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  • 8/14/2019 Tratamento Da Dor RN

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    FACULDADE METROPOLITANA DA AMAZNIA

    CURSO DE ENFERMAGEM

    TRATAMENTO DA DOR NO RECM-NASCIDO

    ADELAIDE BAIA

    JULINETE BARBOSA

    KTIA CARDIAS

    LUCLIA OLIVEIRA

    LUCIENE VERAS

    MAURICIO ESTEVES

    BELM2010

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    ADELAIDE BAIA

    JULINETE BARBOSA

    KTIA CARDIAS

    LUCLIA OLIVEIRA

    LUCIENE VERAS

    MAURCIO ESTEVES

    TRATAMENTO DA DOR NO RECM-NASCIDO

    Trabalho apresentado ao Curso de

    Enfermagem da Faculdade Metropolitana

    da Amaznia - Famaz, como requisito

    parcial e avaliao obteno de

    nota(____________) na disciplina

    Enfermagem na ateno do Recm-nascido.

    Orientadora: Prof. Patrcia Portal

    Ass.: _______________________________________________________________

    1 Exam.: Patrcia Portal Faculdade Metropolitana da Amaznia

    BELM

    2010

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    SUMRIO

    INTRODUO.................................................................................................................3

    1. Aspectos gerais anatmico e fisiolgico.............................................................5a.Componente sensrio-discriminativo............................................................................6

    b. Componente motivacional-afetivo..............................................................................6

    c. Componente cognitivo-avaliativo..................................................................................6

    2. A criana e sua famlia em situao de dor.......................................................73. Questes ticas da dor na criana....................................................................104. Respostas do recm-nascido e da criana dor..............................................125. Classificao da dor como 5 Sinal Vital.........................................................146. Avaliao e instrumentos de mensurao da dor...........................................157. Intervenes farmacolgicas: estratgias de diminuio da dor emRN...................................................................................................................................19

    8. Intervenes no farmacolgicas: Estratgias de diminuio da dor emRN...................................................................................................................................20

    CONSIDERAES FINAIS..........................................................................................22

    REFERNCIA BIBLIOGRFICA.................................................................................23

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    INTRODUO

    O estudo busca identificar como os enfermeiros de unidade neonatal

    avaliam e realizam o tratamento da dor no recm-nascido e quais as medidas

    preventivas por eles para o alvio da dor.

    Para a Associao Internacional para o Estudo da Dor/IASP-1979, a dor

    uma experincia sensitiva e emocional desagradvel, associada a uma leso tecidual

    real, potencial ou descrita nos termos dessa leso. A dor sempre subjetiva. Por seu

    carter subjetivo, essa definio denota uma forma verbal do fenmeno doloroso e

    impe a necessidade de verbalizao da experincia nociceptiva para o seu

    reconhecimento, o que no se aplica aos recm-nascidos, lactentes, crianas com

    deficincia mental, em coma ou com alteraes neurolgicas, incapazes de relato verbal

    da dor. (HOCKENBERRY, 2006).

    Os profissionais de sade reconhecem que os recm-nascidos,

    principalmente os prematuros, esto expostos a mltiplos eventos estressantes ou

    dolorosos, incluindo excesso de luz, rudos fortes e muitas manipulaes. O que resultaem desorganizao fisiolgica e comportamental. Contudo, medidas para o alvio da dor

    no so freqentemente empregadas1.

    Para que os profissionais de sade de neonatologia possam atuar

    terapeuticamente diante de situaes possivelmente dolorosas necessrio dispor de

    instrumentos que decodifiquem a linguagem da dor1.

    Os procedimentos de alvio da dor aumentam a homeostase e estabilidade

    do RN e so essenciais para o cuidado e suporte aos neonatos imaturos, a fim desobreviverem ao estresse. Quanto s intervenes para o alvio da dor em neonatos,

    existe um conjunto de procedimentos farmacolgicos e no-farmacolgicos. Entre os

    procedimentos no farmacolgicos, podemos citar: suco no nutritiva, mudanas de

    decbito, suporte postural, diminuio de estimulaes tteis, aleitamento materno

    precoce, glicose oral antes e aps aplicao de um estmulo doloroso. Tais

    procedimentos tm sido utilizados para o manejo da dor durante procedimentos

    dolorosos para facilitar a organizao e auto-regulao dos neonatos pr-termo1.

