mundo está vazio”! Na frente de cada carruagem estavamMonges segurando bandejas decoradas com várias flores tais como

    utpala, kumuda, padma, pundarika, vários tipos de incensos como o dekunkuma e outros, e incensos fumegantes, todos maravilhosos. Elescarregavam vários utensílios para preparar alimentos para o Buda e aSangha.

    O cozimento dos alimentos em água das oito virtudes teve como com-bustível as madeiras de sândalo e aloés. Os pratos eram delicados,belos e em seis sabores: amargo, azedo, doce, picante, salgado e ads-

    tringente. Suas virtudes eram três: 1) leves e suaves, 2) puros, e 3) averdadeira culinária. Equipados com tais utensílios, eles correram paraa terra dos Mallas (região no norte da Índia), ruma à floresta de árvoresSala (Sal, Shorea robusta, uma espécie de árvore da Ásia). Lá, eles for-raram todo o chão com areia e cobriram-no com tecidos de kalinga,kambala e seda. Essa cobertura estendia-se por um espaço de 12 yoja-nas [1 yojana = 15-20 km]. Para o Buda e a Sangha, eles eregiram Tro-nos de Leão (Simhasana) incrustados com os sete tesouros. Os tronos

    eram tão altos e largos quanto o monte Sumeru. Acima desses tronosestavam içados pálios finamente decorados. Grinaldas de todos ostipos pendiam-lhes, e de todas as árvores Sala também pendiam mara-vilhosos estandartes e dosséis. Maravilhosas essências foram arpergi-das entre as árvores e várias flores maravilhosas colocadas ali. Todos osMonges então disseram uns aos outros: “Oh, todos os seres! Se senti-rem necessidade, comidas, roupas, cabeças, olhos, membros e todas ascoisas vos esperam; tudo será vosso”. Enquanto faziam os oferecimen-tos, a avareza, a ira, a corrupção e os venenos abandonaram as suasmentes; nenhum outro desejo, nenhum pensamento de alguma graçaou prazer lhes distraia. Seus pensamentos estavam voltados unicamen-te para a insuperável e pura Mente Iluminada (Bodhi). Todos essesMonges eram bem estabelecidos no estado de Bodhisattva. Eles tam-bém disseram para eles mesmos: “O Tathagata agora aceitará nossascomidas e entrará no Nirvana”.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    10/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 10

    Conforme eles disseram isto, todos os pelos através dos seus corposarrepiaram e o seu sangue corria tanto que seus corpos pareciam a florpalasa. Lágrimas encheram os seus olhos, expressando uma grande

    dor. Cuidadosamente, cada um carregou os utensílios das comidas nascarruagens decoradas: incenso de madeira, estandartes, pálios decora-dos, comidas; e foram todos correndo para onde o Buda se encontrava.Eles tocaram os pés do Buda, fizeram-lhe oferecimentos, circundando-o 100 mil vezes. Eles choraram copiosamente. A terra e o céu agitaram-se em concordância. Eles bateram em seus peitos e choraram. Suaslágrimas corriam como chuva. Disseram uns aos outros: “Oh que diaaflito! O mundo está vazio, está vazio!”. Eles se atiraram ao chão diante

    do Tathagata e disseram-lhe: “Oh Tathagata! Por favor, tenha piedadee aceite nossos oferecimentos”!

    O Honrado pelo Mundo, ciente da ocasião, permaneceu em silêncio, enão recebeu (os oferecimentos). Por três vezes eles rogaram, mas suassúplicas não foram ouvidas. Frustrados em seu objetivo, os Mongesentristecidos sentaram-se em silêncio. Isto foi como no caso do paicompassivo, mas que tinha apenas um filho. Este filho, de repente,

    torna-se doente e morre. Ao cabo da cremação, o pai retorna para casamergulhado em grande aflição. O mesmo era o caso de todos os Mon-ges, que choraram e ficaram profundamente aflitos. Com todos os seusutensílios colocados num local seguro, os Monges recuaram e senta-ram silenciosamente a um lado.

    Naquela ocasião, lá estavam Monjas, numerosas como as areias de trêsRios Ganges, que eram perfeitas na observância dos cinco preceitos ena conduta. Dentre elas estavam Monjas tais como Ayusguna, Guna-malya e Visakha que lideravam 84.000 Monjas e que, assim, poderiamproteger propriamente o Verdadeiro Dharma. No sentido de prover atravessia de inumeráveis centenas de milhares de seres para a outramargem, elas haviam nascido como mulheres. Elas depuraram seve-ramente seu autocontrole sob a luz das leis monáticas e meditavamsobre suas próprias pessoas. Como as quatro víboras [os quatro princi-

    pais elementos que são a terra, o ar, o fogo e a água], este corpo carnal

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    11/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 11

    é constantemente atacado e devorado por inumeráveis vermes. Cheiramal e é corrompido. Esconde a ganância. Este corpo é detestável, comoa carcaça de um cão. Este corpo é impuro, e dele nove furos evacuam

    impurezas. É como se fosse um castelo, com o sangue, tecidos, tronco,ossos e pele formando suas paredes externas, braços e pernas servindocomo baluartes, os olhos como bocas de canhões e a cabeça comotorre principal. O Rei Pensamento está sentado lá dentro. Esse castelocarnal é aquele que todos os Budas Honrados pelo Mundo abandoname que os mortais comuns e ignorantes sempre amam e apegam-se aele. Semelhantemente aos rakshasas (demônios devoradores de car-ne), a avareza, a ira e a estupidez nele se estabelecem. Este corpo é

    frágil como uma cana, como a eranda (planta mal-cheirosa), a espumae a bananeira. Este corpo é não-eterno e não permanece estável se-quer por um segundo. Ele é como um relâmpago, água corrente ouuma miragem. Ou ainda, é como pintar um quadro na água, que desa-parece tão logo é feito. Este corpo cai tão facilmente quanto umagrande árvore pendurada na barranca de um rio. Ele não durará muito.Ele será mordiscado e devorado por raposas, lobos, corujas, águias,corvos, abutres e cães famintos. Quem em sã consciência se alegraria

    em devorar-se. Ainda que pudéssemos preencher a pegada de umavaca com água, não teríamos a completa explicação do não-eterno, onão-puro, o mau-cheiro e a corrupção deste corpo; ainda que pusés-semos triturar a grande terra e reduzi-la a grãos do tamanho de umasemente de mostarda ou do tamanho de uma partícula de pó, nuncapoderíamos explicar completamente as falhas e males deste corpo.Sendo assim, deveríamos descartá-lo como lágrimas ou saliva. Em ra-zão disto, todas as Monjas exercitavam suas mentes em leis como ovazio, sem forma e sem desejo. Assim, elas desejavam muito mais in-dagar e aguardar por um ensinamento dos sutras Mahayana e, tendoouvido-o, explicá-lo para outros. Elas guardavam e mantinham os seusvotos e depreciavam a forma feminina. A forma tem mais a ser repug-nada e é, por natureza, não indestrutível. Assim, os seus pensamentossempre viam corretamente as coisas e subjugavam a interminável rodado nascimento e da morte. Elas mantinham o Mahayana em observân-

    cia e, elas próprias, eram bem nutridas por ele. Elas alimentavam os

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    12/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 12

    pensamentos daquilo que o comprazia. Prezavam-no enormemente,defendiam-no e protegiam-no. Embora mulheres na forma, elas eram,de fato, não mais que Bodhisattvas. Em plena concordância com os

    caminhos do mundo, elas os conheciam bem, ajudavam aqueles queainda não haviam conquistado a outra margem e emancipavam aque-les ainda não emancipados. Elas protegiam a herança dos Três Tesou-ros, tal que eles nunca viessem a desaparecer, e tal que elas pudessemgirar a Roda da Lei nos dias vindouros. Elas adornavam grandiosamentesuas próprias pessoas, mantendo verdadeiramente em observância ospreceitos proibitivos e, assim, acumulando tais virtudes. Seus coraçõescompassivos abarcavam todos os seres. Eram imparciais e não-dúbias,

    como se consideraria um único filho. Elas também, logo cedo quando osol acabara de nascer, disseram umas às outras: “Apressemo-nos hojeà floresta das árvores gêmeas”! Os utensílios das Monjas eram duasvezes mais. Elas levaram-nos para onde o Buda se encontrava, tocaramseus pés, circundaram-no cem mil vezes e disseram: “Oh Honrado peloMundo! Trazemos conosco alimentos para o Buda e a Sangha. Oh Ta-thagata! Por favor tenha piedade e aceite nossos oferecimentos”! OTathagata manteve-se em silêncio e não os aceitou. Como sua súplica

    não foi atendida, todas as Monjas ficaram tristes. Elas recuaram e sen-taram silenciosamente a um lado.

