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Mantra Yoga Pedro Kupfer Módulo 1 . Como Praticar? 7. Invocação da Felicidade || Svastipāṭha Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ | nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ | gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam | lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu || kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī | deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ || Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ || Olá. Namaste. Bem-vindo, bem-vinda! Nosso tema de hoje é a atitude adequada para praticar os mantras, mas que também vale e se estende para todas as demais técnicas de Yoga. Se tivéssemos que resumir esse tema em uma pergunta, ela seria: “Como praticar?” Assim, nosso objetivo é mostrar para você a maneira de tirar o maior proveito dos mantras. Com as noções sobre fonética adquiridas na aula anterior perdemos o medo e estamos melhor preparados para pronunciar corretamente os mantras. Por isso, e avancando mais um pouco nessa arte, hoje iremos praticar o Svasti Pāṭha, que você acabou de escutar. Esse mantra tem duas estrofes e é o mais extenso que vimos até aqui. Possui algumas características que veremos daqui a pouco, na prática. O Svasti Pāṭha é uma bela invocação de felicidade, que estabelece a intenção de trabalharmos juntos por um mundo mais justo. Na quinta aula, e nas anteriores a ela, vimos a relação entre sons sagrados e símbolos. Agora, para nos aprofundar nesse tema e aproveitar melhor as próximas práticas, gostaria de convidar você para refletir sobre uma afirmação que o grande estudioso Mircea Eliade fez sobre os mantras: “Um mantra é um símbolo no sentido arcaico do termo: é ao mesmo tempo a realidade simbolizada e o signo que simboliza. Existe uma correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças latentes ou manifestas no cosmos.” Mircea Eliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 161. Nessa forma de olhar para a Criação, que se chama bandhu, ou visão das correspondências,

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Mantra YogaPedro KupferMódulo 1 . Como Praticar? 7. Invocação da Felicidade || Svastipāṭha

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ | nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |

gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam | lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||

kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī | deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Olá. Namaste. Bem-vindo, bem-vinda! Nosso tema de hoje é a atitude adequada para praticar os mantras, mas que também vale e se estende para todas as demais técnicas de Yoga. Se tivéssemos que resumir esse tema em uma pergunta, ela seria: “Como praticar?” Assim, nosso objetivo é mostrar para você a maneira de tirar o maior proveito dos mantras.

Com as noções sobre fonética adquiridas na aula anterior perdemos o medo e estamos melhor preparados para pronunciar corretamente os mantras. Por isso, e avancando mais um pouco nessa arte, hoje iremos praticar o Svasti Pāṭha, que você acabou de escutar. Esse mantra tem duas estrofes e é o mais extenso que vimos até aqui. Possui algumas características que veremos daqui a pouco, na prática.

O Svasti Pāṭha é uma bela invocação de felicidade, que estabelece a intenção de trabalharmos juntos por um mundo mais justo.

Na quinta aula, e nas anteriores a ela, vimos a relação entre sons sagrados e símbolos. Agora, para nos aprofundar nesse tema e aproveitar melhor as próximas práticas, gostaria de convidar você para refletir sobre uma afirmação que o grande estudioso Mircea Eliade fez sobre os mantras:

“Um mantra é um símbolo no sentido arcaico do termo: é ao mesmo tempo a realidade simbolizada e o signo que simboliza. Existe uma correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças latentes ou manifestas no cosmos.” Mircea Eliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 161.

Nessa forma de olhar para a Criação, que se chama bandhu, ou visão das correspondências,

percebemos que tudo no Universo está intimamente ligado. Intrinsecamente presente em cada manifestação percebemos a presença invariável de Īśvara, a Inteligência Criativa.

Nesse sentido, a importância dos mantras é que eles sao como como “portais” que interconectam todas as dimensões da existência, que nos ajudam a perceber essa interconexão, compreendê-la e entrar em harmonia com ela.

Assim, se quisermos permanecer conscientes dessa interconexão, pode ser útil compreender a maneira em que os mantras funcionam e trabalhar ainda sobre a atitude correta para fazê-los.