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    No entanto sabemos que, ainda h muitas discusses e controvrsias sobre o

    mtodo mais eficaz para o alvio da dor. De maneira geral, os profissionais de sade

    expressam dificuldades em diagnosticar e lidar com a dor no recm-nascido devido

    falhas nos conhecimentos bsicos sobre a experincia dolorosa nos recm-nascidos.

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    1. Aspectos gerais anatmico e fisiolgico

    Para compreender as bases anatmicas e neurofisiolgicas da dor e suascaractersticas, fundamental entender o sistema nervoso.

    As experincias dolorosas resultam de um conjunto de eventos que

    envolvem o sistema nervoso que dividido em sistema nervoso central e o sistema

    nervoso perifrico.

    O Sistema Nervoso Central dividido em duas partes principais: o encfalo e a

    medula espinhal. O encfalo contm as clulas nervosas, chamadas de neurnios e asglias. A coluna vertebral protege a medula espinhal. Assim, a medula espinhal bem

    mais curta que a coluna vertebral3.

    O Sistema Nervoso Perifrico dividido em trs partes principais: sistema nervoso

    somtico constitudo de fibras nervosas perifricas que mandam informaes para o

    Sistema Nervoso Central, alm de fibras motoras, que tm movimento voluntrio, e do

    sistema nervoso autonmico, que se divide em 3 partes: sistema simptico, o sistema

    parassimptico e o sistema nervoso entrico3.

    Nonascimento, as conexes entre as clulas nervosas so imaturas e, alm

    disso, o crebro, que recebe e transmite as mensagens pelos nervos, no est

    desenvolvido por completo. O sistema nervoso amadurece gradualmente e a criana vai

    aprendendo a controlar uma ampla variedade de habilidades, inclusive andar e falar3.

    As alteraes fisiolgicas que ocorrem com a criana dependem das

    caractersticas da dor: intensidade, durao, contexto no qual a dor surge, idade, sexo,desenvolvimento cognitivo, histrico, cultural, estrutura psicolgica, fatores

    emocionais, entre outros. Assim, as experincias dolorosas so determinadas pelas

    interaes entre esses fatores, e as modificaes neuroqumicas e neurofisiolgicas

    ocorrem nos nveis do sistema nervoso central e perifrico3.

    Porm, vale lembrar que aimaturidade neurofisiolgica e cognitiva faz com

    que haja diferenas significativas no processamento da dor de acordo com a faixa etria

    da criana3.

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    Por exemplo, j se sabe que o feto apresenta reaes motoras,

    neurovegetativas, hormonais e metablicas ante a um estmulo doloroso, rnas existe a

    necessidade cada vez maior de se conhecer sobre os efeitos a longo prazo da dor na vida

    da criana3.

    Tais aspectos so fundamentais para compreendermos os mecanismos

    envolvidos na dor. E como ocorre o processamento central da dor?

    O processamento central da dor consiste de trs componentes:

    a. Componente sensrio-discriminativo, caracterizado pelo estmulo doloroso em

    termos de intensidade, localizao e durao. Inicia-se com um estmulo nocivo oupotencialmente nocivo, por exemplo estmulo trmico, qumico, mecnico, liberando

    substncias capazes de ativar receptores (nociceptores), presentes nas terminaes

    nervosas de fibras sensitivas, que transmitem essas informaes aao corno posterior da

    medula espinhal3.

    b. Componente motivacional-afetivo associado a atributos comportamentais

    complexos, de respostas emocionais, como a ansiedade e depresso3.

    c. Componente cognitivo-avaliativo que relaciona a experincia dolorosa com o seu

    contexto ambiental, social, cultural e que compara com experincias anteriores

    semelhantes3.

    Esses trs componentes interagem entre si e projetam-se sobre as reas do sistema

    nervoso central responsvel pela resposta dor.

    Para que o processamento da dor possa ocorrer, existem quatro mecanismos que

    devemos conhecer:

    Transduo: refere-se transformao de estmulos nocivos, reconhecidos pelos

    nociceptores em potenciais de ao3.

    Transmisso: a conduo do estmulo doloroso pelas vias sensitivas do sistema

    nervoso central. Vale salientar que existem trs tipos de fibras sensitivas capazes de

    transmitir as sensaes dolorosas: as fibras de transmisso lenta, chamadas de fibras C

    no mielinizadas e as de transmisso rpida: fibras A-deltae fibras grossas A-beta.