    Naquela ocasião, os Licchavis (um famoso clã da época) do Castelo deVaisali estavam presentes e havia outros tão numerosos quanto àsareias de quatro Rios Ganges, que eram homens, mulheres, grandes epequenos, esposas e filhos, parentes e servos dos reis do Jambudvipa.Seguindo o Caminho, eles mantinham verdadeiramente em observân-cia os preceitos proibitivos e eram perfeitos em sua conduta. Eles sub-

     jugaram as pessoas que seguiam outros ensinamentos e que agiamcontra o Dharma Maravilhoso. Eles sempre diziam uns aos outros: “Nósteremos depósitos de ouro e prata para defender o doce e infinitamen-te profundo Dharma Maravilhoso, de tal forma que ele florescerá. Fa-çamos votos de sempre aprender o Dharma. Arrancaremos a línguadaqueles que difamem o Dharma Maravilhoso do Buda”. Eles também

    oraram: “Se houver um monge que transgrida as proibições, nós o

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    13/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 13

    mandaremos de volta para a vida secular e o tornaremos escravo; sealguém vier a perseverar no Dharma Maravilhoso, nós o estimaremos eo serviremos como o faríamos para nossos parentes. Se sacerdotes

    praticarem bem o Dharma Maravilhoso, compartilharemos da suaalegria e o apoiaremos, tal que ele cresça”. Eles sentiam-se semprealegres ao emprestar um ouvido para o sutra Mahayana. Tendo ouvi-do, eles expunham amplamente para outros aquilo que tinham ouvido.Todos eram versados em tais virtudes. Estavam ali incluídos Licchaviscomo: Repositório-Puro-e-Imaculado, Puro-e-Não-Indulgente, Água-do-Ganges-da-Pura-e-Imaculada-Virtude.

    Todos eles disseram a si próprios: “Apressemo-nos para onde o Budase encontra”! Muitos eram seus utensílios para oferecimentos. CadaLicchavi tinha 84.000 elefantes inteiramente decorados, juntamentecom 84.000 carruagens de tesouros puxadas por juntas quádruplas decavalos, e 84.000 gemas brilhantes como a lua. Havia também feixes demadeira combustível como a madeira celestial, sândalo e aloés, todosem número de 84.000. À frente de cada elefante pendiam emblemassuspensos finamente decorados, estandartes e dosséis. Mesmo os

    menores dosséis mediam cerca de um yojana tanto na largura como nocomprimento. Mesmo os mais curtos estandartes mediam 32 yojanas.E os mais baixos emblemas suspensos atingiam a altura de 100 yojanas.Com esses objetos para oferecimento, eles foram para onde o Buda seencontrava, tocaram seus pés, circundaram-no 100 mil vezes e disse-ram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! Aqui estamos com oferecimentospara vós, o Buda, e para a Sangha. Por favor, tenha piedade e aceite-os”! O Tathagata permaneceu em silêncio e não os aceitou. Não conse-guindo o que almejavam, todos os Licchavis ficaram tristes. Através dopoder do Buda, eles elevaram-se no céu à altura de sete talas, ondepermaneceram em silêncio.

    Além disso, naquela ocasião, lá estavam ministros e leigos ricos tãonumerosos quanto às areias de cinco Rios Ganges. Eles prezavam oMahayana. Se houvesse quaisquer seguidores de outros ensinamentos

    que caluniassem o Dharma Maravilhoso, eles os subjugariam assim

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    14/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 14

    como o granizo e a chuva o fazem com a grama e as plantas. Eles eramLuz Solar, Protetor-do-Mundo e Protetor-do-Dharma. Estes lideravamseus séquitos. Seus utensílios eram cinco vezes mais do que aqueles

    que lhes precederam. Eles os carregaram para a floresta das árvoressala gêmeas, tocaram os pés do Buda, circundaram o Buda por 100 milvezes, e disseram: “Oh Honrado pelo Mundo! Trouxemos para vós e aSangha utensílios para oferecimentos. Por favor, tenha piedade e acei-te-os”! O Tathagata permaneceu em silêncio e não os aceitou. Comoseu desejo não foi atendido, os longevos ricos ficaram tristes. Atravésdo divino poder do Buda, eles foram elevados à altura de sete talas dochão ao céu, onde permaneceram em silêncio.

    Naquela ocasião, lá estavam presentes o Rei de Vaisali e sua consorte,as pessoas do seu harem, e todos os reis do Jambudvipa, exceto Ajata-satru e aqueles da torre do castelo e vilas do seu reinado. Estavam aliReis tais como Imaculado-como-a-Lua e outros. Eles levaram com elesas quatro forças militares [elefantes, cavalos, infantaria e carruagens] edesejavam ir para onde o Buda se encontrava. Cada rei tinha pessoas eparentes tão numerosos quanto 180 milhões de bilhões. As carruagens

    e soldados eram puxados por elefantes e cavalos. Os elefantes eram deseis presas e os cavalos corriam como o vento. Seus adornos e utensí-lios eram seis vezes mais do que aqueles que lhes precederam. Dentretodos os dosséis ornamentados, o menor deles cobria um diâmetro de8 yojanas. O menor dos estandartes media 16 yojanas. Todos aquelesreis perseveravam pacificamente no Dharma Maravilhoso e detesta-vam leis distorcidas. Eles estimavam o Mahayana e sentiam profundaalegria nele. Eles amavam todos os seres como se ama um filho único.A fragrância dos alimentos e bebidas que eles levavam preenchia o arao redor de quatro yojanas. Eles também, logo cedo quando o sol aca-bara de nascer, carregaram esses deliciosos pratos e foram para a flo-resta das árvores sala gêmeas onde o Tathagata se encontrava e disse-ram: “Oh Honrado pelo Mundo! Desejamos oferecer isto para o Buda ea Sangha. Por favor, tenha piedade, Oh Tathagata! E aceite nossos úl-timos oferecimentos!” O Tathagata, ciente da ocasião, não os aceitou.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    15/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 15

    Com seus desejos não atendidos, todos aqueles reis ficaram tristes.Eles recuaram e tomaram assento a um lado.

    Naquela ocasião, lá estavam as consortes dos reis, tão numerosasquanto às areias de sete Rios Ganges, exceto a consorte do Rei Ajatasa-tru. De modo a salvar os seres viventes, elas manifestaram-se comomulheres. Elas estavam sempre conscientes das suas ações corporais eperfumavam seus pensamentos com as leis do vazio, sem forma e semdesejo. Dentre elas estavam as senhoras Maravilhoso-Mundo-Tríplice eVirtude-Amorosa. Todas essas consortes perseveravam pacificamenteno Dharma Maravilhoso, mantinham em observância as proibições e

    eram perfeitas em sua conduta. Elas se comportavam para com todosos seres como se fossem um filho único. Todas elas disseram: “Vamostodas rapidamente para onde o Buda se encontra.” Os oferecimentosdaquelas consortes reais eram sete vezes mais do que aqueles que lhesprecederam, e constavam de: incenso, flores, emblemas pingentes,tecidos de seda, estandartes, dosséis, e as melhores comidas e bebidas.Mesmo o menor dos dosséis finamente decorados media 16 yojanas. Omais baixo dos emblemas pingentes media 68 yojanas. A fragrância de

    suas comidas e bebidas espalhava-se por uma área de oito yojanas aoredor. Carregando todos aqueles oferecimentos, elas foram para ondeo Buda se encontrava. Elas tocaram os seus pés, circundaram-no por100 mil vezes, e disseram ao Buda: “Oh Honrado pelo Mundo! Viemoscom os nossos oferecimentos para o Buda e a Sangha. Por favor, tenhapiedade e aceite nossos últimos oferecimentos!” O Tathagata, cienteda ocasião, permaneceu em silêncio e não os aceitou. Com suas súpli-cas não atendidas, todas as consortes ficaram tristes. Elas puxaramseus cabelos, bateram em seus seios e choramingaram como a mãecompassiva que acabara de perder seu único filho. Elas recuaram etomaram assento silenciosamente a um lado.”

    Naquela ocasião, lá estavam também deusas tão numerosas quanto àsareias de oito Rios Ganges. Virupakasa liderava seu séquito e disse: “OhIrmãs! Vejam bem, vejam bem! Os melhores oferecimentos de todos

    aqueles seres são para o Tathagata e para os Monges. Deveríamos agir

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    16/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 16

    seriamente e fazer oferecimentos ao Tathagata com utensílios tãomaravilhosos quanto aqueles. Ele compartilhará (participará) dos nos-sos oferecimentos e entrará no Nirvana. Oh Irmãs! É difícil encontrar

    um Buda, o Tathagata, neste mundo. É também difícil fazer os últimosoferecimentos. Uma vez que o Buda entre no Nirvana, o mundo tornar-se-á vazio.” Todas aquelas mulheres celestiais amavam o Mahayana edesejavam ouvi-lo. Tendo ouvido-o, elas o exporiam amplamente paraoutras pessoas. Prezando muito o Mahayana, elas também satisfaziamaqueles que estavam morrendo por ele. Elas protegiam o Mahayanamuito bem. Se houvesse qualquer outro ensinamento que se opusesseou invejasse o Mahayana, elas subjugavam-nos severamente, assim

    como o granizo faz com a grama. Elas mantinham em observância ospreceitos proibitivos e sua conduta era perfeita. Elas conheciam bemos caminhos do mundo, atravessavam aqueles que ainda não haviamalcançado a outra margem, e giravam a Roda do Dharma. Elas protegi-am a herança dos Três Tesouros, tal que eles nunca viessem a desapa-recer. Elas estudaram o Mahayana e, assim, adornaram-se grandiosa-mente. Perfeitas em todas aquelas virtudes, elas amavam todos osseres igualmente, assim como se ama um filho único. Elas também,

    logo cedo quando o sol acabara de nascer, pegaram incenso de madei-ras celestiais em quantidade duas vezes maior que aquela existente nomundo humano. A fragrância de todo aquele incenso limpou todos osmaus odores humanos. Suas carruagens tinham as coberturas brancase eram puxadas por juntas quádruplas de cavalos. Cada carruagem eraacortinada, e em cada um dos quatro cantos estavam penduradossinos de ouro. De diversos tipos eram o incenso, as flores, os emblemaspingentes, estandartes, dosséis, maravilhosas comidas e danças demáscara. Lá estavam simhasanas [tronos de leão], cujos quatro péseram de pura água-marinha (berílio azul). Atrás dos simhasanas esta-vam divãs incrustrados com os sete tesouros. Na frente de cada divãhavia um encosto para o braço feito de ouro. As luminárias eram feitasdos sete tesouros, e várias gemas serviam-lhe de lâmpadas. Floresmaravilhosas espalhavam-se pelo chão. Tendo feito seus oferecimen-tos, todas essas deusas ficaram tristes em seu coração. As lágrimas

    verteram-lhes e grande foi a sua tristeza. No sentido de beneficiar os

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    17/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 17

    seres e torná-los felizes, elas haviam completado a insuperável práticado Todo-Vazio do Mahayana e propuseram revelar os secretos ensi-namentos dos meios expedientes do Tathagata. Para evitar que os

    vários sermões viessem a se perder, elas foram para onde o Buda seencontrava, tocaram seus pés, circundaram-no por 100 mil vezes, edisseram ao Buda: “Oh Honrado pelo Mundo! Por favor, aceite nossosúltimos oferecimentos.” O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceuem silêncio e não os aceitou. Todas aquelas deusas, com seus desejosnão atendidos, ficaram tristes. Elas recuaram, tomaram assento a umlado, e permaneceram em silêncio.