Assim, devemos lembrar que se a prática for feita sem colocar a consciência no mantra, este não irá muito além do movimento mecânico das cordas vocais, com efeito quase inócuo, além de deixar a mente um pouco mais calma.

Os mantras não podem ser aprendidos apenas lendo livros ou ouvindo pessoas verbalizando-os. É preciso que haja um contexto adequado e conduzente para o aprendizado, a fim de evitar erros de pronúncia ou execução e, principalmente, para que possamos entender o que eles revelam e cultivar a atitude correta ao fazê-los.

Estabelecer uma relação entre a forma e o significado, como disse Eliade na citação que fizemos agora há pouco, é essencial. Nesse sentido, um antigo texto da tradição do Yoga chamado Rudrayamālā, afirma que:

Os mantras feitos sem a correspondente ideação são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas. Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.

Ou seja, um mantra que se faça sem consciência, técnica correta, respiração e atitude adequadas dará tanto resultado para a sua meditação como a repetição da palavra sapato ou qualquer outra. É por isso que o Kūlarnava Tantra (XV:55) diz que será tão útil como “a água de um jarro quebrado.” Este mesmo texto nos recomenda ainda o seguinte:

Durante o japa devem evitar-se a inércia, a aflição, a atividade desnecessária, a imaginação desvairada... Fique em paz, seja higiênico e frugal com a comida, durma no chão (i.e., num colchão duro), cultive uma atitude de confiança e entrega, comandando a mente, livre das dualidades, com a mente estável, silencioso e com disciplina e então, faça japa. Kūlarnava Tantra, XI:19.

A palavra japa, que é mencionada aqui no texto, designa a repetição de um mantra para efeitos de meditação. Assim, os mantras evocam e despertam em nós a motivação para conhecer e encarnar essas forças para as quais os sons apontam.

Através deles podemos desenvolver nosso potencial real. Quanto mais em sintonia com a intenção de cada mantra, mais eficiente e transformadora será a experiência de meditar sobre eles.

***

Agora, para colocar na prática o que vimos até aqui, convido você para fazermos o Svasti Pāṭha, a Invocação da Felicidade. Como habitualmente, ouvimos primeiro a tradução e o mantra inteiro uma vez. Logo, ouvimos e repetimos verso por verso três vezes. Depois disso fazemos juntos o mantra, do início ao fim, mais três vezes.

Certifique-se de que você está numa posição confortável, mantendo as costas eretas, os olhos relaxadamente fechados e a respiração longa, profunda e consciente.

Oṁ. Que a prosperidade e o bem-estar sejam glorificados. Que os governantes nos governem com retidão e justiça.

Que a sabedoria e o conhecimento sejam protegidos. Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que as chuvas cheguem no momento adequado; que a terra seja fértil; que o país esteja em paz;

que os sabios estejam seguros.

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ |

nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam |

lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī |

deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Então, sem pressa, vamos encerrar aqui a nossa prática. Volte a observar o corpo e suas sensações, externalize devagar a atenção tomando consciência do lugar onde você está agora. Perceba a maneira em que o mantra e seu significado ecoam ainda em seu coração. No nosso próximo encontro faremos a meditação sobre a Plenitude que somos. Acho que você vai gostar. Tenha um ótimo dia. Até breve! Namaste!

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Mantra YogaPedro KupferMódulo 1 . Como Praticar? 7. Invocação da Felicidade || Svastipāṭha

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ | nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |

gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam | lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||

kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī | deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Olá. Namaste. Bem-vindo, bem-vinda! Nosso tema de hoje é a atitude adequada para praticar os mantras, mas que também vale e se estende para todas as demais técnicas de Yoga. Se tivéssemos que resumir esse tema em uma pergunta, ela seria: “Como praticar?” Assim, nosso objetivo é mostrar para você a maneira de tirar o maior proveito dos mantras.

Com as noções sobre fonética adquiridas na aula anterior perdemos o medo e estamos melhor preparados para pronunciar corretamente os mantras. Por isso, e avancando mais um pouco nessa arte, hoje iremos praticar o Svasti Pāṭha, que você acabou de escutar. Esse mantra tem duas estrofes e é o mais extenso que vimos até aqui. Possui algumas características que veremos daqui a pouco, na prática.