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    Essas fibras sensitivas surgem ao redor da boca do feto na stima semana de gestao e

    no segundo semestre de gestao inervam toda a regio distal dos ps. As clulas das

    fibras A de largo dimetro nascem primeiro e formam os plexos cutneos da pele das

    fibras C, que nascem logo em seguida3.

    Figura 1 Mecanismo de estimulo dor

    A estimulao qumica produzida por essas substncias transformada em

    estimulao eitrica (chamada de transduo) o que permite a sua conduo atravs das

    fibras A-delta e C at a medula e desta, atravs dos feixes medulares, at as diversasestruturas cerebrais, sendo finalmente o estmulo inicial percepcionado pelo crtex

    como dor3.

    Modulao: refere-se aos mecanismos de amplificao ou inibio das

    informaes dolorosas realizadas por meio de substncias neuroqumicas das quais

    se destacam as taquicininas (substancia P), os opiides endgenos (endorfina e

    encefalina) e os sistemas adrenrgico e serotoninrgico. Essas substncias so

    responsveis pela transmisso, ampliao, atenuao ou inibio da nocicepo3.

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    Munidos desses conhecimentos, os profissionais de enfermagem precisam

    compreender todos esses mecanismos para tratar a dor RN, que nos dias de hoje, ainda,

    subtratada.

    Lembrando que a percepo da dor pelo corpo chamada de nocicepo,

    uma completa srie de eventos eletroqumicos que ocorrem entre o local da leso

    tecidual e a percepo da dor. Entretanto, a percepo dolorosa no est diretamente

    relacionada com a natureza e extenso da leso tecidual.

    2. A criana e sua famlia em situao de dor

    Sabemos quanto importante a famlia receber apoio dos profissionais de

    enfermagem frente situao de dor e de estresse. Os pas/familiares facilmente

    apresentam-se deprimidos, exaustos, e abandonados em situaes em que a criana

    necessita ir ao hospital, apresenta doena grave, ou ainda submetida a vrios

    procedimentos dolorosos.

    Por isso, para ajudar os familiares a enfrentarem a experincia de ter seufilho em situao de dor e estresse preciso compreender o que significa Famlia, pois

    ela tem sido definida de vrias maneiras.

    De fato, no existe uma definio universal de famlia. Uma famlia o que

    a pessoa considera ser. Alm disso, ela um sistema interpessoal, formado por pessoas

    que interagem por vrios motivos, como afetividade e reproduo, num processo

    histrico de vida, mesmo sem habitar o mesmo espao fsico (ELSEN, 1994).

    No Brasil, os estudos de Elsen (1989), identificam trs tipos de abordagem

    na assistncia criana hospitalizada:

    centrada na patologia da criana;

    centrada na criana;

    centrada na criana e sua famlia.

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    Quando falamos na abordagem a criana centrada na patologia, ofoco da

    assistncia a doena da criana. Tem como objetivo recuperar a sade por meio de

    medidas teraputicas e o papel da famlia de passividade.

    Na segunda abordagem, a assistncia centrada na criana tem como foco a

    criana em determinado estgio de desenvolvimento: doente e afastada do seu ambiente.

    Nessa abordagem os objetivos da assistncia so: recuperar a sade e minimizar as

    repercusses psicolgicas provenientes da hospitalizao; atender s necessidades de

    crescimento, desenvolvimento, condies clnicas da criana; incentivar a participao

    da criana e famlia nos cuidados. O papel da famlia o de colaborador na assistncia

    planejada ou de ser o informante.

    Finalmente, na abordagem centrada na criana e sua famlia o foco da

    assistncia a criana em determinado estgio de desenvolvimento, doente e membro

    de uma famlia, inserida em um determinado ambiente ecolgico, socioeconmico e

    cultural e sua famlia. Os objetivos da assistncia so: recuperar a sade da criana,

    promovendo condies para evitar intercorrncias hospitalares; incentivar a integridade

    da famlia e sua participao nos cuidados; fortalecer a famlia como unidade bsica de

    assistncia, visando promoo da sade e preveno de doenas; promover a

    reintegrao da criana na famlia e na comunidade; estimular a famlia a utilizar seus

    prprios recursos e os da comunidade; estender as aes de sade ern nvel de

    comunidade; atender a criana e considerar os problemas, interesses, potencialidades e

    expectativas de toda a famlia no cuidado sade. Nesse momento, o papel da famlia

    central, ativo. Compartilha do planejamento, da execuo e da avaliao da assistncia

    planejada.