    Naquela ocasião, lá viviam vários Reis Dragões nos quatro quadrantes,tão numerosos quanto às areias de nove Rios Ganges. Eles eram Vasu-ki, Nanda e Upananda, que liderava seu séquito. Também, todos aque-les Reis Dragões, logo cedo quando o sol acabara de nascer, pegaramseus utensílios de oferecimentos, tão numerosos quanto aqueles doshumanos e seres celestiais. Carregando-os para onde o Buda se encon-trava, eles tocaram seus pés, circundaram-no por 100 mil vezes e disse-ram-lhe: “Oh Tathagata! Por favor, aceite nossos últimos oferecimen-

    tos.” O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceu em silêncio e não osaceitou.Todos os Reis Dragões, com seus desejos não atendidos, fica-ram tristes. Eles recuaram e sentaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, lá estavam Reis Demônio tão numerosos quanto àsareias de dez Rios Ganges. Vaishravana liderava seu séquito. Eles disse-ram uns aos outros: “Apressemo-nos para onde o Buda está!” Trazen-do com eles várias coisas como oferecimentos, duas vezes mais do queaquelas dos Reis Dragões, eles foram para onde o Buda se encontrava,tocaram seus pés, circundaram-no por 100 mil vezes, e disseram-lhe:“Oh Tathagata! Por favor, tenha piedade e aceite os nossos últimosofereceimentos!” O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceu emsilêncio e não os aceitou. Com seus desejos insatisfeitos, eles sentiramtristeza, recuaram e sentaram-se a um lado.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    18/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 18

    Naquela ocasião, lá estavam também Reis Garudas [Pássaros Mitológi-cos], tão numerosos quanto às areias de 20 Rios Ganges. O Rei-Vitória-Sobre-Ressentimentos liderava seu séquito.

    Também, lá estavam Reis Gandharva [músicos semi-deuses], que eramtão numerosos quanto às areias de 30 Rios Ganges. O Rei Narada lide-rava seu séquito.

    Também, lá estavam Reis Kimnara [cantores e dançarinos celestias],tão numerosos quanto às areias de 40 Rios Ganges. O Rei Sudarsanaliderava seu séquito.

    Também, lá estavam Reis Mahoragas [seres com cabeça de serpente],tão númerosos quanto às areias de 50 Rios Ganges. O Rei Mahasudar-sana liderava seu séquito.

    Também, lá estavam Reis Asura [demônios titânicos e contenciosos],tão numerosos quanto às areias de 60 Rios Ganges. O rei Campaluliderava seu séquito.

    Também, lá estavam Reis Davanat [abundantes em doações], tão nu-merosos quanto às areias de 70 Rios Ganges. O Rei Água-Do-Rio-Imaculado e Bhadradatta lideravam seu séquito.

    Também, lá estavam Rakshasa [demônios carnívoros], tão numerososquanto às areias de 80 Rios Ganges. O Rei Temível liderava seu séquito.Abandonando o mal, ele não devorava humanos; mesmo em meio aoressentimento, ele mostrava-se compassivo. Sua forma era horrível dever, ainda que parecesse correto e austero devido ao poder do Buda.

    Também, lá estavam Reis da Floresta, tão numerosos quanto às areiasde 90 Rios Ganges. O Rei Música-e-Odor liderava seu séquito.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    19/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 19

    Também, lá estavam Reis Possuidores-dos-Dharanis [encantamentos],tão numerosos quanto às areias de 1.000 Rios Ganges. O Rei-Grande-Visão-da-Proteção-dos-Dharanis liderava seu séquito.

    Também, lá estavam Obcecações Sensuais [espíritos], tão numerososquanto às areias de 100 mil Rios Ganges. O Rei Sudarsana liderava seuséquito.

    Também, lá estavam as Deusas Sensuais, tão numerosas quanto àsareias de 10 milhões de Rios Ganges. Secreção –Azul-Celeste, Secreção-da-Tristeza-pelo-Cadáver, Secreção-da-Via-Imperial e Visakha lidera-

    vam seu séquito.

    Também, lá estavam os Reis da Obcecação da Terra, tão numerososquanto às areias de um bilhão de Rios Ganges. O Rei Secreção-Esbranquiçada liderava seu séquito.

    Também, lá estavam Príncipes, Guardiões Celestiais, e os quatro AnjosGuardiões da Terra, tão numerosos quanto às areias de 10 trilhões de

    Rios Ganges.

    Também, lá estavam os ventos dos quatro quadrantes, tão numerososquanto às areias de 10 trilhões de Rios Ganges. Eles trouxeram as floressazonais e extemporâneas de todas as árvores e espalharam-nas entreas árvores sala gêmeas.

    Também, lá estavam os principais deuses das nuvens e das chuvas, tãonumerosos quanto às areias de 10 trilhões de Rios Ganges, os quaisdisseram a si mesmos: “Quando o Tathagata entrar no Nirvana, fare-mos chover na ocasião da sua cremação e extinguiremos o fogo. Se láhouver alguém que sinta calor e murmure, tornaremos o ar frio.”

    Também, lá estavam Elefantes Reais Grandiosamente Fragrantes, tãonumerosos quanto às areias de 20 Rios Ganges. Dentre eles estavam

    Rahuhastin, Suvarnavarnahastin, Amrtahastin, Elefante-de-Olhos-Azuis

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    20/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 20

    e o Elefante Fragrância do Desejo, que liderava seu séquito. Eles respei-tavam e amavam o Mahayana. Como o Buda estava prestes a entrar noNirvana, cada um pegou uma inumerável, incomensurável quantidade

    de belíssimas flores de lótus e levaram-nas para onde o Buda se encon-trava, tocaram seus pés com suas cabeças, recuaram e postaram-se aum lado.

    Também, lá estavam Reis Leões, tão numerosos quanto às areias de 20Rios Ganges. O Rei Rugido do Leão liderava seu séquito. Eles conferi-ram o destemor para todos os seres. Ostentando várias flores e frutos,eles vieram para onde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com

    suas cabeças, recuaram e postaram-se a um lado.

    Também, lá estavam os reis dos pássaros, tão numerosos quanto àsareias de 20 Rios Ganges. Dentre eles estavam plovers, gansos selva-gens, patos mandarin, pavões, gandharvas,karandas, mynahs, parrots, kokilas, wagtails, kalavinkas, jivamjivakas etodos os tipos de pássaros; todos carregando flores e frutos, vierampara onde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças,

    recuaram e postaram-se a um lado.

    Também, lá estavam búfalas, vacas e ovelhas, tão numerosas quantoàs areias de 20 Rios Ganges, que vieram ao Buda e ofereceram-lhe umleite maravilhosamente fragrante. Todo aquele leite preencheu asvalas e poços do Castelo de Kushinagar. Sua cor, fragrância e saboreram perfeitos. Isto feito, elas recuaram e postaram-se a um lado.

    Também, lá estavam sábios dos quatro continentes, tão numerososquanto às areias de 20 Rios Ganges. Ksantirsi liderava o seu séquito.Carregando flores, incenso e frutas, eles vieram para onde o Buda esta-va, tocaram seus pés com suas cabeças, circundaram-no por três vezese disseram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! Por favor, tenha piedade eaceite nossos últimos oferecimentos!” O Tathagata, ciente da ocasião,permaneceu em silêncio e não os aceitou. Diante disto, com seus dese-

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    21/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 21

     jos não atendidos, todos os sábios ficaram tristes. Eles recuaram e pos-taram-se a um lado.

    Lá estavam presentes todas as abelhas rainhas do Jambudvipa. SomMaravilhoso, a Rainha das abelhas, liderava seu séquito. Trazendo mui-tas flores, elas vieram para onde o Buda se encontrava, tocaram seuspés com suas cabeças, circundaram-no uma vez, recuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, os Monges e Monjas do Jambudvipa estavam todosconcentrados juntos, exceto os dois veneráveis, Mahakashyapa e A-

    nanda.

    Também, lá estavam os espaços entre os mundos, tão numerososquanto às areias de inumeráveis asamkhyas de Rios Ganges, bem comotodas as montanhas do Jambudvipa, dentre as quais o Rei Monte Su-meru que liderava seu séquito. Grandiosos eram os adornos das mon-tanhas. Velhas e exuberantes eram as matas e florestas, os ramos efolhas encontravam-se em seu clímax, de tal maneira que ocultavam o

    sol. Diversas eram as flores maravilhosas que desabrocharam em todaa volta. As nascentes e córregos eram puros, fragrantes e transparen-tes. Devas, nagas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas,sábios, mágicos, atores, dançarinos e músicos lotavam o lugar. Todosestes seres celestiais das montanhas e outros vieram para onde o Budase encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças, recuaram e posta-ram-se a um lado.