O Svasti Pāṭha é uma bela invocação de felicidade, que estabelece a intenção de trabalharmos juntos por um mundo mais justo.

Na quinta aula, e nas anteriores a ela, vimos a relação entre sons sagrados e símbolos. Agora, para nos aprofundar nesse tema e aproveitar melhor as próximas práticas, gostaria de convidar você para refletir sobre uma afirmação que o grande estudioso Mircea Eliade fez sobre os mantras:

“Um mantra é um símbolo no sentido arcaico do termo: é ao mesmo tempo a realidade simbolizada e o signo que simboliza. Existe uma correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças latentes ou manifestas no cosmos.” Mircea Eliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 161.

Nessa forma de olhar para a Criação, que se chama bandhu, ou visão das correspondências,

percebemos que tudo no Universo está intimamente ligado. Intrinsecamente presente em cada manifestação percebemos a presença invariável de Īśvara, a Inteligência Criativa.

Nesse sentido, a importância dos mantras é que eles sao como como “portais” que interconectam todas as dimensões da existência, que nos ajudam a perceber essa interconexão, compreendê-la e entrar em harmonia com ela.

Assim, se quisermos permanecer conscientes dessa interconexão, pode ser útil compreender a maneira em que os mantras funcionam e trabalhar ainda sobre a atitude correta para fazê-los.

Assim, devemos lembrar que se a prática for feita sem colocar a consciência no mantra, este não irá muito além do movimento mecânico das cordas vocais, com efeito quase inócuo, além de deixar a mente um pouco mais calma.

Os mantras não podem ser aprendidos apenas lendo livros ou ouvindo pessoas verbalizando-os. É preciso que haja um contexto adequado e conduzente para o aprendizado, a fim de evitar erros de pronúncia ou execução e, principalmente, para que possamos entender o que eles revelam e cultivar a atitude correta ao fazê-los.

Estabelecer uma relação entre a forma e o significado, como disse Eliade na citação que fizemos agora há pouco, é essencial. Nesse sentido, um antigo texto da tradição do Yoga chamado Rudrayamālā, afirma que:

Os mantras feitos sem a correspondente ideação são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas. Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.

Ou seja, um mantra que se faça sem consciência, técnica correta, respiração e atitude adequadas dará tanto resultado para a sua meditação como a repetição da palavra sapato ou qualquer outra. É por isso que o Kūlarnava Tantra (XV:55) diz que será tão útil como “a água de um jarro quebrado.” Este mesmo texto nos recomenda ainda o seguinte:

Durante o japa devem evitar-se a inércia, a aflição, a atividade desnecessária, a imaginação desvairada... Fique em paz, seja higiênico e frugal com a comida, durma no chão (i.e., num colchão duro), cultive uma atitude de confiança e entrega, comandando a mente, livre das dualidades, com a mente estável, silencioso e com disciplina e então, faça japa. Kūlarnava Tantra, XI:19.

A palavra japa, que é mencionada aqui no texto, designa a repetição de um mantra para efeitos de meditação. Assim, os mantras evocam e despertam em nós a motivação para conhecer e encarnar essas forças para as quais os sons apontam.

Através deles podemos desenvolver nosso potencial real. Quanto mais em sintonia com a intenção de cada mantra, mais eficiente e transformadora será a experiência de meditar sobre eles.

***

Agora, para colocar na prática o que vimos até aqui, convido você para fazermos o Svasti Pāṭha, a Invocação da Felicidade. Como habitualmente, ouvimos primeiro a tradução e o mantra inteiro uma vez. Logo, ouvimos e repetimos verso por verso três vezes. Depois disso fazemos juntos o mantra, do início ao fim, mais três vezes.

Certifique-se de que você está numa posição confortável, mantendo as costas eretas, os olhos relaxadamente fechados e a respiração longa, profunda e consciente.

Oṁ. Que a prosperidade e o bem-estar sejam glorificados. Que os governantes nos governem com retidão e justiça.