    Nesse sentido, os profissionais de sade baseiam seus cuidados nos pontos

    fortes e singulares de cada famlia, reconhecendo sua habilidade no cuidado ao seu filho

    no mbito domiciliar, hospitalar e da comunidade, apoiando-os na tomada de deciso.

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    3. Questes ticas da dor na criana

    As questes ticas da dor da criana foram enfatizadas no tema propostopara o Dia Mundial de Luta a Dor na Criana em 2005: O alvio da dor deve ser um

    direito humano.

    Nessa perspectiva, percebemos que os princpios ticos/bioticos para o

    recm-nascido e a criana, no tratamento de doenas e na internao prolongada, no

    devem ser diferentes daqueles utilizados para jovens e adultos3.

    Sabemos que o interesse no controle da dor emergiu somente na ltimadcada. Mas, apesar do conhecimento terico sobre as medidas para aliviar a dor da

    criana, os profissionais de sade ainda no utilizam todo esse conhecimento em sua

    prtica profissional3.

    Possveis razes para essa disparidade incluem atitudes individuais e sociais

    para a dor, a complexidade da avaliao da dor em crianas, e o inadequado treinamento

    e capacitao dos profissionais de sade3.

    De fato, o princpio fundamental da responsabilidade de cuidados mdicos e

    de enfermagem primeiramente, no causar dano. Os danos ocorrem quando a

    quantidade de dor ou sofrimento maior do que o necessrio para alcanar o benefcio

    pretendido3.

    Diante disso, percebemos o desafio tico dos cuidados ao recm-nascido e

    crianas em situao de dor e estresse. Se atualmente existem medidas para aliviar e

    controlar a dor, por que no a utilizamos sistematicamente?

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    Figura 2

    Num estudo recente sobre a epidemiologia da dor em neonatos, Carbajal

    (2008), fez a observao direta no leito de recm-nascidos, por 24 horas, durante os

    primeiros 14 dias aps a internao, em 13 das 14 instituies de cuidados neonatal e

    peditrico, de Paris. Os bebs foram submetidos a um total de 60.969 procedimentos de

    primeira tentativa e 11.546 em repetidas tentativas, das quais 69,6% foram classificadas

    como dolorosa e 30,4% como estressante pelos profissionais de sade.

    O estudo mostrou que entre os 430 recm-nascidos, 211 receberam sedao

    contnua ou infuso de analgsico, enquanto em ventilao mecnica. Cada neonato

    vivenciou em mdia 115 procedimentos (variao de 4-613) durante o perodo de estudo

    e 16 (variao, 0-62) por dia de internao. Dos 413 procedimentos dolorosos, 2,1%

    foram realizados com terapia farmacolgica; 18,2% com intervenes no

    farmacolgicas, 0,4% com ambos os tipos de terapia, 79,2% sem analgesia especfica e

    34,2% foram realizados enquanto o neonato estava recebendo analgsicos ou infuses

    com anestsico por outras razes.

    Nesse estudo, os profissionais se mostravam mais susceptveis utilizao

    especfica de analgesia em bebs prematuros, para cirurgias e alguns outros

    procedimentos, quando os pais estavam presentes, durante o dia e aps o primeiro dia

    de internao.

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    4. Respostas do recm-nascido dor

    Nesse contexto, a equipe de enfermagem deve conhecer os diferentesaspectos do desenvolvimento da criana e suas reaes a situaes estressantes e

    dolorosas, e quais medidas devem ser utilizadas para minimizar a dor e o estresse.

    Partindo dessa idia, podemos destacar que as respostas do recm-nascido e

    da criana dor ocorrem de acordo com as caractersticas das etapas do seu

    desenvolvimento e fatores contextuais.

    O recm-nascido (RN - 0 a 28 dias de vida), no capaz de referir a dor pormeio de relatos verbais prprios, e sim por meio de respostas fisiolgicas e

    comportamentais3.

    Com isso, destacamos que o RN pode apresentar diferentes alteraes como

    respostas fisiolgicas da dor: frequncia cardaca, frequncia respiratria, presso

    arterial, saturao de oxignio, tnus vagal, sudorese palmar, liberao macia de

    hormnios que levam mobilizao de substratos e catabolismo (adrenalia,

    noradrenalina, corticoesterides, aldosterona, glucacon, cortisol), pupilas dilatadas,

    aumento da presso intracraniana, hiperglicemia e elevao do pH3.