    Além disso, lá estavam presentes os deuses dos quatro grandes ocea-nos e dos rios, tão numerosos quanto às areias de asamkhyas de RiosGanges, os quais possuíam grandes virtudes e feições celestiais. Seusoferecimentos eram duas vezes maiores que aqueles que lhes precede-ram. As luzes que emanavam dos corpos daqueles deuses e daquelesdançarinos de máscara eclipsaram tanto a luz do sol e da lua, que elesficaram ocultos e não mais podiam ser vistos. Flores de Champaka

    foram espalhadas sobre as águas do Rio Hiranyavati. Eles vieram para

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    22/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 22

    onde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças, recu-aram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, as árvores sala da floresta de Kushinagar mudaram decor e pareciam grus (pássaro da família gruidae) brancos. No céu, umsalão de sete tesouros apareceu espontaneamente. Neles, podia-se veruma fina decoração. Havia balaustres em todo seu redor, com gemaspreciosas incrustadas neles. Em meio aos edifícios viam-se córregos elagos para banho, onde flores de lótus maravilhosas flutuavam. Eracomo se estivéssemos no Uttarakuru, nos jardins do Céu Trayastrimsa.Isto é como as coisas estavam na floresta de árvores sala, com adornos

    esplêndidos e maravilhosos. Os devas (espíritos intimamente ligados eintegrados à natureza, ou seja, aos cinco elementos), asuras e todos osoutros testemunharam a cena da entrada do Tathagata no Nirvana,ficando todos profundamente entristecidos e inconsoláveis.”

    “Então, os quatro Anjos Guardiões da Terra e Sakrodevendra disseramuns aos outros: “Veja! Todos os devas, seres humanos e asuras estãoem preparativos com a intenção de fazer seus últimos oferecimentos

    ao Tathagata. Nós, também, faremos o mesmo. Se fizermos nossosoferecimentos finais, não será difícil tornarmo-nos perfeitos no dana-paramita.” Naquela ocasião, os oferecimentos dos quatro anjos guar-diões da terra eram duas vezes maiores que aqueles que lhes precede-ram. Carregaram em suas mãos todos os tipos de flores como manda-rava, mahamandarava, kakiruka, mahakakiruka, manjushaka, maha-manjushaka, santanika, mahasantanika, amorosa, muito amorosa,samantabhadra, mahasamantabhadra, tempo, grande tempo, castelofragrante, castelo muito fragrante, alegria, grande alegria, convite aodesejo, grande convite ao desejo, fragrância intoxicante, grande fra-grância intoxicante, toda fragrante, muito grande fragrante, folhasdouradas celestiais, nagapuspa, paricitra, kovidara, e também carre-gando maravilhosas comidas, eles vieram para onde o Buda se encon-trava e tocaram seus pés com suas cabeças. A luz de todos aquelesdevas sobrepujou a luz do sol e da lua, tal que eles não podiam ser

    vistos. Com esses utensílios, eles intencionavam fazer oferecimentos

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    23/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 23

    ao Buda. O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceu em silêncio enão os aceitou. Com seus desejos não atendidos, os devas ficaramtristes e preocupados, recuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, Sakrodevendra e os seres do Céu Trayastrimsa carre-garam os vasos de seus oferecimentos, os quais eram duas vezes maio-res do que aqueles que lhes precederam. As flores que eles carregarameram igualmente muito numerosas. A fragrância era maravilhosa, mui-to agradável de sentir. Eles carregaram o salão (hall) da vitória, o Vaija-yanta [palacio de Sakrodevendra] e muitos outros salões menores evieram para onde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com suas

    cabeças, e disseram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! Nós amamos pro-fundamente e protegemos o Mahayana. Oh Tathagata! Por favor, acei-te nossas comidas (oferecimentos).” O Tathagata, ciente da ocasião,permaneceu em silêncio e não as aceitou. Shakra [Indra, líder dos deu-ses] e todos os devas, com seus desejos não atendidos, ficaram tristes.Eles recuaram e postaram-se a um lado.

    Os oferecimentos daqueles até o sexto céu aumentavam em tamanho

    um após o outro. Lá estavam emblemas finamente decorados, estan-dartes e dosséis. Mesmo os menores dos dosséis cobriam os quatrocontinentes; os menores estandartes cobriam os quatro mares; mesmoos menores emblemas alcançavam o céu Mahesvara. Uma brisa suavesoprava e uma doce música surgiu. Carregando as mais deliciosas co-midas, eles vieram para onde o Buda se encontrava, tocaram seus péscom suas cabeças, e disseram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! Roga-mos, Oh Tathagata! Tenha piedade e aceite nossos últimos ofereci-mentos!” O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceu em silêncio enão os aceitou. Com seus desejos não atendidos, todos os devas fica-ram tristes. Eles recuaram e postaram-se a um lado.

    “Todos os devas até o mais elevado dos céus estavam reunidos lá. Na-quela ocasião, o Grande Deus Brahma e outros devas emitiram uma luzque resplandeceu sobre os quatro continentes. Para os humanos e

    devas do mundo dos desejos, as luzes do sol e da lua ficaram obscure-

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    24/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 24

    cidas. Eles tinham emblemas finamente decorados, estandartes e dos-séis de seda colorida. Mesmo o menor estandarte que pendia do palá-cio do Brahma vinha até onde estavam as árvores sala. Eles vieram

    para onde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças, edisseram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! Rogamos, Oh Tathagata!Tenha piedade e aceite nossos últimos oferecimentos.” O Tathagata,ciente da ocasião, permaneceu em silêncio e não os aceitou. Diantedisto, os devas, com seus desejos não atendidos, ficaram tristes. Elesrecuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, Vemacitra, o rei dos asuras, estava presente com

    inumeráveis grandes aparentados. A luz que resplandeceu (ali) eramais brilhante que aquela do Brahma. Ele tinha emblemas finamentedecorados, estandartes e dosséis. Mesmo o menor estandarte cobriamil mundos. Carregando deliciosas comidas, eles vieram para onde oBuda se encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças e disseram-lhe: “Rogamos, Oh Tathagata! Tenha piedade e aceite nossos últimosoferecimentos!” O Tathagata, ciente da ocasião, permaneceu em silên-cio e não os aceitou. Como seus desejos não foram atendidos, todos os

    asuras ficaram tristes. Eles recuaram e postaram-se a um lado.

    Naquela ocasião, Marapapiyas (Mara, o Demônio) do mundo dos dese- jos com todos os seus demônios aparentados e suas fêmeas domesti-cadas, com seus inumeráveis acompanhantes, abriram os portões doinferno, aspergiram água pura, e disseram: “Agora vocês nada têm afazer. Somente pensem que o Tathagata, o Merecedor de Ofertas eTodo-Iluminado, participa com alegria, e ofereçam seus últimos ofere-cimentos. Vocês agora terão uma longa noite de paz.” Então, Marapa-pivas eliminou todas as grandes e pequenas espadas, venenos e doresdo inferno. Ele fez a chuva cair e extinguir o fogo ardente. Através dopoder do Buda, ele obteve esse estado de espírito. Ele fez todos os seusdemônios aparentados abandonarem suas grandes e pequenas espa-das, arcos, bestas, armaduras, armas, alabarda (uma combinação demachado e lança), escudos, ganchos, martelos de metal, machados,

    carros de guerra e laços. Os oferecimentos que eles tinham eram duas

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    25/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 25

    vezes maiores do que aqueles dos humanos e seres celestiais. Mesmoo menor dos dosséis cobria meio milhar de mundos. Eles vieram paraonde o Buda se encontrava, tocaram seus pés com suas cabeças, e

    disseram-lhe: “Nós agora amamos e protegemos o Mahayana. Oh Hon-rado pelo Mundo! Os homens e mulheres no mundo podem, com afinalidade de fazer oferecimentos, sem medo, seja por motivos de infi-delidade, por lucro e outros motivos; aceitar este Mahayana, sejameles (os motivos) verdadeiros ou não. Então, no sentido de erradicar omedo de tais pessoas, enunciaremos o seguinte dharani: “Taki, tatara-taki, rokarei, makarokarei, ara, shara, tara, shaka". Nós cantamos essedharani para o benefício daqueles que perderam sua coragem, que

    possam estar sentindo medo, que pregam para outros, que oram paraque o Dharma não se extingua, que desejam sobrepujar os tirthikas[seres deludidos, não-Budistas], para a proteção de si próprios, para aproteção do Dharma Maravilhoso, e para a proteção do Mahayana.Armados com esse dharani, não temeremos elefantes enfurecidos, ouquando atravessarmos regiões selvagens, terras pantanosas, ou quais-quer lugares íngremes; não haverá medo da água, fogo, leões, tigres,lobos, ladrões ou reis. Oh Honrado pelo Mundo! Armados com este

    dharani, ninguém terá medo. Nós protegeremos a pessoa que tenhaeste dharani, e ele ou ela será como a tartaruga que guarda seus seismembros dentro de sua carapaça. Oh Honrado pelo Mundo! Não dis-semos isto apenas para agradar. Na realidade, nós faremos coisas taisque aqueles que estiverem armados com este dharani aumentarão oseu poder. Nós apenas rogamos, Oh Tathagata! Tenha piedade e aceitenossos últimos oferecimentos.” Então, o Buda disse à Marapapiyas: “Eunão aceito o vosso oferecimento; eu já possuo o vosso dharani. Isto épara fazer com que todos os seres e as quatro classes de pessoas daSangha descansem em paz.” Assim dizendo, o Buda caiu em silêncio enão aceitou os oferecimentos de Marapapiyas. Por três vezes Mahapa-piyas indagou o Buda para aceitá-los, mas o Buda não o fez. Diantedisto, com suas súplicas não atendidas, Mahapapiyas ficou triste, recu-ou e postou-se a um lado.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    26/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 26