Que a sabedoria e o conhecimento sejam protegidos. Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que as chuvas cheguem no momento adequado; que a terra seja fértil; que o país esteja em paz;

que os sabios estejam seguros.

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ |

nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam |

lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī |

deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Então, sem pressa, vamos encerrar aqui a nossa prática. Volte a observar o corpo e suas sensações, externalize devagar a atenção tomando consciência do lugar onde você está agora. Perceba a maneira em que o mantra e seu significado ecoam ainda em seu coração. No nosso próximo encontro faremos a meditação sobre a Plenitude que somos. Acho que você vai gostar. Tenha um ótimo dia. Até breve! Namaste!

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Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ | nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |

gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam | lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||

kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī | deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Olá. Namaste. Bem-vindo, bem-vinda! Nosso tema de hoje é a atitude adequada para praticar os mantras, mas que também vale e se estende para todas as demais técnicas de Yoga. Se tivéssemos que resumir esse tema em uma pergunta, ela seria: “Como praticar?” Assim, nosso objetivo é mostrar para você a maneira de tirar o maior proveito dos mantras.

Com as noções sobre fonética adquiridas na aula anterior perdemos o medo e estamos melhor preparados para pronunciar corretamente os mantras. Por isso, e avancando mais um pouco nessa arte, hoje iremos praticar o Svasti Pāṭha, que você acabou de escutar. Esse mantra tem duas estrofes e é o mais extenso que vimos até aqui. Possui algumas características que veremos daqui a pouco, na prática.

O Svasti Pāṭha é uma bela invocação de felicidade, que estabelece a intenção de trabalharmos juntos por um mundo mais justo.

Na quinta aula, e nas anteriores a ela, vimos a relação entre sons sagrados e símbolos. Agora, para nos aprofundar nesse tema e aproveitar melhor as próximas práticas, gostaria de convidar você para refletir sobre uma afirmação que o grande estudioso Mircea Eliade fez sobre os mantras:

“Um mantra é um símbolo no sentido arcaico do termo: é ao mesmo tempo a realidade simbolizada e o signo que simboliza. Existe uma correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças latentes ou manifestas no cosmos.” Mircea Eliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 161.

Nessa forma de olhar para a Criação, que se chama bandhu, ou visão das correspondências,

percebemos que tudo no Universo está intimamente ligado. Intrinsecamente presente em cada manifestação percebemos a presença invariável de Īśvara, a Inteligência Criativa.

Nesse sentido, a importância dos mantras é que eles sao como como “portais” que interconectam todas as dimensões da existência, que nos ajudam a perceber essa interconexão, compreendê-la e entrar em harmonia com ela.

Assim, se quisermos permanecer conscientes dessa interconexão, pode ser útil compreender a maneira em que os mantras funcionam e trabalhar ainda sobre a atitude correta para fazê-los.

Assim, devemos lembrar que se a prática for feita sem colocar a consciência no mantra, este não irá muito além do movimento mecânico das cordas vocais, com efeito quase inócuo, além de deixar a mente um pouco mais calma.

Os mantras não podem ser aprendidos apenas lendo livros ou ouvindo pessoas verbalizando-os. É preciso que haja um contexto adequado e conduzente para o aprendizado, a fim de evitar erros de pronúncia ou execução e, principalmente, para que possamos entender o que eles revelam e cultivar a atitude correta ao fazê-los.

Estabelecer uma relação entre a forma e o significado, como disse Eliade na citação que fizemos agora há pouco, é essencial. Nesse sentido, um antigo texto da tradição do Yoga chamado Rudrayamālā, afirma que:

Os mantras feitos sem a correspondente ideação são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas. Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.

Ou seja, um mantra que se faça sem consciência, técnica correta, respiração e atitude adequadas dará tanto resultado para a sua meditação como a repetição da palavra sapato ou qualquer outra. É por isso que o Kūlarnava Tantra (XV:55) diz que será tão útil como “a água de um jarro quebrado.” Este mesmo texto nos recomenda ainda o seguinte:

Mantra YogaPedro KupferMódulo 1 . Como Praticar? 7. Invocação da Felicidade || Svastipāṭha

Durante o japa devem evitar-se a inércia, a aflição, a atividade desnecessária, a imaginação desvairada... Fique em paz, seja higiênico e frugal com a comida, durma no chão (i.e., num colchão duro), cultive uma atitude de confiança e entrega, comandando a mente, livre das dualidades, com a mente estável, silencioso e com disciplina e então, faça japa. Kūlarnava Tantra, XI:19.