    As respostas comportamentais de dor no recm-nascido so: a expresso

    facial, os movimentos corporais, o choro, o choramingo e o grito. A expresso

    facial um parmetro efetivo e confivel na avaliao de dor do RN e fornece

    informaes sobre o estresse e desconforto durante um procedimento doloroso3.

    Dessa forma, o padro de sono e viglia alterado e a resposta corporalgeneralizada envolvem rigidez ou agitao, com reflexo local de afastamento da rea

    estimulada3.

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    Figura 3

    Na expresso facial podemos observar caractersticas indicativas de dor:

    orientao dos olhos e boca, franzimento das sobrancelhas, tremor do queixo e olhos

    bem fechados, sobrancelhas arqueadas e prximas; testa franzida entre as sobrancelhas

    com sulcos verticais, olhos fechados apertadamente, bochechas elevadas, nariz

    alargado e franzido, prega nasolabial deprimida, boca aberta e quadrada3.

    Os movimentos corporais podem sofrer influncia, dependendo do grau de

    imobilizao do recm-nascido, e so mais influenciados pelo efeito de doenas e

    drogas no sistema nervoso central. Podemos observar ainda movimentos do corpo e

    posio no RN e crianas, tais como: dualidade, quantidade ou falta de movimentos,

    afastamento dos membros, batimentos dos braos, rigidez, flacidez, punho cerrado3.

    O choro na avaliao de dor tem sido bastante questionado por ser pouco

    sensvel e especfico. Vrios recm-nascidos no choram durante um procedimento

    doloroso. Na terapia intensiva, por estarem entubados, alguns apenas emitem um grito

    ou choramingo. O choro pode ser causado pela fome, fraldas molhadas, falta de carinho

    e ateno, entre outros motivos3.

    No entanto, existe uma tendncia relativamente difundida e sistemtica para

    subestimar a dor a partir das experincias dos outros. Medidas fisiolgicas devem ser

    reconhecidas como reflexo de reaes de estresse durante a dor aguda.

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    5. Classificao da dor como 5 Sinal Vital

    Nesse contexto, a ateno dos profissionais de enfermagem e dos

    profissionais de sade que atuam os servios hospitalares ou daqueles que atuam nas

    escolas deve voltar-se para o perodo de tempo da queixa de dor e de sua evoluo.

    Devemos saber como diferenci-las nas crianas menores de dois anos - que no falam e

    necessitam da observao dos cuidadores, pais e dos profissionais -, das crianas acima

    de dois anos que podem autorrelatar sua dor3.

    Existem muitas maneiras de classificar e avaliar a dor que podem

    decorrer: do tipo, intensidade, localizao, qualidade (formigamento, ardor, queimao),

    frequncia e durao, natureza (orgnica ou psicognica) e etiologia3.

    De acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (2008),

    apresentamosos trs tipos de dor, considerando a durao da sua manifestao.

    Dor aguda: decorre de sintomas e funciona biologicamente como alerta

    para o organismo. Manifesta-se transitoriamente durante um perodo relativamente

    curto, de minutos a algumas semanas, e est associada a leses em tecidos ou rgos;

    ocasionadas por inflamao, infeco, traumatismo ou outras causas.

    Normalmente, a dor aguda desaparece quando a causa corretamente

    diagnosticada e quando o tratamento recomendado pelo especialista seguido

    corretamente pela criana/pais. Tendo como exemplo: os traumas (quedas), as

    infeces, os procedimentos cirrgicos, procedimentos mdicos e de enfermagem, tais

    como: entubao traqueal, puno de medula, aspirao nasal e traqueal, puno decalcneo, remoo de adesivos/esparadrapos, insero do tubo gstrico, venopuno

    sucessiva, aplicao de injees.

    Portanto, a dor aguda apresenta caractersticas bem descritas pela criana,

    famlia ou cuidador, dada proximidade do evento.

    Dor crnica: decorre de processos patolgicos crnicos nas estruturas

    somticas ou de disfuno prolongada do sistema nervoso central. A cronicidade

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    transforma o sintoma 'dor' em doena. Tem durao prolongada, pode se estender de

    vrios meses a anos e est quase sempre associada a um processo de doena crnica.