    Naquela ocasião, lá estava presente Mahesvara Raja com seus inume-ráveis aparentados e outros devas. Eles carregaram seus vasos de ofe-reciementos, os quais eram, de longe, maiores que os de Brahma e

    Indra, do que aqueles dos anjos guardiões da terra, humanos e devas,os oito seres e não humanos. Os preparativos que Sakrodevendra fize-ra pareciam preto contra branco, se tomarmos como comparação obranco do casco do cavalo, e toda a sua glória (dos preparativos anteri-ores) desapareceu. Mesmo os menores dos dosséis finamente decora-dos cobriam 3.000 grandes sistemas de mil mundos. Carregando seusvasos de oferecimentos, eles vieram para onde o Buda se encontrava,tocaram seus pés com suas cabeças, circundaram-no incontáveis vezes,

    e disseram-lhe: “Oh Honrado pelo Mundo! As coisas desprezíveis quetemos conosco são comparáveis aos oferecimentos nos feitos pormosquitos e moscas; ou como um homem atirando uma concha deágua no grande oceano; ou como tentar somar uma pequena luz à luzde 100 mil sóis; ou como tentar, na primavera e verão, quando há mui-tas flores, adicionar uma única flor à glória de todas as flores; ou tentaradicionar o esplendor do Monte Sumeru com uma única semente rou-bada. Como poderia haver qualquer aumento do grande oceano, do

    brilho dos sóis, de todas as flores ou do Monte Sumeru? Oh Honradopelo Mundo! O pouco que carregamos aqui (para lhe oferecer), bempode ser comparado a isto. Realmente, poderíamos oferecer-lhe in-censo, flores, danças de máscaras, estandartes e dosséis de 3.000grandes sistemas de mil mundos, mas isto ainda não seria digno demenção. Por que não? Porque você sempre sofreu as dores nos infeli-zes domínios do inferno, da fome, da ira e da animalidade. Em razãodisto, Oh Honrado pelo Mundo! Por favor, tenha piedade e, desse mo-do, aceite nossos oferecimentos.”

    Agora, no leste, havia uma terra Búdica, distante tantas terras quantoàs areias de incontáveis, inumeráveis asamkhyas de Rios Ganges, cha-mada Tranqüila-em-Pensamento-e-Linda-no-Som, e cujo Buda é cha-mado Igual ao Vazio, Tathagata, Merecedor de Ofertas, de Conheci-mento Correto e Universal, de Lucidez e Conduta Perfeitas, um Bem-

    Aventurado que Compreende o Mundo, um Mestre Insuperável, um

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    27/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 27

    Herói Justo e Destemido, um Buda, um Honrado pelo Mundo. Naquelaocasião o Buda falou aos seus principais grandes discípulos: “Vá agoraao mundo no oeste, chamado Saha. Há um Buda naquele mundo cha-

    mado Tathagata Shakyamuni, que é Merecedor de Ofertas, de Conhe-cimento Correto e Universal, de Lucidez e Conduta Perfeitas, um Bem-Aventurado que Compreende o Mundo, um Mestre Insuperável, umHerói Justo e Destemido, um Buda, um Honrado pelo Mundo. Logo eleentrará no Parinirvana. Bons homens! Levem consigo as comidas fra-grantes deste mundo, as mais fragrantes e belas, que trazem a paz.Ofereçam-nas a ele. Tendo feito isto, ele entrará no Parinirvana. Bonshomens! Além disso, curvem-se diante do Buda, façam-lhe perguntas,

    e dirimam quaisquer dúvidas que vocês tenham.” 

    Então, o Bodhisattva Mahasattva do Corpo Incomensurável, dessaforma, levantou-se do seu lugar, tocou os pés do Buda com sua cabeça,circundou-o por três vezes, acompanhado de inumeráveis asamkhyasde Bodhisattvas, deixou aquela terra e veio a este mundo Saha. Nisto,os três mil grandes sistemas de mil mundos agitaram-se de seis formas,os cabelos daqueles em assembléia  – Brahma, Indra, os quatro anjos

    guardiões da terra, Marapapiyas e Mahesvara  – arrepiaram diante dagrande agitação da terra, e suas gargantas e lábios ficaram secos demedo. Eles ficaram tão assustados que tremeram e queriam fugir emtodas as direções. Conforme eles olharam para os seus próprios cor-pos, a sua luz havia se perdido, e a sua aparência divina desaparecera.Então, o Dharmarajaputra Manjushri levantou-se e falou àqueles emassembléia: “Boa gente! Não tenham medo, não fiquem receosos! Porquê? Ao leste, tão distante quanto às areias de incontáveis, inumerá-veis asamkhyas de Rios Ganges, há uma terra chamada Tranqüila-em-Pensamento-e-Linda-no-Som. O nome do Buda naquela terra é Igual aoVazio, Merecedor de Ofertas, Samyaksambuddha. Ele possui os dezatributos do Buda. Existe um Bodhisattva lá, de corpo incomensurável.Acompanhado de inumeráveis Bodhisattvas, ele deseja vir aqui e fazeroferecimentos ao Tathagata. Através do poder daquele Buda, seuscorpos agora não brilham mais. Assim, alegrem-se; não temam!” En-

    tão, aqueles em assembléia viram um grande número de pessoas da-

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    28/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 28

    quele Buda, a quem eles viam como se fossem seus próprios corposrefletidos num espelho. Então Manjushri disse àqueles em assembléia:“Agora vocês vêem as pessoas daquele Buda como se vissem o próprio

    Buda. Através do poder do Buda, vocês podem ver claramente todosos inumeráveis Budas das outras nove terras Búdicas.” Diante daquilo,as pessoas em assembléia disseram umas às outras: “Oh, que dia aflito,que dia aflito! O mundo está vazio. O Tathagata logo entrará no Pari-nirvana”.

    “Agora, todas as pessoas viram o Bodhisattva do Corpo Incomensurá-vel e seu séquito. E eles viram que de cada poro da pele daquele Bo-

    dhisattva desabrochava uma grande flor de lótus, cada uma delas con-tendo 78 cidades-castelo. Nos sentidos transversal e longitudinal, cadacastelo correspondia ao Castelo do Vaisali. As paredes e fossos doscastelos eram forrados com os sete tesouros. Lá havia avenidas orna-mentadas com sete fileiras de árvores tala. As pessoas eram ativas,pacíficas, ricas, e era muito confortável viver naquela terra. Cada caste-lo era de ouro de Jambunada (Jambunadasuvarna). Cada um continhaárvores dos sete tesouros. A vegetação era exuberante, e ricas eram as

    flores e frutos. Uma brisa suave soprava, emitindo um suave som, co-mo de uma música celestial. As pessoas do castelo, ouvindo aquelessons, sentiam enorme prazer. Os poços eram cheios de uma água ma-ravilhosa. Ela era pura, fragrante e parecia água-marinha (berílio azul).Na água, barcos dos sete tesouros podiam ser vistos. As pessoas esta-vam navegando neles. Eles banhavam-se e divertiam-se. Assim, desfru-tavam de um prazer sem fim. Além disso, havia flores de lótus de váriascores tais como a utpala (azul), kumuda (noturna, que floresce ao lu-ar), padma (vermelho), pundarika (branco). Elas eram como grandesrodas vistas no sentido transversal e longitudinal. Acima dos fossoshavia muitos jardins. Em cada um deles havia cinco lagos, nos quais sevia novamente as tais flores de utpala, kumuda, padma e pundarika,semelhantes a grandes rodas vistas no sentido transversal e longitudi-nal. Elas eram fragrantes e agradáveis. A água era pura e suave ao to-que. Nela podiam ser vistos plovers, gansos selvagens e patos manda-

    rim nadando. Havia lá caramanchões de pedras preciosas, cada um dos

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    29/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 29

    quais perfeitamente quadrados, cobrindo uma área de sete yojanasquadradas. Todas as paredes eram feitas de quatro tesouros: ouro,prata, água-marinha e cristal. Em toda a volta havia janelas, treliças e

    corrimãos de ouro puro. O chão era coberto de kumshuka (rubi - pala-vra do Sanscrito que significa flores de jóias vermelhas - anãs do tur-quistão) em meio a ouro em pó. No palácio havia muitos córregos,nascentes e lagos para banho feitos dos sete tesouros. Cada muralhalateral tinha 18 degraus de escada de ouro. As plantas (plantain, espé-cie de bananeira) eram de ouro de Jambunada (Jambunadasuvarna) esemelhantes aos jardins suspensos do Céu Trayastrimsa. Cada um da-queles castelos acomodava 80 mil reis e cada rei tinha consigo inume-

    ráveis consortes e governantas. Todos estavam divertindo-se, e eramsatisfeitos e felizes. O mesmo aplicava-se às outras pessoas que esta-vam divertindo-se onde eles viviam. As pessoas não ouviam outro en-sinamento que não fosse o Insuperável Mahayana. Sobre cada florestava um Trono de Leão (simhasana), com cada um dos pés feito deágua-marinha (berílio). Em cada assento estava estendido um tecidobranco de seda leve. O tecido era maravilhoso, insuperável em todosos três mundos. Em cada assento encontrava-se um rei pregando o

    Mahayana para as pessoas. Alguns estavam segurando livros em suasmãos, recitando, e praticando a Via. Dessa forma, os sutras Mahayanatornaram-se popularizados. O Bodhisattva do Corpo Incomensurávelpermitiu que inumeráveis pessoas caminhassem por lá, se satisfizes-sem e abandonassem os prazeres mundanos. Todos disseram: “Quedia aflito, que dia aflito! O mundo está vazio. O Tathagata logo entraráno Nirvana.”