A palavra japa, que é mencionada aqui no texto, designa a repetição de um mantra para efeitos de meditação. Assim, os mantras evocam e despertam em nós a motivação para conhecer e encarnar essas forças para as quais os sons apontam.

Através deles podemos desenvolver nosso potencial real. Quanto mais em sintonia com a intenção de cada mantra, mais eficiente e transformadora será a experiência de meditar sobre eles.

***

Agora, para colocar na prática o que vimos até aqui, convido você para fazermos o Svasti Pāṭha, a Invocação da Felicidade. Como habitualmente, ouvimos primeiro a tradução e o mantra inteiro uma vez. Logo, ouvimos e repetimos verso por verso três vezes. Depois disso fazemos juntos o mantra, do início ao fim, mais três vezes.

Certifique-se de que você está numa posição confortável, mantendo as costas eretas, os olhos relaxadamente fechados e a respiração longa, profunda e consciente.

Oṁ. Que a prosperidade e o bem-estar sejam glorificados. Que os governantes nos governem com retidão e justiça.

Que a sabedoria e o conhecimento sejam protegidos. Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que as chuvas cheguem no momento adequado; que a terra seja fértil; que o país esteja em paz;

que os sabios estejam seguros.

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ |

nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam |

lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī |

deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Então, sem pressa, vamos encerrar aqui a nossa prática. Volte a observar o corpo e suas sensações, externalize devagar a atenção tomando consciência do lugar onde você está agora. Perceba a maneira em que o mantra e seu significado ecoam ainda em seu coração. No nosso próximo encontro faremos a meditação sobre a Plenitude que somos. Acho que você vai gostar. Tenha um ótimo dia. Até breve! Namaste!

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Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ | nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |

gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam | lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||

kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī | deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Olá. Namaste. Bem-vindo, bem-vinda! Nosso tema de hoje é a atitude adequada para praticar os mantras, mas que também vale e se estende para todas as demais técnicas de Yoga. Se tivéssemos que resumir esse tema em uma pergunta, ela seria: “Como praticar?” Assim, nosso objetivo é mostrar para você a maneira de tirar o maior proveito dos mantras.

Com as noções sobre fonética adquiridas na aula anterior perdemos o medo e estamos melhor preparados para pronunciar corretamente os mantras. Por isso, e avancando mais um pouco nessa arte, hoje iremos praticar o Svasti Pāṭha, que você acabou de escutar. Esse mantra tem duas estrofes e é o mais extenso que vimos até aqui. Possui algumas características que veremos daqui a pouco, na prática.

O Svasti Pāṭha é uma bela invocação de felicidade, que estabelece a intenção de trabalharmos juntos por um mundo mais justo.

Na quinta aula, e nas anteriores a ela, vimos a relação entre sons sagrados e símbolos. Agora, para nos aprofundar nesse tema e aproveitar melhor as próximas práticas, gostaria de convidar você para refletir sobre uma afirmação que o grande estudioso Mircea Eliade fez sobre os mantras:

“Um mantra é um símbolo no sentido arcaico do termo: é ao mesmo tempo a realidade simbolizada e o signo que simboliza. Existe uma correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças latentes ou manifestas no cosmos.” Mircea Eliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 161.

Nessa forma de olhar para a Criação, que se chama bandhu, ou visão das correspondências,

percebemos que tudo no Universo está intimamente ligado. Intrinsecamente presente em cada manifestação percebemos a presença invariável de Īśvara, a Inteligência Criativa.

Nesse sentido, a importância dos mantras é que eles sao como como “portais” que interconectam todas as dimensões da existência, que nos ajudam a perceber essa interconexão, compreendê-la e entrar em harmonia com ela.