    A dor crnica tambm pode ser consequncia de uma leso j previamentetratada. Para alguns autores, a dor crnica aquela com durao superior a trs meses

    (alguns consideram esse limite como 6 meses), ou que ultrapassa o perodo usual de

    recuperao esperado para sua causa desencadeante. A dor crnica pode evoluir de

    modo persistente ou recorrente. Exemplos: dor ocasionada pela artrite reumatide

    (inflamao das articulaes), dor da criana com cncer, dor causada pela anemia

    falciforme, fibromalgia e outras.

    A dor crnica pode ser de difcil avaliao devido durao mais

    prolongada, diferente da dor aguda, que se caracteriza por ser mais pontual. De fato, a

    dor aguda diferente da dor crnica ou recorrente. Muitas vezes, a histria cronolgica

    de dor pouco esclarecida e, por vezes, incompleta.

    Dor recorrente: ocorre em episdios de curta durao, mas tem uma

    caracterstica crnica, porque se repete ao longo de muito tempo, s vezes, durante

    quase uma vida, e no est associada a uma etiologia especfica, tal como ocorre na doraguda ou crnica. Considera-se dor recorrente quando ocorrem pelo menos trs

    episdios em um perodo mnimo de trs meses, com intensidade suficiente para

    interferir nas atividades habituais da criana.

    6. Avaliao e instrumentos de mensurao da dor

    Constatada a subjetividade que envolve o tema estudado e a necessidade da

    instituio de modelos para avaliar a presena da dor, foram desenvolvidas varias

    escalas para sua avaliao. Dentre elas, as mais esudadas so:Neonatal Facial Coding

    Scale ( NFCS Escala de codificao de atividade facial neonatal), Neonatal Infant

    Pain Scale (NIPS - Escala de avaliao de dor neonatal), Premature Infant Pain Profile

    (PIPP Perfil de Dor do Prematuro), e o crying, requires O2 for saturation above 90%,

    increased vital signs, expression, and sleeplessness(CRIES Escore para a Avaliao

    da Dor Ps-operatrio do Recm-nascido)9,10.

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    Quadro 1 - NFCS Escala de codificao de atividade facial neonatal9.

    A NFCS uma escala unidimensional, amplamente utilizada em pesquisas,

    aceita vlida para avaliao da dor aguda.

    Quadro 2 NIPS - Escala de avaliao de dor neonatal: (composta por cinco indicadores de dor

    comportamentais e um fisiolgico)11.

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    A NIPS avalia os parmetros antes e ps procedimentos invasivos em

    neonatos a termo e prematuros. Alm disso, permite avaliar a resposta do beb aos

    procedimentos potencialmente dolorosos. Ns pacientes que esto em ventilao

    mecnica, dobra-se a pontuao da mmica facial, sem avaliar o parmetro choro

    (paciente intubado)12.

    Vale lembrar e destacar que os indicadores fisiolgicos de dor incluem

    alteraes na frequncia cardaca, frequncia respiratria, presso arterial, saturao de

    oxignio, tnus vagal, sudorese palmar, concentraes plasmticas de cortisol e

    catecolaminas.

    Portanto, a equipe de enfermagem deve saber um pouco mais sobre os

    estados neuro-comportamentais do RN e as etapas de desenvolvimento da criana para a

    utilizao de instrumentos de avaliao da dor.

    Quadro 3 PIPP - Perfil de Dor do Prematuro

    A PIPP a escala mais indicada para ser aplicada em prematuros, pois leva

    em considerao as alteraes prprias desse grupo de pacientes. Define-se comoausente 0 a 9% do tempo de observao com a alterao comportamental pesquisada;

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    mnimo 10 a 39 do tempo; moderado 40 a 69% do tempo e mximo como mais

    de 70% do tempo de observao com a alterao facial em questo12.

    Um estudo prospectivo realizado por Suraseranivongse e colaboradores,com o objetivo de comparar a aplicabilidade prtica e a validade de escalas para

    avaliao da dor no recm-nascido no perodo ps-operatrio, concluiu que, embora a

    CRIES seja vlida, a NIPS de mais fcil aplicao e requer menos recursos sendo,

    portanto, a escala recomenda pelos autores13.

    Quadro 4 Escore para a Avaliao da Dor Ps-operatrio do Recm-nascido

    Segundo a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Peditrica

    Canadense, os fatores produtores da dor no RN, so os procedimentos estressantes asatividades diagnosticas, teraputicas e cirrgicas realizadas por mdicos, enfermeiros e

    equipe de enfermagem, podendo apresentar maior ou menor complexidade.