    Então, o Bodhisattva de Corpo Incomensurável, seguido por inumerá-veis Bodhisattvas e com o seu poder divino e maravilhoso, carregouinúmeros e diferentes recipientes de oferecimentos, abarrotados comfinas e maravilhosamente fragrantes delícias. Ao sentir a fragrânciadaquelas comidas, todas as manchas da ilusão se desfizeram. Em razãodo poder divino do Bodhisattva, as pessoas viram todas aquelas trans-formações. O tamanho desse Bodhisattva de Corpo Incomensurável

    era ilimitado, era como o espaço em si. Com exceção do Buda, nin-

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    30/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 30

    guém realmente podia ver o tamanho corporal desse Bodhisattva. Osoferecimentos desse Bodhisattva de Corpo Incomensurável eram odobro daqueles que lhes precederam e, assim, eles vieram para onde o

    Buda se encontrava. Eles tocaram os pés do Buda, juntaram suas mãos,prestaram-lhe homenagem e disseram: Oh Honrado pelo Mundo! Porfavor, tenha piedade e aceite nossos oferecimentos.” O Tathagata,ciente da ocasião, permaneceu em silêncio e não os aceitou. Por trêsvezes eles indagaram, mas ele não os aceitou. Dessa forma, o Bodhi-sattva de Corpo Incomensurável e seu séquito recuaram e postaram-sea um lado. O mesmo foi o caso do Bodhisattva de Corpo Incomensurá-vel de todas as Terras Búdicas ao sul, oeste e norte. Eles carregaram

    oferecimentos duas vezes maiores que aqueles que lhes precederam.Vieram para onde o Buda se encontrava, recuaram e postaram-se a umlado. Todos procederam dessa maneira.

    Então, já não restava qualquer espaço na auspiciosa terra da felicidadeentre as árvores sala, dentro de uma área de 32 yojanas quadradas, eque não estivesse repleto de pessoas. Naquela ocasião, todo o espaçoao redor do Bodhisattva de Corpo Incomensurável e seu séquito, que

    vieram juntos dele dos quatro quadrantes, parecia estar preenchidocom pontos do tamanho de um grão de poeira, ou do furo de umaagulha. Todos os grandes Bodhisattvas de todas as inumeráveis TerrasBúdicas das dez direções estavam reunidos lá. Além disso, todas aspessoas do Jambudvipa estavam reunidas lá, com exceção da duplaMahakashyapa e Ananda, e também de Ajatasatru e seu séquito, ser-pentes venenosas que atacam pessoas, besouros de excrementos,víboras, escorpiões e as dezesseis espécies de depravados do mal. Osdanavats e asuras tinham todos abandonado suas intenções malignas etinham tornado-se de pensamentos compassivos. Assim como pais,mães, velhos e jovens; todas as pessoas dos três mil grandes sistemasde mil mundos juntaram-se e falaram umas às outras com o mesmosentimento compassivo, exceto os icchantikas.

    Então, através do poder do Buda, os três mil mundos tornaram-se sua-

    ves ao toque. Lá não havia mais montanhas, areia, cascalho, pragas ou

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    31/345

     

    Capítulo 1: Introdução Página 31

    plantas venenosas; mas tudo estava adornado com vários tesouroscomo no caso do Paraíso Ocidental de paz e felicidade do Buda Amita-yus. Naquela ocasião, todos os que haviam congregado-se lá viram o

    incontável número de Terras Búdicas como se vissem suas formas re-fletidas num espelho. O mesmo foi o caso de quando eles viram asterras de todos os Budas.

    A luz que foi emitida da face do Tathagata era composta de cinco co-res, e resplandeceu sobre toda a grande congregação, tal que obliteroua luz que vinha do corpo (da assembléia). Tendo feito isto, ela retornoupara o Buda, penetrando-lhe através da sua boca. Então, os seres ce-

    lestiais e todos aqueles na assembléia, asuras e outros, ficaram muitoreceosos quando viram a luz do Buda penetrar-lhe através da sua boca.Seus cabelos arrepiaram. Disseram: “A luz do Tathagata surgiu, voltou eentrou nele. Isto não é sem razão. Isto indica que o Buda fez o que elepretendia fazer nas dez direções e, agora, entrará no Nirvana comoseu último ato. Este deve ser o que ele tenta sinalizar para nós. O mun-do está aflito, o mundo está aflito! Por que é que o Honrado peloMundo abandonou as quatro intenções ilimitadas e não aceitou os

    ofereciementos tanto de humanos como de seres celestiais? Agora aluz da Sabedoria está indo embora para sempre. Agora, o insuperávelnavio do Dharma está naufragando. Ah, que dor! O mundo está aflito!”Eles levantaram suas mãos, bateram em seus peitos, e tristementechoraram e gritaram. Seus membros tremiam, e eles não sabiam comose suportarem. O sangue jorrava de seus corpos e corria sobre o chão.”

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    32/345

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    33/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 33

    Capítulo Dois: Sobre Cunda

    A Parábola da Terra Fértil

    “Naquela ocasião, encontrava-se presente na assembléia um mongeque era filho de um artesão das fortificações da cidade de Kushinagar.Cunda era o seu nome. Ele estava lá com seus companheiros, quinze aotodo. No sentido de que o mundo gerasse bons frutos, ele abandonoutodos os adornos do corpo, levantou-se, descobriu o seu ombro direito,colocou o seu joelho direito no chão, juntou as palmas das mãos e

    olhou fixamente para o Buda. Triste e chorosamente, ele tocou os pésdo Buda com sua cabeça e disse: ‘Oh Honrado pelo Mundo! Por favor,tenha piedade, aceite nossos últimos oferecimentos e acuda inumerá-veis seres. Oh Honrado pelo Mundo! De agora em diante, não temosmais um mestre, nem pais, nem salvação, nem proteção, nenhum lugarpara tomar refúgio, e nem um lugar para onde ir; nos tornaremos po-bres e famintos. Seguindo o Tathagata, desejamos obter comida paraos dias que virão. Por favor, tenha piedade e aceite nossos humildes

    oferecimentos e, então, entre no Nirvana. Oh Honrado pelo Mundo! Écomo no caso de um Kshatriya, Brahmin, Vaishya ou Sudra que, sendopobre, viaja para um país distante. Ele trabalha no campo e ganha umavaca amestrada. A terra é boa, plana e extensa. Não há pobreza, nemsolo arenoso, nem ervas daninhas, nem aridez e nenhuma degradação.É necessário apenas esperar a chuva dos céus. Dizemos ‘vaca amestra-da’. Isto pode ser compreendido como as sete ações do corpo e daboca; e a terra boa, plana e extensa pode ser compreendida como

    Sabedoria. Acabar com o solo pobre, ervas daninhas, aridez e degrada-ção refere-se à Ilusão, a qual devemos acabar com ela. Oh Honradopelo Mundo! Agora, temos conosco a vaca amestrada e o bom solo,temos cultivado a terra e acabado com as ervas daninhas. Agora, estouesperando apenas que a doce chuva do Dharma do Tathagata me visi-te. As quatro castas da pobreza nada mais são que o corpo carnal quepossuo. Sou pobre, pois não possuo o soberbo tesouro do Dharma.Rogo que tenha piedade e elimine a nossa pobreza, miséria, e livre-nos,

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    34/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 34

    bem como a inumeráveis seres, das nossas tristezas e preocupações.Os oferecimentos que faço são insignificantes. Mas, penso que elessatisfarão ao Tathagata e à Sangha. Agora, não tenho mais mestre,

    nem pais, e nem refúgio. Por favor, tenha piedade de nós, assim comoteve de Rahula’.”

    Oferecimentos de Alimentos

    Então, o Honrado pelo Mundo, o todo Iluminado, o Mestre Insuperá-vel, disse a Cunda: “Isto é bom, bom de fato! Eu agora arrancarei asraízes da sua pobreza e farei cair sobre o seu campo da vida carnal ainsuperável chuva do Dharma, e evocarei o broto do Dharma. Seu de-sejo agora é obter de mim a vida, o corpo, o poder, a paz, e a fala semimpedimentos (eloqüência). E eu darei a você a imortalidade, o corpo,o poder, a paz, e a fala sem impedimentos. Por quê? Oh Cunda! Nosoferecimentos de alimentos há dois frutos que sabemos não ter distin-ção. Quais são os dois? Primeiramente, atinge-se o ‘anuttarasamyak-

    sambodhi’ quando se os recebe; em segundo lugar, entra-se no Nirva-na após recebê-los. Eu agora receberei vossos últimos oferecimentos evos permitirei completar o danaparamita.”