Assim, se quisermos permanecer conscientes dessa interconexão, pode ser útil compreender a maneira em que os mantras funcionam e trabalhar ainda sobre a atitude correta para fazê-los.

Assim, devemos lembrar que se a prática for feita sem colocar a consciência no mantra, este não irá muito além do movimento mecânico das cordas vocais, com efeito quase inócuo, além de deixar a mente um pouco mais calma.

Os mantras não podem ser aprendidos apenas lendo livros ou ouvindo pessoas verbalizando-os. É preciso que haja um contexto adequado e conduzente para o aprendizado, a fim de evitar erros de pronúncia ou execução e, principalmente, para que possamos entender o que eles revelam e cultivar a atitude correta ao fazê-los.

Estabelecer uma relação entre a forma e o significado, como disse Eliade na citação que fizemos agora há pouco, é essencial. Nesse sentido, um antigo texto da tradição do Yoga chamado Rudrayamālā, afirma que:

Os mantras feitos sem a correspondente ideação são apenas um par de letras mecanicamente pronunciadas. Não produzirão nenhum fruto, mesmo se repetidas um bilhão de vezes.

Ou seja, um mantra que se faça sem consciência, técnica correta, respiração e atitude adequadas dará tanto resultado para a sua meditação como a repetição da palavra sapato ou qualquer outra. É por isso que o Kūlarnava Tantra (XV:55) diz que será tão útil como “a água de um jarro quebrado.” Este mesmo texto nos recomenda ainda o seguinte:

Durante o japa devem evitar-se a inércia, a aflição, a atividade desnecessária, a imaginação desvairada... Fique em paz, seja higiênico e frugal com a comida, durma no chão (i.e., num colchão duro), cultive uma atitude de confiança e entrega, comandando a mente, livre das dualidades, com a mente estável, silencioso e com disciplina e então, faça japa. Kūlarnava Tantra, XI:19.

A palavra japa, que é mencionada aqui no texto, designa a repetição de um mantra para efeitos de meditação. Assim, os mantras evocam e despertam em nós a motivação para conhecer e encarnar essas forças para as quais os sons apontam.

Através deles podemos desenvolver nosso potencial real. Quanto mais em sintonia com a intenção de cada mantra, mais eficiente e transformadora será a experiência de meditar sobre eles.

***

Agora, para colocar na prática o que vimos até aqui, convido você para fazermos o Svasti Pāṭha, a Invocação da Felicidade. Como habitualmente, ouvimos primeiro a tradução e o mantra inteiro uma vez. Logo, ouvimos e repetimos verso por verso três vezes. Depois disso fazemos juntos o mantra, do início ao fim, mais três vezes.

Certifique-se de que você está numa posição confortável, mantendo as costas eretas, os olhos relaxadamente fechados e a respiração longa, profunda e consciente.

Oṁ. Que a prosperidade e o bem-estar sejam glorificados. Que os governantes nos governem com retidão e justiça.

Que a sabedoria e o conhecimento sejam protegidos. Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes.

Que as chuvas cheguem no momento adequado; que a terra seja fértil; que o país esteja em paz;

que os sabios estejam seguros.

Oṁ svasti prajābhyaḥ paripālayantāṁ |

Mantra YogaPedro KupferMódulo 1 . Como Praticar? 7. Invocação da Felicidade || Svastipāṭha

nyāyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ |gobrāhmaṇebhyaḥ śubhamastu nityam |

lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu ||kāle varśatu parjanyaḥ | pṛthivī sasyaśālinī |

deśo'yaṅkṣobharahitaḥ | brāhmaṇāssantu nirbhayāḥ ||Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ || Hariḥ Oṁ ||

Então, sem pressa, vamos encerrar aqui a nossa prática. Volte a observar o corpo e suas sensações, externalize devagar a atenção tomando consciência do lugar onde você está agora. Perceba a maneira em que o mantra e seu significado ecoam ainda em seu coração. No nosso próximo encontro faremos a meditação sobre a Plenitude que somos. Acho que você vai gostar. Tenha um ótimo dia. Até breve! Namaste!