    Registramos ainda que os recm-nascidos e as crianas hospitalizadas

    sofrem rotineiramente procedimentos invasivos, considerados dolorosos e estressantes.

    No se esquea que os recm-nascidos experienciam procedimentos

    dolorosos e estressantes ainda na maternidade, tais como: injeo intramuscular paraadministrao de Vitamina K e vacina contra Hepatite B, puno de calcneo para

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    glicemia ou triagem neonatal. Portanto, o recm-nascido prematuro ou a criana doente

    pode enfrentar dor repetitiva ou prolongada, resultante de muitos procedimentos,

    diagnsticos teraputicos e cirrgicos.

    7. Intervenes farmacolgicas: estratgias de diminuio da dor em RN.

    Inicialmente, ressaltamos que o enfermeiro e a equipe de enfermagem so

    os profissionais responsveis pela administrao de medicamentos, principalmente pela

    via intravenosa e necessitam, portanto, de conhecimentos provenientes de diversas reas(anatomia, fisiologia, fsica, bioqumica, farmacologia, engenharia de equipamentos

    hospitalares).

    Alm desses, inclumos os conhecimentos fisiolgicos da criana que

    mudam, significativamente, das primeiras semanas de nascimento at o primeiro ano de

    vida.

    Diante disso, as categorias de medicamentos utilizados para o alvio da dorso3:

    Anestsicos locais (lidocana e o creme anestsico tpico lidocana e

    prilocana a 5%/EMLA).

    Analgsicos no opiides (paracetamol) ou drogas no esterides anti-

    inflamatrias (DAINES) que proporcionam alvio da dor leve a moderada;

    Analgsicos opiides que proporcionam alvio de dores moderadas eintensas (morfina, fentanila, metadona, meperidina);

    Sedativos ou hipnticos que reduzem a ansiedade e provocam sono.

    Analgesia: Agentes farmacolgicos que aliviam a percepo da dor sem produo

    intencional de um estado sedativo. A alterao do estado mental pode ser um efeito

    secundrio das medicaes administradas com esse propsito3.

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    Sedativos: so agentes farmacolgicos que diminuem a atividade, ansiedade e a

    agitao do paciente, podendo levar a amnsia de eventos dolorosos ou no dolorosos,

    porm no reduzem a dor. Indicados, geralmente, quando houver necessidade de

    acalmar, diminuir a movimentao espontnea e induzir o sono3.

    Lembramos que cada instituio possui um protocolo de analgesia e

    sedao. Ele utilizado geralmente, por neonatologistas, pediatras e anestesiologistas

    nos casos de procedimentos mdicos e cirrgicos. Esses protocolos auxiliam no

    atendimento criana, para que ela seja medicada nas prximas 24 horas, evitando

    medicamentos desnecessrios.

    8. Intervenes no farmacolgicas: estratgias de diminuio da dor em RN.Os tipos de abordagem no farmacolgica da dor neonatal incluem:

    Medidas Fsicas, Cognitivas maternas e ambientais.

    - Diminuio da luminosidade local

    - Calor local

    Figura 4

    - Colocar no beb-conforto, com vibrao

    - Banho de imerso

    - Mtodo canguru

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    Figura 5

    - Suco no nutritiva (chupeta ou dedo enluvado)

    - Oferecer colo (prprio ou materno)

    Para a parte fsica:

    Posicionamento

    - Oferecer conforto

    - Mudana de decbito

    - Massagem local

    Figura 6

    - Toque teraputico

    O falar com o recm-nascido

    musicoterapia

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    CONSIDERAES FINAIS

    Apesar de todas as medidas que vem sendo empregadas, o manejo da dor

    nos recm-nascidos deve ser uma preocupao constante dos profissionais de sade que

    atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, em especial da equipe de

    enfermagem que presta cuidados diretos a todo momento.

    Neste sentido, acreditamos ser essencial que esses profissionais sejam

    sensibilizados a formao multidisciplinar e contnuada e capacitados a fim de reduzir a

    dor nos neonatos no s por meio de estratgias comportamentais e ambientais, mas quesejam estimulados a prestar uma assistncia completa, humana e de qualidade nas UTIs

    neonatais. E sugerimos uma maior utilizao dos mtodos no-farmacolgicos para o

    manejo da dor, pelos enfermeiros a fim de promover uma assistncia humanizada ao

    cuidado neonatal. Por isso, a importncia de cursos para atualizao constante.

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