    Nisto, Cunda disse ao Buda: “Você diz que não há diferença entre osfrutos daqueles oferecimentos. Mas, isto não é assim. Por que não?Porque na primeira instância de recebimento de dana [a doação porcaridade], ainda não se acabou com a ilusão e ele ainda não atingiu o

    pleno conhecimento. E ele ainda não pode fazer com que os seres des-frutem do danaparamita. Quanto a esta segunda e última instância dorecebimento, a ilusão já se acabou e ele atingiu o pleno conhecimento,podendo levar todos os seres a serem abençoados igualmente com odanaparamita. Aquele que recebe os oferecimentos em primeira ins-tância ainda é um ser comum, mas o último (em segunda instância) éum ser celestial. Alguém que receba dana em primeira instância é a-quele com: 1) um corpo alimentado por vários tipos de comida, 2) um

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    35/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 35

    corpo de ilusão, 3) um corpo onde ainda há remanescências (comoresultado) da ilusão, e 4) um corpo não-eterno. Uma pessoa que rece-ba dana em segunda instância possui: 1) o corpo da desilusão, 2) o

    Corpo Adamantino (incorruptível), 3) o Corpo do Dharma, 4) o corpoeterno, e 5) o corpo incomensurável. Como pode alguém dizer que osresultados (os frutos) do dana recebido nas duas instâncias são unos enão diferentes? A pessoa que recebe dana em primeira instância éalguém ainda não realizado desde o danaparamita até o prajnaparami-ta. Ele possui apenas os olhos físicos (com os quais nasceu), mas não oolho Búdico, e nem o olho da Sabedoria. O caso da pessoa que recebedana na segunda instância é aquele de alguém realizado desde o dana-

    paramita até o prajnaparamita, e também desde o olho físico até oolho da Sabedoria. Como podemos dizer que os resultados dos doisdanas são os mesmos e que não há diferença? Oh Honrado pelo Mun-do! No caso da primeira instância, aquele que recebe dana toma refei-ções que vão para o seu abdômen e lá são digeridas, ele ganha a vida, ocorpo carnal, poder, desenvoltura e a fala sem impedimentos. No se-gundo caso, a pessoa não come, nem digere, e não resulta nas cincocoisas (citadas acima). Como podemos dizer que os resultados dos dois

    danas são o mesmo e não diferentes?

    O Buda disse: “Oh bom homem! O Tathagata, desde inumeráveis, in-comensuráveis asamkhyas de kalpas atrás, já não tinha o corpo alimen-tado por comida e ilusão, e nem tinha o corpo onde houvesse rema-nescência (como resultado) da ilusão. Ele é o Eterno, o Corpo doDharma, e o Corpo Adamantino. Oh Bom homem! Aquele que aindanão viu a ‘Budeidade’ é chamado corpo-de-ilusão, o corpo alimentadopor vários tipos de comida, e o corpo onde ainda há remanescênciascomo resultado da ilusão. O Bodhisattva, como ele participa da comida[que lhe é oferecida antes da Iluminação], adentra o Samadhi Adaman-tino. Quando aquela comida é digerida, ele vê a ‘Budeidade’ e atinge oinsuperável Bodhi (Iluminação). Este é o porque digo que os resultadosdos dois danas são iguais e que eles não são diferentes. O Bodhisattva,

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    36/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 36

    naquele momento, subjuga os quatro Maras [ilusão, skandhas1, mortee o demônio celestial]. Então, ao entrar no Nirvana, ele subjuga osquatro Maras. Este é o porquê digo que os resultados dos dois danas

    são iguais e que eles não são diferentes. O Bodhisattva, naquela ocasi-ão, ainda não discorre fluentemente acerca dos 12 tipos de sutras Bu-distas, mas ele já é versado neles. Agora, após sua entrada no Nirvana,ele fala expansivamente deles para benefício de todos os seres. Este éo porquê digo que os resultados dos dois danas são iguais e que elesnão são diferentes. Oh bom homem! O corpo do Tathagata já não par-ticipa de comida e bebida há inumeráveis asamkhyas de kalpas. Mas,para o benefício de todos os Sravakas [Ouvintes dos ensinamentos do

    Buda], digo que tomei o mingau de leite cozido oferecido por Nanda eNandabala, as duas mulheres-pastoras, e que, em seguida, atingi oinsuperável Bodhi. Mas, na realidade, eu não o tomei. Agora, para obenefício das pessoas congregadas aqui, eu aceitarei os vossos ofere-cimentos. Mas, na realidade, não compartilharei deles.”

    Então, ouvindo que o Buda, Honrado pelo Mundo, para o benefício daspessoas congregadas lá, aceitaria os últimos oferecimentos de Cunda,

    eles sentiram-se radiantes e cheios de satisfação, e disseram em lou-vor: “Quão maravilhoso, quão maravilhoso! Isto é raro, oh Cunda! Vocêagora tem um nome; seu nome não servia para nada. Cunda significa‘compreensão dos maravilhosos significados’! Agora você estabeleceutão grande significado. Você revelou que é verdadeiro, você está emconcordância com o significado, e ganhou seu nome. Este é o porquêde você ser Cunda. Você, agora, nesta vida, ganhará um grande nome,benefícios, virtudes e votos. É raro, oh Cunda, nascer como um huma-no e alcançar o insuperável benefício que é o mais difícil de encontrar.

    1 Os Cinco Agregados que compõem um ser ou indivíduo são os seguintes: 1. A matéria(corporalidade); 2. As sensações; 3. As  percepções; 4. As formações mentais; 5. Aconsciência. Estes cinco agregados abrangem dois grupos (nama-rupa) que são: oagregado da matéria, o corpo físico (rupa), que é objetivo, e os agregados mentais(nama), que são subjetivos e se compõem das sensações, percepções, formações econsciência.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    37/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 37

    Isto é bom, oh Cunda! Você é a Udumbara, sobre a qual se diz florescersomente em muito raras ocasiões. É muito raro o aparecimento doBuda no Mundo. É também muito difícil encontrar-se com o Buda,

    obter a fé, e ouvir sermões. É mais difícil ainda conseguir fazer os ofe-recimentos finais a ele por ocasião da sua entrada no Nirvana e serbem sucedido nisto. Muito bem, muito bem, oh Cunda! Agora vocêcompletou o danaparamita. Isto é como no décimo-quinto mês dooutono, quando a lua está limpa e cheia, quando não há vestígio denuvens no céu, e todos os seres olham para cima em louvor. O mesmoé o caso com você, para quem olhamos e louvamos. O Buda agorarecebe seus últimos oferecimentos e o faz completar o danaparamita.

    Oh, muito bem, oh Cunda! Dizemos que você é como a lua cheia, paraa qual todas as pessoas olham. Muito bem, oh Cunda! Embora huma-no, a sua mente é do Buda. Oh Cunda! Você é verdadeiramente comoo filho do Buda, Rahula. Não há diferença.”

    Então, aqueles que lá estavam congregados disseram em versos:

    “Embora nascido como humano, você agora reside acima do sexto céu.

    Eu e todos os outros, portanto, o louvamos e oramos.O mais sagrado dos humanos agora entra no Nirvana. Perdoe-nos e,rapidamente,implore ao Buda para permanecer em vida ainda um longo tempo,para beneficiar inumeráveis seres,para transmitir-lhes o insuperável maná do Dharma que louva a Sabe-doria.Se você não implorar ao Buda, nossa vida não será perfeita.Em razão disto, curvamo-nos ao chão,em homenagem ao Mestre Insuperável.”

    Em razão disto, Cunda ficou cheio de alegria! Ele ficou como no caso deum humano cujos pais haviam falecido de repente, e que subitamenteretornam. Assim é como Cunda se sentia. Ele levantou-se novamente,curvou-se diante do Buda, e disse em versos:

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    38/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 38

    “Sou grato por ter conquistado minha Via;é bom que eu tenha nascido como humano.Acabei com a ganância e a ira;

    estou apartado para sempre dos três maus caminhos.Sou grato por ter ganhado benefíciose me encontrado com a bola de ouro do tesouro,que eu agora me encontre com o Mestree que não tenho medo, mesmo que venha a ganhar a vida no reinoanimal.O Buda é uma Udumbara, por assim dizer, difícil de encontrar,e difícil de ter fé.

    Uma vez que o tenhamos encontrado e praticado a Via,acabamos com as tristezas dos espíritos (pretas) famintos.Além disso, ele subjuga completamente os asuras e outros.É mais fácil balançarmos uma semente de mostarda na ponta de umaagulhado que encontrar a aparição de um Buda neste mundo.O Buda não é manchado pelos caminhos mundanos.Ele é como um lótus (nenúfar, lírio d’água, ninféia) na água. 

    Estou completamente livre das raízes do mundo seculare atravessei as águas do nascimento e da morte.

    A Erva Daninha

    É difícil nascer como humano;

    mais difícil ainda é encontrar o Buda quando ele aparece no mundo.É como no caso de uma tartaruga cega que,em meio ao oceano, consiga acertar o furo de um tronco de madeiraflutuante.Eu agora ofereço comida e rogo que alcançarei a insuperável recom-pensa,que destruirei as amarras da ilusão,e que ela (a ilusão) não será mais forte.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    39/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 39

    Não procuro aqui obter um corpo celestial.Mesmo que o tivesse ganhado, minha mente não estaria satisfeita.O Tathagata aceita este meu oferecimento.

    Nada poderia me satisfazer mais.É como no caso de uma erva daninha mal-cheirosa,mas que exala uma fragrância de madeira de sândalo.Eu sou aquela erva daninha.

    O Tathagata aceita meus oferecimentos.Isto é como a fragrância que exala de uma madeira de sândalo.Este é o porquê de estar jubiloso.

    Agora, nesta vida, estou agraciado com a mais elevada recompensa.Shakra, Brahma e todos os outros venham e façam oferecimentos paramim.

    Todos os mundos estão profundamente preocupados,uma vez que agora sabem que o Buda entrará no Nirvana.Eles clamam ruidosamente:“Agora não há mais um Mestre no mundo;

    não despreze todos os seres;veja-os como se visse a um filho único!” 

    O Sol Búdico e as Nuvens de Samsara

    O Tathagata, em meio aos Monges, fala do soberbo Dharma.

    Isto pode ser bem comparado ao Monte Sumeru,que permanece não molestado em meio ao grande oceano.A Sabedoria do Buda desfaz completamente o desalento dos humanos.

    É como quando o sol se levanta, todas as nuvens dispersam,e a sua luz resplandece sobre tudo.O Tathagata acaba completamente com todas as ilusões.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    40/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 40

    Isto (a vida mundana) é como o frescor que reinaquando as nuvens aparecem no céu.Todos os seres amam e choram.

    Todos se debatem nas águas amargas do nascimento e da morte.

    Por esta razão, rogo, Oh Honrado pelo Mundo!Permaneça vivo por mais tempo e aumente a fé de todos os seres,libertando-os do sofrimento da nascimento e da morte!” 

    O Buda disse a Cunda: “É assim, é assim! É tudo como você diz. É raroque o Buda apareça no mundo. É como no caso da Udumbara. É tam-

    bém difícil encontrar-se com o Buda e adquirir fé. Estar presente nomomento da entrada do Buda no Nirvana, para oferecer-lhe comida e,assim, realizar o danaparamita é ainda mais difícil. Oh Cunda! Não fi-que triste agora. Seja grato por ter feito os oferecimentos finais aoTathagata agora, e por ter realizado bem o danaparamita. Não indagueo Buda sobre permanecer mais tempo em vida. Você agora deve medi-tar sobre o mundo de todos os Budas. Tudo é não-eterno (imperma-nente). O mesmo ocorre com todas as coisas criadas, suas naturezas e

    características.”

    Para o benefício de Cunda, ele disse em versos:

    “Em todos os mundos,aquilo que nasce deve morrer.A vida parece longa, mas, por natureza,tem de haver um fim.Tudo o que floresce sempre desvanece;encontra, deve partir.O explendor (clímax) do ser humano não é longo;a exuberância encontra-se com a doença.A vida é devorada pela morte;nada existe eternamente.Todos os Reis são soberanos;

    ninguém pode competir (com eles).

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    41/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 41

    Ainda assim, todos devem perecer;e assim é com a vida.O sofrimento não encontra um fim;

    e sem um fim a roda gira e gira.Nenhum dos três mundos[da matéria, do espírito e do desejo] é eterno;E tudo o que existe não é feliz.O que existe possui uma natureza e características.

    Tudo é vazio.Aquilo que é destrutível vem e vai;

    Apreensões e doenças se sucedem(uma segue os passos da outra).O temor de todos os erros e más ações,velhice, doença, morte e o declínio causam preocupações.Todas as coisas não existem para sempre,e elas facilmente acabam.Os ressentimentos as atacam;todos (os ressentimentos) estão cheios de ilusão,

    como no caso do bicho-da-seda e do casulo.

    Ninguém que tenha sabedoriaencontra prazer num lugar como este.Este corpo carnal é onde o sofrimento se instala.Tudo é impuro, como tumores,carbúnculos, furúnculos e semelhantes.Nenhuma razão está por baixo.E o mesmo se aplica àqueles (seres) celestiais sentados acima.Todos os desejos não terminam.

    Assim, eu não me apego.Descartados os desejos, medite bem,atinge-se o Dharma Maravilhoso,e aquele que, definitivamente, eliminou o ‘ser’ (existência samsarica), 

    pode hoje ganhar o Nirvana.

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    42/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 42

    Eu transpassei para a outra margem do ‘ser’, e permaneço acima de todas as tristezas.Assim, eu colho este soberbo Êxtase”.

    Então, Cunda disse ao Buda: “Oh Honrado pelo Mundo! É assim, é as-sim. É tudo como você, o Sagrado, diz. A sabedoria que possuo é des-prezível e de baixo grau. Sou como um mosquito ou mosca. Como pos-so contemplar as profundezas do Nirvana do Tathagata? Oh Honradopelo Mundo! Agora sou como qualquer naga ou elefante de um Bodhi-sattva Mahasattva que cortou os vínculos da ilusão. Sou como o Dhar-marajaputra Manjushri. Oh Honrado pelo Mundo! É como alguém que

    entra para a Ordem (dos Monges) ainda muito jovem. Embora mante-nha os preceitos, aquela pessoa ainda é apenas da classe ordinária deMonges. Eu, também, sou como aquela pessoa. Devido ao poder doBuda e dos Bodhisattvas, sou agora um dos numerosos séquitos de taisgrandes Bodhisattvas. Este é o porquê de ter implorado ao Tathagatapara permanecer por mais longo tempo em vida e não entrar no Nirva-na. Isto é semelhante a um homem faminto e ferido que nada maistem para expelir. Eu somente rogo que esse será o caso com o Honra-

    do pelo Mundo, e que ele permanecerá por mais longo tempo em vidae não entrará no Nirvana.

    Então, Dharmarajaputra Manjushri disse a Cunda: “Oh Cunda! Agora,não fale dessa forma implorando ao Tathagata para permanecer pormais tempo em vida e não entrar no Parinirvana, como no caso dofaminto que nada mais tem a expelir. Isto não pode ser. Agora vocêdeveria ver a natureza e características de todas as coisas. Vendo ascoisas assim, você ganhará o Samadhi do Todo-Vazio. Se você desejaatingir o Dharma Maravilhoso, aja assim!” 

    Cunda indagou: “Oh Manjushri! O Tathagata é o Mais Sagrado e o maiselevado de todos os céus e terra. O Tathagata como tal, poderia seralguém que é criado? Se ele é alguém criado, ele não poderia ser dife-rente da existência samsarica. Espuma, por exemplo, forma-se rapida-

    mente e se desfaz rapidamente; as idas e vindas [de todas as coisas]

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    43/345

     

    Capítulo 2: Sobre Cunda Página 43

    são como o giro de uma roda. Tudo o que é criado é assim. Eu ouçoque os devas têm a vida mais longa. O Honrado pelo Mundo é o céudos céus. Como ele poderia ter uma vida tão curta a ponto de não atin-

    gir os 100 anos? O chefe da aldeia é soberano no poder, e através dissoele pode atender ao povo. Mas, quando as virtudes o abandonam, eletorna-se pobre e medíocre. Então, ele será visto de cima para baixo,será chicoteado e o farão trabalhar para os outros. Por quê? Porqueseu poder acabou. O mesmo é o caso com o Honrado pelo Mundo. Eleé como todas as coisas compostas. Se ele é igual a todas as coisas com-postas, ele não pode ser o céu dos céus. Por que não? Porque todas ascoisas são existências que devem sofrer pelo nascimento e pela morte.

    Portanto, oh Manjushri! Não coloque o Tathagata no mesmo nível detodas aquelas coisas que são compostas. E mais, oh Manjushri! Vocêpensa isto [de fato] e fala assim? Ou é algo que você conhece, e diz queo Tathagata está no mesmo nível de todas aquelas coisas compostas.Se o Tathagata está no mesmo nível de todas as coisas compostas, nãopodemos chamá-lo de céu dos céus ou de Soberano Rei do Dharma dostrês mundos. Por exemplo, um rei pode ser um homem de grandeforça. Seu poder é igual ao daquele de mil pessoas e ninguém pode

    vencê-lo. Assim, esta pessoa é chamada como aquele que possui opoder de um milhar de pessoas. Por tais qualidades ele é adorado.Assim, lhe é conferida uma distinção lisonjeira, juntamente com umfeudo. Feudos e recompensas fluem para ele abundantemente. Estapessoa é chamada como aquele cujo poder é igual ao de um milhar depessoas. Ele não é exatamente igual a mil pessoas. Mas, o que ele fazvale muito. Por essa razão dizemos que ele é igual a um milhar de pes-soas. O mesmo é o caso do Tathagata. Ele subjuga as ilusões de Mara, oMara dos cinco agregados, o Mara do (sexto) Céu, e o Mara da Morte.Este é o porquê lhe chamamos de o mais honrado dos três mundos.Isto é como no caso de um homem cujo poder se iguala ao de mil pes-soas. Dessa forma, ele é dotado de várias, incontáveis virtudes verda-deiras. Este é o porquê de lhe chamarmos Tathagata, Merecedor deOfertas e Todo Iluminado. Oh Manujushri! Você não deve presumir,imaginar e falar acerca daquilo que pertence ao mundo do Tathagata

    como sendo igual àquilo que é composto. Por exemplo, um homem

  • 8/17/2019 Sutra Do Nirvana - Tomo I

    44/345

     

    Sutra Mahayana do Mahaparinirvana Página 44

    muito rico gera um filho; e um áugure (adivinho) vaticina que essa cri-ança não irá sobreviver. Os pais ouvem isto e sabem que a criança nãoserá capaz de herdar o patrimônio da família, e olham sobre aquela

    criança como se fosse sobre a relva. Ora, uma pessoa que viveu bre-vemente não é muito respeitada por Sramanas, Brahmins, homens,mulheres e pessoas em geral, grandes ou pequenas. Se o Tathagata écolocado no mesmo nível daqueles que são compostos, ele não podeser respeitado por todo o mundo, seres humanos ou celestiais. O que oTathagata fala acerca disso é que não muda e não é diferente. Isto é overdadeiro Dharma. Não há ninguém que (o) receba. Por isso, oh Man-

     jushri! Não diga que o Tathagata é o mesmo q